03/02/2011

Frontalidade amena

Convicta, em tempos que já lá vão, comentei com um amigo: «Tenho um defeito: sou frontal». Ao que ele me respondeu, de modo igualmente convicto: «Isso é defeito?!» 

Nunca mais pensei nisso... até agora. A pergunta exclamativa e retórica do meu amigo ficou no ar, simplesmente, e continuei a ser o que me exige a natureza ser. Quis o tempo, e o que ele me tem ensinado, que essa frontalidade «frontal» fosse amenizando o radicalismo com que sempre assumi esse meu «defeito» incómodo para muita gente. Não que tenha deixado de o ser, mas porque a tolerância e a serenidade foram tomando em mim um lugar mais valorizado.

Ser razoável, mas ao mesmo tempo directa e sem subterfúgios, tem sido a balança onde tenho o meu centro de apoio. 

Vem isto a propósito de, por vezes, mesmo sendo frontal e assumindo pensamentos, emoções, sentimentos e estados de alma, torna-se difícil passar uma mensagem. Ou seja, posso dizer «quero isto ou não quero aquilo» que a interpretação pode ser sempre deturpada e verem nas minhas palavras apenas uma mera necessidade de afirmação gratuita!

Ninguém está a entender nada, pois não? Eu explico:

Quando escrevo no meu blogue «palavras» e as associo numa determinada sequência ou atribuo-lhes um objecto, isso (e digo-o frontalmente!) não quer dizer absolutamente nada!!! A minha frontalidade não passa, nem passará nunca, pelo recurso a meios indirectos. Quando digo nos olhos de alguém o que penso ou sinto, é porque penso e sinto exactamente assim! 

Quando brinco com palavras, num mero exercício técnico, faço-o pela necessidade de canalizar para o exterior «as palavras» e não os sentimentos! Sei que não é fácil ver esta equação de um prisma unilateral e quem lê, acredita que lê os meus estados de alma e não apenas palavras. Não posso obrigar ninguém a ver apenas o que está ali, à frente dos olhos: palavras! Mas também ninguém pode responsabilizar-me pelas interpretações que decidem atribuir aos meus textos.

O acto de criação está num patamar muito mais sublime do que a realidade do dia-a-dia. Ou seja, a realidade é real! A realidade das palavras é irreal. São as duas faces da mesma moeda! Pode uma pessoa não amar e escrever sobre o amor? Só respondo por mim: posso! Porque quando se ama, não se perde tempo a escrever palavras, vive-se intensamente o sentimento! 

E se querem ler nas entrelinhas do que escrevo, é fácil: há fases de maior ou menor actividade de publicações! São livres de pensar o que quiserem; eu sou livre de amar, de escrever e de dizer. (E por fim até substituí as reticências pelo ponto final para não dar azo a livres pensamentos, cuja responsabilidade não é minha.)

Permaneça-se na vida com a frontalidade necessária ao confronto connosco próprios!

Irene Ermida

1 comentário:

Anónimo disse...

O blog é um diário, mas não completamente, tem zonas de exclusão, assuntos íntimos como a fé e a família, ou triviais como a saúde e o dinheiro, ou deontologicamente melindrosos como o trabalho e os amigos, é um registo cheio de rasuras e lacunas, assim não ando nu pelas ruas e evito que as pessoas me virem a cara. Isto é um diário, mas não é um diário.

Um texto de Pedro Mexia. Beijinhos e bom fim de semana