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Uma destas noites tive uma curiosa experiência. Entrei e senti que recuara umas décadas.
A música variava entre melodias sentimentalóides do tempo da minha adolescência e um ou outro ritmo mais actual.
Fui observando: pessoas de meia idade acompanhadas de outras de metade da idade delas, um outro casalinho mais jovem, alguns solitários… Pairava um clima de insinuação, de desejo, de vontades…
Subliminarmente, o desespero andava à solta: vestidos justos que agitavam corpos que, um dia, já foram perfeitos; decotes ousados que alimentavam esperanças; camisas cujas fraldas tentavam esconder o peso da idade; olhares de caçadores furtivos à espera da distracção da presa; gestos sedentos do amor que nunca chega.
Estoicamente, teimam em manter-se vivas apesar das marcas deixadas pelo tempo inexorável, que lhes semeou desgostos e desilusões, e que os impele a viver na urgência do momento, antes que notícias súbitas de doença ou morte lhes venha cortar a conexão a esta existência efémera.
Deambulei pela realidade deprimente e a reflexão incontornável. Há vivências que têm o efeito terapêutico de nos acordar do entorpecimento mental, em que a rotina nos vai envolvendo.
Quantas vezes nos deixamos subjugar pelas circunstâncias e nos obrigamos a vegetar durante o ciclo noite-dia, evitando o confronto connosco próprios?
A música variava entre melodias sentimentalóides do tempo da minha adolescência e um ou outro ritmo mais actual.
Fui observando: pessoas de meia idade acompanhadas de outras de metade da idade delas, um outro casalinho mais jovem, alguns solitários… Pairava um clima de insinuação, de desejo, de vontades…
Subliminarmente, o desespero andava à solta: vestidos justos que agitavam corpos que, um dia, já foram perfeitos; decotes ousados que alimentavam esperanças; camisas cujas fraldas tentavam esconder o peso da idade; olhares de caçadores furtivos à espera da distracção da presa; gestos sedentos do amor que nunca chega.
Estoicamente, teimam em manter-se vivas apesar das marcas deixadas pelo tempo inexorável, que lhes semeou desgostos e desilusões, e que os impele a viver na urgência do momento, antes que notícias súbitas de doença ou morte lhes venha cortar a conexão a esta existência efémera.
Deambulei pela realidade deprimente e a reflexão incontornável. Há vivências que têm o efeito terapêutico de nos acordar do entorpecimento mental, em que a rotina nos vai envolvendo.
Quantas vezes nos deixamos subjugar pelas circunstâncias e nos obrigamos a vegetar durante o ciclo noite-dia, evitando o confronto connosco próprios?
NOTA: Este texto foi escrito três vezes! A ligação caiu e perdi-o das duas primeiras vezes. O primeiro estava muito mais incisivo... Aprendi a lição: escrevo em Word e colo em seguida!
9 comentários:
Incomodativa reflexão...
estás a falar daqueles 'bailes-dos-velhos' que há pr'aí?
É que
esses têm também o outro lado, o da alegria; provavelmente um tanto confrangida ou anquilosada mas, ainda assim, alegria; a possível, em muitos casos.
Irene, és uma excelente observadora e tens uma capacidade de adjectivar surpreendente.
Não te escapa nada ao teu olhar de lince.
Leio o teu relato como uma crónica e não como uma crítica.
Também me espanta o cair frequente das tuas ligações na net considerando, a curosidade, ter sido em Vila Real que assisti à primeira ligação digital telefónica!!
Bjs
(A mnina dança?)
por gostar de dançar, um dia fui com um pequeno grupo de "amigos" conhecer uma danceteria!
foi engraçado fazeres-me recordar essa noite, porque tudo o que aqui disseste descreveu o ambiente que se vivia lá!
nós eramos 2 homens e 3 mulheres e tinhamos ido apenas para "desenferrujar" o esqueleto mas muitas coisas que se passavam ali à volta era exactamente um caçada!
foi lindo! :D
(o que é uma 'danceteria', vício?)
Está um texto excelente.
Temo que deambulemos mais vezes do que as necessárias..
Beijinho
Às vezes temos destes terríveis momentos de lucidez... :-)
Excelente crónica!
pirata,
é um sitio onde se pode dançar!
mas danças que nada têm a ver com musica moderna.
tipo danças de salão mas ao estilo amador :P
a pirata I
não, não estou nada a falar desses bailes...
a pirata II
...tem par ou descansa?!
a jg
tenho uma tendência natural para observar e, por vezes, corro o risco de me perder em reflexões que me fazem andar na lua!
grande novidade essa que me dás! não imaginava que esta cidade fosse pioneira no que quer que fosse. :-)
a vício
lindo! dizes bem! rss
mas prefiro ambientes mais arejados, descontraídos, soltos...
a unicus
obrigada. A deambulação é ir por aí ou não ir? :-)
beijo
a maria manuel
não foi terrível, acredita! foi revigorante, dado que me fez perceber que 'ainda' não pertenço 'ali'.
a pirata e a vício
'danceteria'???
para mim seria um termo brasileiro... mas já nem sei nada!
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