13/05/2007

Um pé de dança

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Foto: 1000imagens

Uma destas noites tive uma curiosa experiência. Entrei e senti que recuara umas décadas.
A música variava entre melodias sentimentalóides do tempo da minha adolescência e um ou outro ritmo mais actual.
Fui observando: pessoas de meia idade acompanhadas de outras de metade da idade delas, um outro casalinho mais jovem, alguns solitários… Pairava um clima de insinuação, de desejo, de vontades
Subliminarmente, o desespero andava à solta: vestidos justos que agitavam corpos que, um dia, já foram perfeitos; decotes ousados que alimentavam esperanças; camisas cujas fraldas tentavam esconder o peso da idade; olhares de caçadores furtivos à espera da distracção da presa; gestos sedentos do amor que nunca chega.
Estoicamente, teimam em manter-se vivas apesar das marcas deixadas pelo tempo inexorável, que lhes semeou desgostos e desilusões, e que os impele a viver na urgência do momento, antes que notícias súbitas de doença ou morte lhes venha cortar a conexão a esta existência efémera.
Deambulei pela realidade deprimente e a reflexão incontornável. Há vivências que têm o efeito terapêutico de nos acordar do entorpecimento mental, em que a rotina nos vai envolvendo.
Quantas vezes nos deixamos subjugar pelas circunstâncias e nos obrigamos a vegetar durante o ciclo noite-dia, evitando o confronto connosco próprios?
NOTA: Este texto foi escrito três vezes! A ligação caiu e perdi-o das duas primeiras vezes. O primeiro estava muito mais incisivo... Aprendi a lição: escrevo em Word e colo em seguida!

9 comentários:

-pirata-vermelho- disse...

Incomodativa reflexão...
estás a falar daqueles 'bailes-dos-velhos' que há pr'aí?
É que
esses têm também o outro lado, o da alegria; provavelmente um tanto confrangida ou anquilosada mas, ainda assim, alegria; a possível, em muitos casos.

jg disse...

Irene, és uma excelente observadora e tens uma capacidade de adjectivar surpreendente.
Não te escapa nada ao teu olhar de lince.
Leio o teu relato como uma crónica e não como uma crítica.
Também me espanta o cair frequente das tuas ligações na net considerando, a curosidade, ter sido em Vila Real que assisti à primeira ligação digital telefónica!!
Bjs

-pirata-vermelho- disse...

(A mnina dança?)

Vício disse...

por gostar de dançar, um dia fui com um pequeno grupo de "amigos" conhecer uma danceteria!
foi engraçado fazeres-me recordar essa noite, porque tudo o que aqui disseste descreveu o ambiente que se vivia lá!
nós eramos 2 homens e 3 mulheres e tinhamos ido apenas para "desenferrujar" o esqueleto mas muitas coisas que se passavam ali à volta era exactamente um caçada!
foi lindo! :D

-pirata-vermelho- disse...

(o que é uma 'danceteria', vício?)

A. Pinto Correia disse...

Está um texto excelente.
Temo que deambulemos mais vezes do que as necessárias..
Beijinho

Maria Manuel disse...

Às vezes temos destes terríveis momentos de lucidez... :-)

Excelente crónica!

Vício disse...

pirata,
é um sitio onde se pode dançar!
mas danças que nada têm a ver com musica moderna.
tipo danças de salão mas ao estilo amador :P

Irene Ermida disse...

a pirata I
não, não estou nada a falar desses bailes...

a pirata II
...tem par ou descansa?!

a jg
tenho uma tendência natural para observar e, por vezes, corro o risco de me perder em reflexões que me fazem andar na lua!
grande novidade essa que me dás! não imaginava que esta cidade fosse pioneira no que quer que fosse. :-)

a vício
lindo! dizes bem! rss
mas prefiro ambientes mais arejados, descontraídos, soltos...

a unicus
obrigada. A deambulação é ir por aí ou não ir? :-)
beijo

a maria manuel
não foi terrível, acredita! foi revigorante, dado que me fez perceber que 'ainda' não pertenço 'ali'.

a pirata e a vício
'danceteria'???
para mim seria um termo brasileiro... mas já nem sei nada!