Não sei exactamente como, mas de link em link fui ter a um site brasileiro que exibia o título «Dez tipos de homens pra ficar bem longe». Decidi-me então a perder alguns instantes a ler este sugestivo e enigmático artigo, na expectativa de descobrir algum conceito menos prosaico e ainda me divertir com o suposto conteúdo.
É tema recorrente o relacionamento entre homem e mulher em análises mais, ou menos aprofundadas ou científicas… Diria que nem um nem outro (outra, neste caso) resiste a ler este tipo de artigo, pois, espera encontrar mais um ingrediente para a receita milagrosa que existirá por aí algures para alcançar a relação perfeita!
«Não entendo os homens!» e «não entendo as mulheres!» são expressões utilizadas frequentemente para exprimir a incapacidade de entendimento entre masculino e feminino, o qual deveria, à partida, ser naturalmente natural, já que a Natureza assim o concebeu e não há constatações desse tipo nas outras categorias de seres vivos, já que será improvável assistirmos um dia a uma discussão entre um casal de gatos sobre questões básicas do dia-a-dia ou entre a qualidade da sua relação… (a haver, seria muito mais fácil aprendermos com o exemplo!)
Ora, diz-se que a mulher é um ser bastante mais complexo que o homem e daí, a maioria destas tipificações serem da sua autoria, decorrente da sua tendência para analisar e sistematizar as coisas e transformá-las em códigos indecifráveis que põem a cabeça dos homens em água! Por sua vez, os homens tenderão a simplificar demasiado as coisas criando linguagens pragmáticas que possam sustentar o seu mundo a nível das necessidades básicas. Ou seja, ambos os sexos precisam de estereótipos para sobreviver no mundo das relações.
Acontece que, no meio destas categorizações, se perde a verdadeira essência do ser humano, seja mulher ou homem, desviando a atenção apenas para o invólucro e ignorando a dimensão inesgotável de emoções e pensamentos que cada um possui e que nunca chega verdadeiramente a ser exposto ou conhecido. Por comodismo, habituamo-nos a formatar as pessoas ou a vê-las apenas nessa proporção e a agir, ou reagir, segundo as referências que vão sendo criadas para encontrarmos a base de apoio para construir um relacionamento.
Concentrarmo-nos na descoberta do outro como indivíduo, com características singulares e únicas, é um processo demasiado lento para a sofreguidão com que se vive hoje em dia. Não há tempo para a exploração desse universo que cada um de nós transporta e que faz de nós seres absolutamente originais, dotados de uma riqueza incomensurável a vários níveis.
Abstrairmo-nos do enquadramento acessório e convergirmos para o essencial «invisível aos olhos», que passa pela aceitação do outro tal como realmente ele é e não como pretendemos mais facilmente supor, será, talvez, o mais belo desafio do homem ou da mulher…
Voltando ao motivo inicial que me levou a escrever estes devaneios, foi fácil associar um homem do meu círculo de conhecimentos a qualquer um dos tipos… Como seria, aliás, de esperar… E também acabei por me rever num dos «dez tipos de mulher a não copiar»…
E foi assim que acabei por reflectir nos perigos destas fórmulas caricaturais difundidas amiúde, que contribuem em parte para uma visão deturpada e oblíqua dos relacionamentos, já que, homem e mulher, são muito mais que um padrão fabricado por ideias simplistas, e o seu poder de atracção reside essencialmente na sua singularidade e excepção.
1 comentário:
Pois é...dez + um.
Já tenho saudades de conversar contigo.
Beijinhos
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