«Como está a tua agenda? Tás para me aturar?» Foi esta mensagem via telemóvel que o meu amigo recebeu. E estava. Como estão sempre os verdadeiros amigos!
Um jantar rápido enquanto fizemos o ponto da situação das nossas vidas: novidades de cá e de lá; a dele mais organizada e tranquila; a minha com as necessárias flutuações para quebrar rotinas indesejáveis.
O passeio a pé que encetámos em seguida à beira-mar, fazia prever uma deambulação ao sabor de ideias e de sentimentos... cinema, teatro, política, amores e desamores, filhos, casamentos, divórcios... e demos connosco no meio do Senhor de Matosinhos.
Há anos que não sentia o odor das farturas que teimam em acoplar-se aos churros de nuestros hermanos; o algodão doce branco ou cor-de-rosa que girava e crescia, e fazia crescer água na boca; os divertimentos que agora, além de todos os que povoaram a minha/nossa infância, já incluem motos todo o terreno ou as chamadas motos quatro, que fazem as delícias de quem nunca terá coragem para vender os electrodomésticos e comprar uma.
Descobrimos que fazer o «enxoval» pode ser animador para quem quer juntar os trapinhos, pois, por cinco euros vendem dez peças de loiça; a olaria regional contrastava com a «porcelana» fina da Vista Alegre desenhada por Fátima Lopes; a cestaria que evoluiu de design e de funcionalidade desde o tempo em que os meus pais me levavam aos Remédios; pedras vindas do Brasil ao lado das peças de roupa vindas do Peru, ao lado de instrumentos artesanais de música que nos abrem o apetite de viajar até à cordilheira dos Andes; os relógios que atraem os coleccionadores e as bugigangas sonoras e coloridas que seduzem as crianças; as esculturas africanas que, em menor número este ano, denotando a política de imigração, passavam despercebidas junto ao alarido das «discotecas» que passavam os top ten da popular música portuguesa que, agora, nem sabemos muito bem o que é.
Um quadro de cor, de luz, de movimento, de odores, de multidões, que me fez recuar até à minha infância e levar-me a desafiar o meu amigo a dar uma volta numa das distracções que me faziam sonhar aos dez anos. Mas a sua expressão de surpresa convenceu-me a desistir antes que me pedissem o B.I.
Optámos por acabar a noite numa cervejaria que se orgulha de ter um leque variado de cerveja e, entre duas imperiais e tremoços, alguns desabafos e conselhos que têm o dom de me ancorarem e deslindar alguns nós que vão entorpecendo a existência.
7 comentários:
Gostei muito de ler a descrição plena de sensações visuais, olfactivas e auditivas da tua romaria ao Sr de Matosinhos. Relataste tão bem todos os pormenores que me "levaste" a dar uma volta tb pela feira... à cervejaria é que já não fui!
Amiga, mais uma vez, insisto para que escrevas e publiques, e gosto muito deste género! Parabéns! Beijo
obrigada pelas tuas palavras amáveis.
beijo
Conseguiste passar as imagens e os cheiros característicos de feira.
Parafraseio-te:«Porque será que estamos condenados a ser assim tão solitários? Qual a razão de tudo isto? Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, todos irremediavelmente afastados. Porquê? Continuará a Terra a girar unicamente para alimentar a solidão dos homens?»
Beijo
Já por lá passei este ano...
Um beijo
Daniel
Um texto perfeito!
Parabéns!!!
Abraços.
Pedro
desde que as sardinhas estejam boas, vale a pena dar uma volta no Senhor de Matosinhos.
:-)
a unicus
talvez haja respostas que possam ser descobertas para essa solidão.
beijo
a daniel
e comeste farturas?
o pior foi isso: resistir ao cheirinho!!!
beijo
a pedro
obrigada pela visita e pela opinião.
beijo
a adesenhar
ai!!! pois! sardinhas e farturas!!!
lá terá que ser... :-)
Enviar um comentário