30/04/2007

Pérola(s) só

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derreto-me em diamantes raros
vindos de quentes terras negras
dissolvo-me em pérolas perfeitas e delicadas
recolhidas em tranquilos mares transparentes
rolam ligeiras na pele
crestada pela lua - do outro lado do sol -
transformam-se em rosas
vermelhas de lágrimas doridas

mas não basta
o mundo não é meu
e abro mão de horizontes
e
de malhas tecidas de gestos
de sentidos perdidos e achados

Sombra(s) 3

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Foto de Zeduardo em http://www.1000imagens.com/

irreversível
omito-me
pelas penumbras da paixão
e da subversão idiota de postais
que chegam de lugar nenhum
com sombras de menina
que deixou de ser
mas parece

mulher que baloiça
na certeza de amar
escoa-se
por fendas estreitas e olhares desatentos
por corações ausentes e portas prudentes
ignora e transpõe
extremos que imploram
remanescentes


Sombra(s) 2

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Imagem: http://www.photo.net/

enrolo-me em sombras
ogivais e transitórias
expostas
ao olhar descuidado, fatais

da mão espalho a quietação
de dedos rigídos e inertes
e do gesto
interrompo o sentido

para o templo recuo
e de costas voltadas
solto génios que trauteiam o teu passo

incauta avanço
em contínua transgressão
de limites de céus e de mares

29/04/2007

Quem / o que nos passa ao lado ?

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imagem: http://www.akvarelbilleder.dk/Malerier.htm

Li com alguma apreensão este artigo que suscitará questões a nível mais, ou menos, profundo, conforme a nossa apetência para reflectirmos sobre o que se passa à nossa volta.
Haverá, provavelmente uma, ou mais, explicações lógicas, e até credíveis, que sustentem este estranho acontecimento que põe em causa o comportamento humano e a percepção do mundo que o rodeia.

Conheço pouco, mas o suficiente para dizer que gosto de Joshua Bell. Também eu me interrogo qual seria a minha reacção naquela estação de metro... Quero acreditar que seria uma criança e por uma razão particularmente especial: o meu pai tocou violino durante a sua juventude e nunca o ouvi tocar, pois, devido a um infortúnio na família, pôs de lado um dos seus prazeres da vida: a música. Quem teve oportunidade de o ouvir diz que tocava bem... e sinto saudades de o ouvir.
Perdemos a capacidade de apreciar a beleza, como diz John Lane no artigo, ou a sensibilidade de a reconhecer?!
A vida actual encarcera-nos num autismo a que nos submetemos dócil e resignadamente. Tudo nos passa ao lado ou nós passamos ao lado da vida, da sua essência, do que realmente interessa?!


Sombra(s) 1

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Foto tirada pela minha amiga O. em S. Cristóvão em Abril de 2007


solidões cruzadas de ventos
de ariscos lamentos reais

soltas e remendadas
as palavras na pedra riscam
limites de mim
abrigada
nas sombras de nuvens desenhadas
e de terra projectadas
em azuis e verdes e brancos
rodopiam em milímetros
dum deserto rejeitado
apaziguadas em ti retidas

27/04/2007

A língua que faz sorrir

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Enquanto atravesso o deserto e as palavras se recusam a atormentar-me, vou invadindo este espaço com algumas «brincadeiras» porque brincar também é preciso!
Publico novamente um texto que recebi por e-mail.
Mais um admirável exercício sobre a riqueza da língua portuguesa:


POEMA GENIAL

Não te amo mais.
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais...

A leitura deste poema encerra outra completamente diferente, oculta à primeira vista; ora tente ler do fim para o princípio...

Agradeço ao João o envio do texto.

26/04/2007

Surpresa!

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Após ter recebido por e-mail o episódio cómico que transcrevo em baixo, decidi efectuar uma pequena pesquisa no google sobre a personalidade em questão:
«Rui Barbosa foi, sem dúvida, um dos mais importantes personagens da História do Brasil. Rui era dotado não apenas de inteligência privilegiada, mas também de grande capacidade de trabalho. Essas duas características permi­tiram-lhe deixar marcas profundas em várias áreas de actividade profissional nos campos do direito - seja como advogado, seja como jurista - do jornalismo, da diplomacia e da política. (...)» VivaBrazil
EU LEVO OU DEIXO?
Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal.
Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação.
Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:
- Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo acto vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa.
Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada. E o ladrão, confuso, diz:
- Dotô, eu levo ou deixo os pato?"
A comunicação é indispensável no nosso quotidiano e processa-se em circunstâncias variadas. Existem inúmeros factores que condicionam a efectiva transmissão da mensagem e que dão azo a equívocos, por vezes, até irresolúveis.
Não responder ou não reagir de acordo com as expectativas do outro pode, no entanto, ser uma solução para situações incomódas. (?)
Obrigada pelo mail Eric

23/04/2007

Exemplos: bons ou maus?!

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Acerca de Churchill sempre se ouviu falar sobre a sua presença de espírito...
Recebi do vício este mail que não resisto a publicar:


Quando CHURCHILL completou os 80 anos um repórter de menos de 30 foi fotografá-lo e disse:
- Sir Winston, espero fotografá-lo novamente nos seus 90 anos.
Resposta de Churchill:
- Por que não? Você parece-me bastante saudável.

Telegramas trocados entre Bernard Shaw e Churchill
Convite de Bernard Shaw a Churchill:
"Tenho o prazer e a honra de convidar Sua Excelência Primeiro-Ministro para apresentação da minha peça "Pigmaleão". Venha e traga um amigo, se tiver." Bernard Shaw
Resposta de Churchill a Bernard Shaw:
”Agradeço ilustre escritor honroso convite. Infelizmente não poderei comparecer à primeira apresentação. Irei à segunda, se houver." Winston Churchill.


Debate no Parlamento inglês.
Aconteceu num dos discursos de Churchill, quando foi interrompido por uma deputada da oposição.
Ora, todos sabiam que Churchill não gostava de ser interrompido... Mas foi dada a palavra à deputada e ela disse, alto e bom som:
-"Sr. Ministro, se V. Exª. fosse o meu marido, punha-lhe veneno no chá!"
Churchill, com muita calma, tirou os óculos e, depois de uns minutos de silêncio em que todos estavam suspensos pela resposta, exclamou:
-"E se eu fosse o seu marido, tomava-o."


Quantas vezes, no nosso dia-a-dia, precisamos de ter a resposta na ponta da língua para desarmar os adversários instantaneamente e ficamos paralisados pela inércia do pensamento que teima em alhear-se por momentos!!!
Posteriormente, quando reflectimos sobre a situação ou a partilhamos com alguém, comentamos: «devia ter dito isto ou aquilo» mas já perdemos a oportunidade!

22/04/2007

(In)suspeição 3

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http://www.olhares.com/fallen/foto684659.html


sinais construídos de indícios e demónios concebidos de pasmada erudição
em matizes inexoráveis de suspeitas e de vestígios
determinam
cansaços humilhados e destronados
e dormentes e latentes rastos de sombras de verão
quem adormece no hemisfério de mármore?
se crivada de rugas profundas suspiro em alvoradas?

cómoda e parcelar gotejo palavras
que adejam à solta por jardins férteis de ternuras nunca esmorecidas
de frutos despida porque sem face me deito na terra mundana
de todos visível e distante golpeio promessas
em seiva renasço
em verso

18/04/2007

Give me five...


Agradeço ao Vício ter elegido o meu blogue um dos seus five...

Now, it's my turn:

And the winners are:

Adesenhar

Amanh'ser

Charlas

Poder de encaixe

Pensamento pró-fundo


P. S. - pois... com a emoção esqueci-me de explicar: É suposto os eleitos reelegerem, por sua vez, cinco blogues que os fazem pensar, escrever uma postagem a nomeá-los e copiar o respectivo selo e publicá-lo na barra lateral dos seus blogues. Simples!



17/04/2007

Sobre rodas... (continuação)


O meu é igual a este:
Para os interessados que leram a postagem anterior:
Novamente numa oficina da concorrência, relatei a ocorrência de ontem ao mecânico... Palpites: pode ser o filtro, blá, blá, blá, a bomba que puxa a gasolina que é cara...

Ao almoço recebo o telefonema a comunicar que é necessário substituir a tal bomba... 195 €... o que somado à quantia já gasta este mês com o carro, perfaz quase 500€!
E tenho alternativa?! É nestas alturas que sinto mesmo vontade de me mudar para uma zona metropolitana bem servida de transportes públicos! E todo o dinheiro que se gasta em combustível, seguros e oficina bem aplicado numa viagem de sonho!!! Do meu sonho, entenda-se, não dos sonhos que nos impingem nas agências de viagens!!!

Para que saibam tenho um humilde Kia Shuma de 99 com pouco mais de 100 000 Km que até agora nunca me deu motivos para me arrepender... Será mesmo conspiração da parte dele?! Provavelmente quer usufruir de alguns dias de férias na oficina... Talvez alguma paixãozita que tem por lá... Vá-se lá entender estas máquinas!!!

16/04/2007

Sobre rodas...

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Será que este tem soluços?!


Há uns anos tive a oportunidade de ver, num qualquer canal de televisão, um documentário sensacionalista de autoria norte-americana sobre a «vida» que, supostamente, os automóveis podem assumir. Exemplificava-se com casos de carros que não obedeciam às orientações concretas dos condutores e, embora eles virassem o volante para a esquerda, o carro teimava ir para a direita provocando o despiste e acidentes!
Sugeria-se, pois, que os carros eram donos de uma vontade própria e que deviam ser sujeitos a atitudes de respeito por parte dos seus donos a fim de os tornar dóceis e obedientes.

Hoje, numa deslocação à Maia para uma reunião, deparei-me com a vontade própria do meu carro que me transportava juntamente com uma colega. A dado passo, na auto-estrada, diminuiu abruptamente de velocidade, entrando num suplício de solavancos, ameaçando a qualquer instante parar!!!

Insisti e, aos soluços, continuei consultando a minha colega sobre a possibilidade de parar na estação de serviço e chamar a assistência em viagem. Mais descontraída ainda do que eu, sugeriu que prosseguisse. Lá fomos andando e soluçando até chegar à entrada da Maia onde tive mesmo que parar. Mesmo assim, retomei a marcha e persisti até estacionar no centro, no parque de estacionamento, onde venho a descobrir mesmo em frente um stand da marca!
Trataram-me de ir buscar o carro e averiguar o problema.

Após a reunião fui ver qual era a situação e, para meu espanto, informam-me que, apesar de todos os testes electrónicos e outros, não haviam detectado qualquer problema.
Impotente, sem poder provar o contrário, regressei após ter recebido aquele olhar tipo «ela-imaginou-tudo», ou «não-percebe-nada-de-carros»... Até que ao chegar às portagens, lá começou ele novamente aos soluços e, entre paragens e risos na IP4, lá chegámos sãs e salvas!

Amanhã vou levá-lo novamente à oficina...

15/04/2007

«Diamante de sangue»

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Não haverá mais nada a dizer sobre este filme...
A mensagem que transmite é incómoda e perturba a nossa rotina que se mantém indiferente aos atentados que por aí grassam aos direitos humanos.

O mundo civilizado, que se mantém à custa de valores tão ocos espelhados nas montras de joalharias, virá certamente a provar do seu próprio veneno e, embora os exemplos já sejam numerosos, continuamos a alimentar o fosso de desenvolvimento entre países que se julgam civilizados e continuam de olhos fechados ao contínuo desrespeito dos direitos humanos.

A par da história de amizade que liga três personagens unidas por um diamante, existe a denúncia de realidades condenáveis: as crianças-soldados usadas numa guerra que não é certamente a delas, o comércio ilegal de diamantes, os campos de refugiados, a luta sem escrúpulos pelo poder.
A densidade do tema é provocatória mais do que o sangue que se derrama frequentemente durante as cenas. Um filme que, obrigatoriamente, nos deixa a pensar nesta «vidinha» que vai indo...

(In)suspeição 2

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atípica e fugaz suspeita de infernos apocalípticos
de seduções cultivadas em teias exponenciais de ímpares certezas e dúvidas
enredam-te em imagens quiméricas de felicidades sonhadas
serpeiam pelos poros de um futuro simbólico
oprimido por promessas diletantes volúveis e errantes
simulas universos de rosas que de espinhos te cobrem
sem pétalas cor de vermelho
exuberantes ritmos do mundo de tons e de sons
porque danças?
recurvas enredas ludibrias
palavras presas nas distintas maiúsculas
de espelho rasgadas
porque dizes?

realizo portanto
porque no entanto
tão só

11/04/2007

(In)suspeição 1

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imagem do google
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uma suspeição que circunda a chama do fósforo
que arde inteiro por entre dedos e lábios
de pálpebras e olhares enclausurados
dobras-te em ângulo recto e sopras palavras ténues
de tanta suavidade incontida e desprezada
saber que foges pelos arbustos adormecidos
por sonhos moribundos de cinturas finas
cais da cama de penas enlutadas de ciúme e de infortúnio
porque cantas?
de palavras choras e em palavras habitas
no ancestral dilúvio te escoas e te intrometes
resistes porque da natureza te fazes
gritas do umbral e projectas distâncias triviais
porque fendes e não esqueces?
ora ora
nem sabes quem eu sou
nem de que sou feita na tua mente

10/04/2007

«Pecados íntimos»

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Na divulgação, a frase «Cinema... sem pipocas, no Teatro de Vila Real» cativou-me de imediato. E paguei cinco euros para ver este filme de Todd Field, do qual já tinha ouvido excelentes críticas.

Dinheiro mais bem empregue!!!

No pequeno auditório, recordei-me dos tempos idos do Quarteto, em Lisboa.

E o filme é, sem dúvida nenhuma, o meu género: desenrola-se sob uma densidade oculta por uma vida rotineira e desinteressante, as frustrações, os desejos, o desistir dos sonhos; o acordar num tempo qualquer e dar-se conta... e querer mudar; e ficar...

A última mensagem do narrador: ninguém pode mudar o passado; mas o futuro pode-se a qualquer altura e em qualquer lugar...


09/04/2007

Human system


Não resisto a publicar esta imagem que me foi enviada por mail! Nem todas as legendas corresponderão aos mitos feminino/masculino, mas não deixa de ter piada.
Certamente, cada um de nós substituiria algumas!
Obrigada Carlos

07/04/2007

Rascunhos 3

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A foto foi enviada pelo meu querido amigo Francisco que me ajudou na procura mas perdeu a referência de onde a tirou!
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um sorriso desliza pelos lábios
e uma borboleta bate asas

ensaios vividos
entre equações e cálculos
entre sinopses e esboços
de energias aglutinadas vindas e crescidas de temerários reflexos
desfraldo velas
solto aves
e pincelo o abraço ao mundo que me aguarda
para além de tudo que sufoca entre as paredes

pulverizada
repartida
e
ferverosa
derreto-me entre gelos polares
e atravesso incólume tempestades de areias
rodeada de cintilantes estrelas
e uma interrogação toma corpo e voz
e ecoa por entre mim

quando parte o voo?


Rotação (2)

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«Explica-me como se eu fosse muito, muito, mas mesmo muito burra!»
Ora aí está a solução!

Enquanto ouço o marido a queixar-se (o que deve ser entendido como 'vangloriar-se' evidentemente) que, por vezes, tem feito de motorista, permitindo à adorada esposa o cumprimento dos seus deveres profissionais que, de momento, a obrigam a constantes deslocações por esse distrito fora, vou ironizando que tal facto só pode ficar a dever-se ao prazer que a sua companhia lhe proporciona, ao fim de vinte e tantos anos de casamento (sem comentários e sem ironias!), pois, afinal, ela até é uma mulher destemida!
Entre sorrisos, ela pergunta-me se, no meu caso, iria sozinha... Apostada em provocar um cataclismo, apesar do ambiente solene do velório, confesso naturalmente que já fui até ao Algarve sozinha e iria até à China se fosse preciso! E de repente, um misto de admiração e de repulsa desceu sobre mim!

De há uns tempos para cá, os homens descobriram (após séculos de total ignorância!) que lhes assenta muito bem confessarem que apreciam a 'inteligência' nas mulheres. O que é certo, é que sob essa superficialidade democrática, aproveitam, sempre que podem, para demonstrar que isso é pura ilusão. Mas, no fundo, eles próprios é que estão a ser vítimas duma outra ilusão!

E pus-me cá a pensar com os meus botões: uma mulher que se finja de 'burra', só tem vantagens!!! Poupa-se muito mais, tem sempre um homem que a trata como uma princesa e só faz o que lhe apetece!

Viver em sociedade (homens e mulheres) exige regras que se enquadrem num código social e mantenham as aparências! Por isso, aqui fica uma sugestão: a inteligência nas mulheres deve ser sempre camuflada! O papel de indefesa, de vítima, de frágil, de carente, de retardada intelectualmente, deve ser sempre preservado!

Vão por mim, as mais jovens, que eu já não vou a tempo!
E sim, deliberadamente, corro o risco da generalização!
E sim, declaradamente, não sou feminista!
E sim, esta postagem pretende mesmo ser tudo o que se pode vir a dizer...

"Alma Grande"

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Numa encenação de João Brites, o Bando dá voz e corpo às palavras cheias de força do conto de Miguel Torga: Alma Grande, a figura do Abafador que se ocupava a abreviar o sofrimento numa primitiva eutanásia necessária à manutenção da dignidade da vida. O contraste da luz e da sombra que vai desfilando ante os olhos do espectador anestesia os sentidos e acorda a irrefutabilidade da inevitável morte.




Rascunhos 2

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.http://www.1000imagens.com/foto.asp?idautor=45&idfoto=215&t=&g=&p=


uma equação de primeiro grau
alimenta o patamar onírico de sintomas derrotados por cálculos impossíveis

extrair energia do interior do átomo
numa missão que só a nós dois contém
alimenta a fogueira de cor vermelha
de rubores e suores

as nossas partículas convivem numa comunhão efémera
porque o amanhã não se adia e permanece
imutável nas leis da física

uma exponencial descoberta repele os corpos de carga positiva
como se diferenciais de tónicas desintegrassem núcleos
e induzissem uma tempestade de estrelas


04/04/2007

Rascunhos 1

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rascunhos impróprios
de ensaios vividos
mal bem
de mim dos outros

de quem sem olhos nem boca se liberta da espuma das ondas e do sal do mar e do doce do rio
sem dó e com vazios de pó preenchidos e gastos de sentidos e de afectos

pulverizada
repartida
e
ferverosa
de ideias animadas de vida e de substância
subtrai mágoas
acrescenta entusiasmo
e desafia poucos e todos
até um dia?!

Papoilas...

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Foto que prima pela sua má qualidade, pois, captada que foi por um telemóvel (o meu...!), hoje, durante a minha caminhada ao fim da tarde. É curioso: encontrei-as no passeio duma avenida da cidade que é ladeada por alguma vegetação.
Recuei uns passos e, de repente, vi ali este par. Lembrei-me do comentário do jg... e decidi fotografar a prova de que, realmente, existem ainda papoilas, quando menos se espera e quanto menos se procura!

02/04/2007

libertate




«Ele era um ponto fixo num turbilhão de mudanças, um corpo firmado numa imobilidade absoluta, enquanto o mundo corria através dele e desaparecia. O carro tornou-se um santuário de invulnerabilidade, um refúgio onde já nada poderia magoá-lo. Enquanto conduzia, não carregava fardo nenhum e nem a mais ínfima partícula da sua antiga vida poderia estorvá-lo. Não quer isto dizer que as recordações tivessem sido apagadas, mas a verdade é que já não pareciam provocar nele nada que se parecesse com a angústia de outros tempos.»


Esta citação de Paul Auster na sua obra «Música ao Acaso» refere-se à personagem principal que perdeu a antiga identidade e evoluiu para um estado de total liberdade interior, sem qualquer amarra ao mundo que o rodeia, sem ter nada a ganhar ou a perder.

Até que ponto somos realmente livres?

Ou aspiramos a sê-lo?

Será este o estado ideal?!