16/02/2011




A escrita leve de Sepúlveda flui no contexto histórico do Chile, entre o humor e a reflexão mais séria de alguns representantes de uma geração, que lutou por um ideal, conheceu o exílio e vive da memória traída. Recomendo.



«Nunca confies na memória porque está sempre do nosso lado: suaviza a atrocidade, dulcifica a amargura, põe luz onde só houve sombras. A memória tende sempre à ficção.»

A Sombra do que Fomos, de Luis Sepúlveda

13/02/2011

Estas coisas de astros...

A ciência é o suporte para a maioria do conhecimento e o meu cepticismo perante explicações rebuscadas de espiritualismos talvez até me impeça de conhecer outras explicações, mas quanto à astrologia tenho as minhas crenças! É que lendo isto, há passagens que são um autêntico espelho!

http://www.fototelas.com.pt/signo_de_caranguejo.htm

09/02/2011

Assombrada? Não!


Sou o fantasma de um rei
Que sem cessar percorre
As salas de um palácio abandonado...
Minha história não sei...
Longe em mim, fumo de eu pensá-la, morre
A ideia de que tive algum passado...

Eu não sei o que sou.
Não sei se sou o sonho
Que alguém do outro mundo esteja tendo...
Creio talvez que estou
Sendo um perfil casual de rei tristonho
Numa história que um deus está relendo...

Fernando Pessoa


Ao meu filho, pela palavra que me deste!



Não vivo assombrada por fantasmas. Assombram-me os presentes, que se movem num pântano de emoções e sensações, toldadas de descrença, de pessimismo, de desesperança, de dúvidas, de hesitações; que se lamentam eternamente pelo que foram ou viveram e escolhem continuar a deslizar na mesmice da rotina, sem um rasgo de mudança, num hábito de si próprios sem saberem o que realmente são sem os outros. Como se a sua vida dependesse de um milagre suspenso que vai acontecer a qualquer momento adiado. Que escolhem ter algo, alguém ou alguma coisa para que tudo faça sentido, um álibi para o seu crime de desperdiçar tempo e justificar a sua (in)existência no presente.
Esquecem o valor do casual, do imprevisto, do espontâneo, do momento e encolhem-se na vastidão de uma marcha cadenciada de ritmos alucinantes para não pensarem e saborearem a vida. Acordam sem sorrir e fechados ao desconhecido e ao improvável, esperando apenas que chegue de novo a noite e possam dormir, com uma insónia pelo meio, para no dia seguinte repetirem o sagrado quotidiano que os automatiza.
Quando a vida, subitamente os confronta com uma verdadeira e real tragédia que os faz tremer de verdade, há os que lamentam a oportunidade perdida e não poderem voltar atrás para fazer o que evitaram, desanimam e não vêem motivos para lutar, já que foi sempre assim; e há os que olham para trás e pensam que, afinal, até tiveram uma boa vida cheia de bons e maus momentos, e que, por isso mesmo, vale a pena lutar sempre e agarram-se à vida num combate com a natureza por vezes desigual.
Há quem espere ser feliz e há quem seja feliz por não ter esperado e ter feito as coisas acontecerem. Há quem viva conformado com o inconformismo e há quem, sempre inconformista, se sinta sereno por saber que, essa dádiva que é a vida, é um bem precioso de valor incalculável.
Há quem alimente um ideal esperando… Há quem alimente um ideal e o concretize em cada pequeno gesto, numa simples palavra, num sorriso…
Não somos todos iguais, mas cada um de nós pode desenvolver um esforço, por menor que seja, para modificar o dia-a-dia dos outros (acredito eu, apesar de, paradoxalmente, ter os meus momentos de descrença).

Irene Ermida


o que me faz olhar em frente e avançar, não é fugir do passado, mas antes torná-lo ainda mais passado e para que o presente o seja também um dia, sem a amargura de não o ter vivido!

Irene Ermida

08/02/2011

pois...

na teoria é fácil...


"Algumas pessoas desconfiam do carácter instintivo das emoções e reprimem-nas porque receiam sofrer ou mesmo perder o controlo das suas vidas, mas tentar viver à margem das nossas emoções é uma falácia: não só nos limita, como as emoções reprimidas passam ao inconsciente e são muito mais inconsoláveis nessa parte da nossa mente"

http://www.jn.pt/VivaMais/interior.aspx?content_id=1775906&page=-1

Paradoxo(s) 3

não escrevi uma letra de canção numa tarde que tardava ao fim do dia como se a noite saltasse e me afagasse numa névoa tão nítida que as estrelas suavizavam a escuridão que me prendia

não escrevi uma letra de canção que falava de amor nem de paixão mas só desse horizonte que me perpassa a cada segundo sem tempo contado nem retido na minha mão

não escrevi uma letra de canção mas podia tê-la escrito se a mão soltasse ao vento pétalas de mim e de ti sem escravidão de existir entre muros erigidos entre nós

Irene Ermida

Paradoxo(s) 2

fechei a porta que se abria sobre um mar deslizante e suave e voltei a fechá-la não a sete chaves mas a um número potenciado ao infinito para que dúvidas não restassem sobre a viagem no tempo

fechei a porta que se fechava e abria num vendaval de sombras dançando à volta da fogueira e mais não havia senão fantasmas criados e alimentados por um diabólico monstro incansável

fechei a porta mas ela abriu-se de um sopro matinal que acordava precocemente de um sono feito leito onde me aconchegava até ao limite de quem sou

Irene Ermida

Paradoxo(s) 1


acontece por vezes as memórias deixarem de ser o que pensávamos terem sido porque ela própria nos atraiçoa e inventa o deserto e o oásis que se alternam nas mágoas e alegrias que supomos querer na vida

acontece por vezes ficarmos presos no limbo do que queríamos e não tivemos e do que tivemos e não queríamos afinal ter tido porque as lembranças do gosto, do cheiro e do toque alimenta a hora

acontece não ter acontecido e querer tanto que sonhamos um passado em vez do presente que pintamos as recordações de tons coloridos para não enfrentarmos o medo de sermos hoje


Irene Ermida

03/02/2011

Frontalidade amena

Convicta, em tempos que já lá vão, comentei com um amigo: «Tenho um defeito: sou frontal». Ao que ele me respondeu, de modo igualmente convicto: «Isso é defeito?!» 

Nunca mais pensei nisso... até agora. A pergunta exclamativa e retórica do meu amigo ficou no ar, simplesmente, e continuei a ser o que me exige a natureza ser. Quis o tempo, e o que ele me tem ensinado, que essa frontalidade «frontal» fosse amenizando o radicalismo com que sempre assumi esse meu «defeito» incómodo para muita gente. Não que tenha deixado de o ser, mas porque a tolerância e a serenidade foram tomando em mim um lugar mais valorizado.

Ser razoável, mas ao mesmo tempo directa e sem subterfúgios, tem sido a balança onde tenho o meu centro de apoio. 

Vem isto a propósito de, por vezes, mesmo sendo frontal e assumindo pensamentos, emoções, sentimentos e estados de alma, torna-se difícil passar uma mensagem. Ou seja, posso dizer «quero isto ou não quero aquilo» que a interpretação pode ser sempre deturpada e verem nas minhas palavras apenas uma mera necessidade de afirmação gratuita!

Ninguém está a entender nada, pois não? Eu explico:

Quando escrevo no meu blogue «palavras» e as associo numa determinada sequência ou atribuo-lhes um objecto, isso (e digo-o frontalmente!) não quer dizer absolutamente nada!!! A minha frontalidade não passa, nem passará nunca, pelo recurso a meios indirectos. Quando digo nos olhos de alguém o que penso ou sinto, é porque penso e sinto exactamente assim! 

Quando brinco com palavras, num mero exercício técnico, faço-o pela necessidade de canalizar para o exterior «as palavras» e não os sentimentos! Sei que não é fácil ver esta equação de um prisma unilateral e quem lê, acredita que lê os meus estados de alma e não apenas palavras. Não posso obrigar ninguém a ver apenas o que está ali, à frente dos olhos: palavras! Mas também ninguém pode responsabilizar-me pelas interpretações que decidem atribuir aos meus textos.

O acto de criação está num patamar muito mais sublime do que a realidade do dia-a-dia. Ou seja, a realidade é real! A realidade das palavras é irreal. São as duas faces da mesma moeda! Pode uma pessoa não amar e escrever sobre o amor? Só respondo por mim: posso! Porque quando se ama, não se perde tempo a escrever palavras, vive-se intensamente o sentimento! 

E se querem ler nas entrelinhas do que escrevo, é fácil: há fases de maior ou menor actividade de publicações! São livres de pensar o que quiserem; eu sou livre de amar, de escrever e de dizer. (E por fim até substituí as reticências pelo ponto final para não dar azo a livres pensamentos, cuja responsabilidade não é minha.)

Permaneça-se na vida com a frontalidade necessária ao confronto connosco próprios!

Irene Ermida