30/10/2007

Andei em mudanças

Há fases
de distracção
de reflexão
de tédio
de euforia
de falta de tempo
de excesso de trabalho
de desmotivação
de insatisfação
de compensação
de alegria
de amor

por tudo isso, ou por, mais ou menos do que isso,
tenho andado distraída com este blogue
havia toques de rotina, de «sempre igual»

lia os comentários interessantes
mas uma inércia impedia-me de responder
peço desculpa

até que

decidi mudar a aparência
o que me deu algum trabalho sem dúvida
mas gosto
agora gosto do que vejo
assim um cinzento que ofusca
e que projecta as palavras cintilantes

a fotografia...é a calçada da estação do caminho-de-ferro do Pinhão
onde fui passear com o meu mais-que-tudo
num lindo dia de sol...

e sobre tudo e ou nada se escreve
assim sem regras nem sintaxe...

28/10/2007

Intervalo(s) 3

recolho-me no abrigo de espectros
invisíveis a desejos de carrascos
que esbatem sombras de aves
loucas de voos agrestes e desabridos

apago-me em teorias de probabilidades
que arrastam hipóteses alienadas
de conceitos e de funções
por cima das ondas que entoam melopeias
que me aconchegam o olhar

Intervalo(s) 2

incorro em blasfémias e ironias
porque de mim não quero ser
apenas pintura figurativa

cometo delitos puros de intenções
e desenho identidades triangulares
limitadas por circunferências presumíveis
que arredondam formas sequazes
de corpos esbeltos

23/10/2007

Intervalo(s) 1

atento nos sinais ténues da mudança:
flutua uma nuvem que abraça o mar
e mergulha na profundidade de transparências
indomáveis e revolvidas

habito território bravio
e altero pigmentos na superfície espessa
de textura insurgente e suave

irradio brilhos e contrastes
em projectos de matizes oníricas
que me acordam tranquila

22/10/2007

«Crianças Invisíveis»


"Crianças Invisíveis" (2005)é uma colectânea de sete curta-metragens realizadas por cineastas de diferentes nacionalidades, que narram histórias sobre as condições de
vida das crianças que habitam na região de onde são originários, expondo uma realidade cruel e desumana que faz delas uns heróis.
Impressionou-me a força de viver, a capacidade de sobrevivência e a coragem de enfrentar os obstáculos. Fez-me pensar nas preocupações ridículas que atormentam as nossas tão vulgares existências. Perto destas crianças somos meros transeuntes da vida!


Mehdi Charef, conta a história de Tanza, um rapaz de 12 anos que se alista num exército de lutadores pela liberdade.

Emir Kusturica, escolhe para título do seu segmento Blue Gypsy, que conta a comovente história de um jovem cigano.

Spike Lee apresenta Jesus Children of America, que retrata a luta de uma adolescente de Brooklyn que descobre ser a filha seropositiva de um casal de toxicodependentes.

Katia Lund, em Bilu e João, retrata um dia na vida de duas crianças que não se resignam às adversidades, nas ruas de São Paulo.

Jordan e Ridley Scott co-realizam Jonathan, que descreve a vida de um repórter fotográfico, que regressa à infância para escapar ao sofrimento pessoal.

Stefano Veneruso em Ciro leva-nos aos bairros pobres de Nápoles para assistirmos à história de um jovem a viver entre o crime e as brincadeiras próprias da sua idade.

Com John Woo viajamos até à China com Song Song e Little Cat, e descobrimos a vida de duas crianças - uma órfã pobre e uma jovem rica, mas perturbada.

14/10/2007

«A Terra antes do Céu»

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Assisti, sexta-feira, no pequeno auditório do Teatro de Vila Real à ante-estreia do filme de João Botelho.

Um Torga cheio de música, de olhares diversos, de palavras, de silêncios, de forças ocultas da terra e de imagens filtradas pelos sentidos individuais...
Um filme de autor que penetrou no universo torguiano de forma singular mas poderosa.
Muito mais haveria a dizer sobre o que vi mas, perante obra de arte de tal dimensão, recolho-me a um silêncio feito de admiração.
Advertência: incompatível com ambientes "pipoqueiros", como, aliás, o próprio realizador referiu.



Distância(s) 3

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percorro a carta topográfica de sorrisos
envoltos em acidentes geográficos
que determinam o perímetro da inconsciência
e revelam audazes distâncias e ângulos
de um sentir saudade sem tamanho
sem fio de prumo credível
sustento olhares indiscretos de razões verticais
sem nível estável
espalho-me numa horizontalidade de solvências
e recordo infâncias alheias como se de mim
fossem outros a quebrar silêncios


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08/10/2007

Distância(s) 2

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parto sem quadrantes, nem astrolábios, nem balestilhas
sem coordenadas geográficas irrompo
por entre jardins de tulipas roxas
e esquivo-me para refúgios gerados em ventres férteis e frondosos
reduzidos a escalas celestes e universais
descanso na rosa-dos-ventos que aponta a direcção
para infinitos afluentes de qualquer lugar
sem patamares e sem razões



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Distância(s) 1


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Concebo um mapa de distâncias ausentes
entre penumbras e luzes que se aconchegam
no rosto de versatilidades dormentes
em segmentos de metáforas sincopadas
traço longitudes melancólicas entre pontos imaginários
estabeleço um meridiano perpendicular a pólos
sem norte sem sul
esboço um equador de intersecções abstractas
e de hemisférios inseparáveis
onde a realidade é aquilo que quero.


03/10/2007

O Lobo Antunes de sempre

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Hoje fui visitar alguns blogues que fazem parte da minha lista de preferências. Não tenho tido tempo para me dedicar à leitura, à divagação, à observação, à escrita.
Tenho sido engolida pelo tempo, esgotado entre ritmos alucinantes de trabalho... mas hoje, sentei-me diante do monitor e deambulei um pouco por aí. Descobri no Absorto um link para uma entrevista do António Lobo Antunes ao DN, (DN continuação) de um interesse notável. Desde sempre que admiro a personalidade intempestiva e de uma rebeldia serena deste escritor.
A entrevista, valorizada pelo conteúdo das respostas em detrimento da qualidade das perguntas que só alguém como A.L.A. consegue com uma habilidade intelectual e riqueza interior, surpreendeu-me linha a linha.

«Há zonas em mim que desconheço, portas que nunca abri e que, no entanto, aparecem nos livros e provocam-me uma certa perplexidade ao querer saber de onde é que isto vem, de que profundidades nossas, que todos temos.»

Na Visão Online podemos ouvir e ler mais...