29/04/2007

Quem / o que nos passa ao lado ?

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imagem: http://www.akvarelbilleder.dk/Malerier.htm

Li com alguma apreensão este artigo que suscitará questões a nível mais, ou menos, profundo, conforme a nossa apetência para reflectirmos sobre o que se passa à nossa volta.
Haverá, provavelmente uma, ou mais, explicações lógicas, e até credíveis, que sustentem este estranho acontecimento que põe em causa o comportamento humano e a percepção do mundo que o rodeia.

Conheço pouco, mas o suficiente para dizer que gosto de Joshua Bell. Também eu me interrogo qual seria a minha reacção naquela estação de metro... Quero acreditar que seria uma criança e por uma razão particularmente especial: o meu pai tocou violino durante a sua juventude e nunca o ouvi tocar, pois, devido a um infortúnio na família, pôs de lado um dos seus prazeres da vida: a música. Quem teve oportunidade de o ouvir diz que tocava bem... e sinto saudades de o ouvir.
Perdemos a capacidade de apreciar a beleza, como diz John Lane no artigo, ou a sensibilidade de a reconhecer?!
A vida actual encarcera-nos num autismo a que nos submetemos dócil e resignadamente. Tudo nos passa ao lado ou nós passamos ao lado da vida, da sua essência, do que realmente interessa?!


3 comentários:

jg disse...

Achei a experiência mt interessante. Acho igualmente que todas as opiniões/ilações são válidas.
Curiosamente o resultado não me surpreendeu.
Já pensei sobre imensas situações, semelhantes, exactamente por achar que a capacidade de ver e apreciar a arte, nas suas mais variadas formas, é algo de inato.
Aliás, andei anos à procura da definição de "belo" e a aproximação mais satisfatória que consegui, foi: "tudo o que é inteligível sem reflexão".
Contudo este conceito variará de pessoa para pessoa. Aí surgirá o inevitável "gostos não se discutem" ao que terei que citar José Hermano Saraiva que a propósito disse um dia, em Horizontes da Memória, "Os gostos não se discutem mas que há bom gosto e mau gosto disso ninguém duvida!"
Por falar em bom gosto, isto de abrir o teu site e beber "Imagine" é delicioso.
Mas faz-me muito mal...

Maria Manuel disse...

Interessantíssima experiência tanto para observar e reflectir sobre a reacção dos utentes do metro, como para proporcionar uma "vivência de humildade" a um "grande".

Na questão do contexto, para além do elemento espaço há que contar com o elemento tempo. As mesmas pessoas que ali, por imperativos conhecidos, corriam alheias, seriam perfeitamente capazes de apreciar e aplaudir num momento em que se disponibilizassem e se entregassem ao gozo artístico.

A arte é também isso: dar e receber. A receptividade exige, por vezes, preparação.

Irene Ermida disse...

a jg
essa definição de belo é aliciante; mas não achas que o inteligível precisa do sensorial para fruir na sua totalidade do prazer que o belo pode proporcionar?
e se JHS disse, está dito... e tem razão.
Embriaga-te com "Imagine" à vontade pois os efeitos secundários só podem ser benéficos! :-)

a maria manuel
concordo que o contexto tenha influência. É necessário estar com o espírito disponível para receber; teria sido esse o obstáculo à compreensão/aceitação daquele famoso filme que fomos ver e que tanta polémica já gerou no teu blog? :-)
Continuo a preferir os meus instintos básicos na apreciação que faço de qualquer obra de arte: ou gosto ou não gosto.