02/11/2012

Escrever



Se eu pudesse havia de... de...
transformar as palavras em clava!
havia de escrever rijamente.
Cada palavra seca, irressonante!
Sem música, como um gesto,
uma pancada brusca e sóbria.
Para quê,
mas para quê todo o artifício
da composição sintáctica e métrica,
este arredondado linguístico?
Gostava de atirar palavras.
Rápidas, secas e bárbaras: pedradas!
Sentidos próprios em tudo.
Amo? Amo ou não amo!
Vejo, admiro, desejo?
Ou não... ou sim.
E, como isto, continuando...
 E gostava,
para as infinitamente delicadas coisas do espírito
(quais? mas quais?)
em oposição com a braveza
do jogo da pedrada,
da pontaria às coisas certas e negadas,
gostava...
de escrever com um fio de água!
um fio que nada traçasse...
fino e sem cor... medroso...
Ó infinitamente delicadas coisas do espírito...
Amor que se não tem,
desejo dispersivo,
sofrimento indefinido,
ideia incontornada,
apreços, gostos fugitivos...
Ai, o fio da água,
o próprio fio da água poderia
sobre vós passar, transparentemente...
ou seguir-vos, humilde e tranquilo?

Irene Lisboa

3 comentários:

Nilson Barcelli disse...

A tua poesia é soberba e este poema não foge à regra, pois é excelente.
Fazer poesia é mesmo "o artifício da composição sintáctica e métrica, este arredondado linguístico".
Irene, querida amiga, tem um bom fim de semana.
Beijo.

Irene Ermida disse...

Obrigada Nilson mas este poema é de uma Irene, mas não eu. :)
bom fim de semana

Nilson Barcelli disse...

Desculpa, nem reparei.
;)
Beijo.