20/05/2007

romaria popular q.b.


«Como está a tua agenda? Tás para me aturar?» Foi esta mensagem via telemóvel que o meu amigo recebeu. E estava. Como estão sempre os verdadeiros amigos!
Um jantar rápido enquanto fizemos o ponto da situação das nossas vidas: novidades de cá e de lá; a dele mais organizada e tranquila; a minha com as necessárias flutuações para quebrar rotinas indesejáveis.
O passeio a pé que encetámos em seguida à beira-mar, fazia prever uma deambulação ao sabor de ideias e de sentimentos... cinema, teatro, política, amores e desamores, filhos, casamentos, divórcios... e demos connosco no meio do Senhor de Matosinhos.
Há anos que não sentia o odor das farturas que teimam em acoplar-se aos churros de nuestros hermanos; o algodão doce branco ou cor-de-rosa que girava e crescia, e fazia crescer água na boca; os divertimentos que agora, além de todos os que povoaram a minha/nossa infância, já incluem motos todo o terreno ou as chamadas motos quatro, que fazem as delícias de quem nunca terá coragem para vender os electrodomésticos e comprar uma.
Descobrimos que fazer o «enxoval» pode ser animador para quem quer juntar os trapinhos, pois, por cinco euros vendem dez peças de loiça; a olaria regional contrastava com a «porcelana» fina da Vista Alegre desenhada por Fátima Lopes; a cestaria que evoluiu de design e de funcionalidade desde o tempo em que os meus pais me levavam aos Remédios; pedras vindas do Brasil ao lado das peças de roupa vindas do Peru, ao lado de instrumentos artesanais de música que nos abrem o apetite de viajar até à cordilheira dos Andes; os relógios que atraem os coleccionadores e as bugigangas sonoras e coloridas que seduzem as crianças; as esculturas africanas que, em menor número este ano, denotando a política de imigração, passavam despercebidas junto ao alarido das «discotecas» que passavam os top ten da popular música portuguesa que, agora, nem sabemos muito bem o que é.
Um quadro de cor, de luz, de movimento, de odores, de multidões, que me fez recuar até à minha infância e levar-me a desafiar o meu amigo a dar uma volta numa das distracções que me faziam sonhar aos dez anos. Mas a sua expressão de surpresa convenceu-me a desistir antes que me pedissem o B.I.
Optámos por acabar a noite numa cervejaria que se orgulha de ter um leque variado de cerveja e, entre duas imperiais e tremoços, alguns desabafos e conselhos que têm o dom de me ancorarem e deslindar alguns nós que vão entorpecendo a existência.


7 comentários:

Anónimo disse...

Gostei muito de ler a descrição plena de sensações visuais, olfactivas e auditivas da tua romaria ao Sr de Matosinhos. Relataste tão bem todos os pormenores que me "levaste" a dar uma volta tb pela feira... à cervejaria é que já não fui!
Amiga, mais uma vez, insisto para que escrevas e publiques, e gosto muito deste género! Parabéns! Beijo

Irene Ermida disse...

obrigada pelas tuas palavras amáveis.
beijo

A. Pinto Correia disse...

Conseguiste passar as imagens e os cheiros característicos de feira.
Parafraseio-te:«Porque será que estamos condenados a ser assim tão solitários? Qual a razão de tudo isto? Há tanta, tanta gente neste mundo, todos à espera de qualquer coisa uns dos outros, e, contudo, todos irremediavelmente afastados. Porquê? Continuará a Terra a girar unicamente para alimentar a solidão dos homens?»
Beijo

Daniel Aladiah disse...

Já por lá passei este ano...
Um beijo
Daniel

PEDRO disse...

Um texto perfeito!
Parabéns!!!
Abraços.
Pedro

aDesenhar disse...

desde que as sardinhas estejam boas, vale a pena dar uma volta no Senhor de Matosinhos.
:-)

Irene Ermida disse...

a unicus
talvez haja respostas que possam ser descobertas para essa solidão.
beijo

a daniel
e comeste farturas?
o pior foi isso: resistir ao cheirinho!!!
beijo

a pedro
obrigada pela visita e pela opinião.
beijo

a adesenhar
ai!!! pois! sardinhas e farturas!!!
lá terá que ser... :-)