27/06/2007

Cinco livros entre os demais

.

Recebi um convite para falar de livros. Não sei falar deles. Sinto-os. Tenho uma relação especial com eles. Não os devoro. Pego-lhes. Folheio-os de trás para a frente. Amo-os pelo cheiro, pela visão e pelo tacto. Saboreio-os. Ouço-os. Contam-me histórias. Faço amigos. Lentamente, disseco palavras, linhas, entrelinhas. Avanço, recuo. Um prazer sereno e empolgante que me vai acordando pela noite dentro.

Leio sempre, mesmo quando o livro de cabeceira - neste momento, Tango, da argentina Elsa Osório - se mantém fechado durante dias e dias. Gosto de o ter ali, à mão.

Por vezes, leio dois, três livros no mesmo período de tempo, um de cada vez, alternando entre eles. Gosto assim.

A Religiosa de Diderot marcou-me aos doze anos. Um contributo para a minha tempestade de ideias sobre a religião durante a adolescência.

Victor Hugo fascina-me com Os Miseráveis pelos volumes, pelo enredo, pela força da escrita.

O génio de Camões patente na epopeia d'Os Lusíadas intriga-me pela forma: dez cantos, 1102 estrofes que são oitavas decassilábicas, sujeitas ao esquema rímico fixo AB AB AB CC e atrai-me pelo concílio dos deuses, pelos amores de Pedro e Inês, pelo Adamastor.

Timbuktu fez-me descobrir Paul Auster, um escritor norte-americano que contraria tendências rotineiras de literaturas para consumo e já me fez companhia com O Livro das Ilusões, A Noite do Oráculo, Música ao Acaso, A trilogia de Nova Iorque.

Cem Anos de Solidão despoletou o gosto pela literatura hispânica e guiou-me pelo universo mágico de Gabriel Garcia Márquez!

Tantos outros nomes de escritores que ficam de fora, mas não menos importantes nas minha preferências literárias: Torga, Sophia, Eça de Queirós, Lobo Antunes, Saramago... poderia enumerar dezenas, centenas, portugueses e estrangeiros, que ficariam sempre alguns por referir.

Para dar sequência a esta cadeia, dirijo o meu convite aos seguintes blogues vizinhos:

Devaneios (3)

A selecção das imagens foi difícil: por um lado, pela má qualidade da maior parte das fotos que, não sei por que carga de água, saíram distorcidas; por outro, porque ao revê-las, revivi os momentos do concerto.
A vivacidade e a energia que dominou a actuação dos Rolling Stones do princípio ao fim empolgou o público que abrangia todas as faixas etárias... Ao som de êxitos mais antigos e mais recentes, todos saltaram, gritaram, aplaudiram.
A música é, de facto, um dos catalisadores mais poderosos para unir as diferenças, para diminuir o fosso entre gerações, para alimentar esperanças.
Os 64 anos de Mick Jagger, que fazem inveja aos «barrigudos» que se foram deixando intimidar pelo peso da idade, demonstram que é possível manter-se jovem, mais por dentro do que por fora.
No final do concerto, após ter saltado tudo quanto podia, sorri quando, mesmo atrás de mim, ouvi uma voz feminina comentar: «Ai as minha costas!», ao que a colega acrescentou: «Nem me fales!». Olhei de soslaio, adivinhando duas sexagenárias. Fui obrigada a olhar de novo, desta vez sem a discrição inicial, e confirmar que seriam da minha idade, mais ano, menos ano!
Sorri novamente. As minhas nem sinal davam! Satisfeita com a revelação, fiz a viagem de regresso.
Descobri, entretanto, que o meu corpo reage lentamente e que não resiste a uma viagem de comboio de quatro horas durante a madrugada! Escusado será dizer que a recuperação prolongou-se durante a semana! Mas valeu a pena, se valeu!!!


Devaneios (2)

.







Lisboa é, sem dúvida, uma cidade que me prende, que me arrasta, que me seduz. Mas, pelos vistos, não é só a mim.

Devaneios (1)

.

Pouco passava das oito horas quando chegámos à estação. Pedi o bilhete de ida e volta e quando referi a hora do regresso, o senhor sorriu e declarou com um sorriso nostálgico: então vai ouvir a música do nosso tempo... Partilhei o sorriso e, no papel de cúmplice apanhada com a boca na botija, retorqui: é verdade.
A opção pelo comboio surgiu à última da hora, quando, na véspera, me lembrei de consultar a página web da CP. A última viagem de comboio tinha sido em Julho de 2002 de Vichy para Bordéus que me permitiu usufruir da paisagem, da leitura, do sono descontraído e ainda me proporcionou algumas vivências caricatas.
Sempre achei peculiar o uso de metáforas associadas às viagens de comboio que, geralmente, traduzem simbologias da vida. Estações, apeadeiros, paragens, linhas, são termos associados a modos de estar, de ser, de decidir, de pensar.
Quando dei por mim mecanicamente sentada no lugar marcado, tive a sensação estranha de viajar contra o tempo. Via a paisagem deslizar a uma velocidade rápida e irrecuperável e, por momentos, sentia-me resistir. Uma resistência inexplicável mas imprescindível.
Apercebi-me, de súbito, que essa sensação provinha do facto de viajar de costas voltadas à direcção em que seguia o comboio.
Interroguei-me: andarei eu de costas voltadas?!

Ocean's 13

.

Nada melhor, num fim de tarde de domingo ofuscada por nuvens que obrigava a um recolher ao cinema, que um filme «light» com belas figuras de actores, que poderiam dedicar o seu tempo a desempenhar papéis decisivos e importantes para as suas carreiras cinematográficas mas preferiram, pela terceira vez, dar a cara num filme que se desenrola à volta de mais um ambicioso golpe, motivado pela recuperação de um membro da equipa que, após ter sido enganado por Willy Bank (Al Pacino), cai numa cama às portas da morte.
Valha-nos o pretexto nobre que exalta o valor da amizade, da cumplicidade e da união para não dar como perdido o dinheiro do bilhete.

26/06/2007

um s. joão festejado como um s. antónio

.

Pela primeira vez e, por coincidência, acabei por passar o S. João, no Porto. Paradoxalmente, enquanto vagueava por ali, guiada por um amigo que ia recordando os velhos tempos de outros S. Joões, alheada das marteladas e dos transeuntes, a minha memória viajava até Lisboa, recuando no tempo vinte e poucos anos: imagens e cheiros transportaram-me até noitadas que acordavam nas manhãs junto ao Tejo, após a subida até ao Castelo e a descida pausada pelas paragens nos pátios para um bailarico, uma sardinha, uma imperial, num ambiente de alegria e descontracção própria da idade e adequado à festa.
Nessa altura, quem me tivesse alertado para a inexorabilidade do tempo, teria recebido como resposta risos e esperanças...

Fotos daqui

20/06/2007

Roll...roll...roll...

.


A minha preferida!!!

Vou lá estar, em Alvalade, dia 25... com o meu filho!
Duas gerações unidas pela música e muito mais!

Inevitável (3)



(não) é inevitável chorar
quando no rio nem água corre
(não) é inevitável gritar
quando a voz nem som emite

distingo quimeras inúteis de ilusões primordiais
e sigo com os olhos com as mãos com a boca
a distância que nos afasta e nos une
em espontâneas convulsões de verdade
que surgem perigosas por trilhos virgens
que conciliam o claro e o escuro de nós

Inevitável (2)

.


é inevitável permanecer sôfrego de sentir
é inevitável conservar o impulso de respirar
impregnada de aromas de lua cheia
descanso de partidas de mim sem chegada
resvalo pelas encostas da essência
renuncio a abstractos arquétipos
e galgo painéis de utopias delirantes
destituídas de razão e de sentido
que ofendem insípidos figurantes
em cera colhidos
pasmo de incrédulas paixões
que se adivinham e nunca são

18/06/2007

Inevitável (1)

.

inevitável é olhar para o horizonte e ver os sonhos
inevitável é saborear a fantasia e degustar o êxtase
sem barreiras que impedem a visão clara do futuro
sem cortinas que embaciam a imagem do destino
a passos largos e determinados define-se
de braços abertos e sinceros constrói-se
hemisférios que oscilam num só ponto
coesos sólidos estáveis
diluem correntes e permanecem
intactos herméticos ilesos
assentes em convictos propósitos
alheados de dúvidas perenes
inevitável... até doer?!


17/06/2007

Uma pérola verde

.

http://viajar.clix.pt/


A celebração de um feliz acontecimento levou-me ontem até a Ervamoira, uma quinta localizada na margem esquerda do rio Côa, em pleno Parque Arqueológico do Vale do Côa. Após oito quilómetros de caminho de terra, entre uma vegetação agreste e acidentada marcada pelo negro do xisto, vislumbramos, de repente, duzentos hectares de verde vinhateiro numa plantação vertical, que difere na forma das restantes caracterizadas pelos socalcos. O museu, que existe na quinta, expõe fotografias e algumas peças encontradas na estação arqueológica existente na propriedade.

A chuva, que caiu intensamente durante quase todo o dia, não impediu os convivas de usufruir da beleza da paisagem, da tranquilidade do espaço, do silêncio que abafava vozes prazenteiras, que traduziam o grau de satisfação com o repasto confeccionado com esmero - um óptimo bacalhau com broa e um delicioso cabrito assado -, acompanhado de um excelente vinho.

Este empreendimento é a prova de que a vontade do homem pode superar condicionalismos de relevo geográfico e pode desenhar uma harmonia natural. De salientar o bom senso que imperou quando a intenção de construir a barragem não se concretizou!


14/06/2007

Desafogo-me nas palavras, ora essa!

.

Após textos que falam de amor e coisa e tal, apetece-me ter um desabafo daqueles que guilhotinam emoções e criam perplexidades de manter a boca aberta durante horas!
É que, na verdade, tenho uma dificuldade enorme em manter a calma, a boa disposição, a descontracção perante atitudes que revelam, além de insensatez e ingenuidade, uma grande, mas do tamanho das pirâmides do Egipto (agora não me lembro de algo mais alto!!!), dizia eu, uma imensa e paradoxal estupidez!
Não! não lido bem com esta castração do pensamento que, não lhe bastando corroer a mente de quem a detém, atinge com imponência graus de pura insanidade, que provocam calafrios de indignação a quem tem que assistir aparvalhadamente a atitudes de quem a ostenta!
Com tantos fármacos e tanta investigação científica, ainda ninguém terá pensado em criar um antídoto para este mal humilhante da condição humana ?!
Poupo os pormenores da história e perdoem-me o exagero da linguagem que raia a altivez arrogante de quem se acha muito esperta! Mas também tenho os meus dias... haja paciência.

Agora que desabafei já me sinto bem melhor! Por isso repito amem muito, sempre!


13/06/2007

O Cupido, nem mais!

.


Ai, ai, ai... fui atingida em cheio!!! Uma flecha vinda do palavras soltas caiu no meu blogue!

«Cupido Fonte de Amor» é uma expressão deveras sugestiva... desconheço-lhe a origem, da expressão, entenda-se... Mas a história de Cupido fascina pela carga simbólica que sustenta a imaginação humana.


O Amor

Estou a amar-te como o frio
corta os lábios.

A arrancar a raiz
ao mais diminuto dos rios.

A inundar-te de facas,
de saliva esperma lume.

Estou a rodear de agulhas
a boca mais vulnerável.

A marcar sobre os teus flancos
itinerários da espuma.

Assim é o amor: mortal e navegável.


Eugénio de Andrade

****************************************************************






um todo único

metade mim, metade tu

penso-te, sinto-te, adivinho-te

com intensidades serenas de ardor

creio-te, suponho-te, afago-te

com veemências
tranquilas de certezas

prendo-te, solto-te, medito-te

com firmezas e com amor!



****************************************************************


É suposto nomear dez blogues e cá vai:


Charlas








Provavelmente, alguns estarão a vociferar e a rogar-me uma praga e com toda a razão! Mas não se sintam obrigados a nada e ficamos amigos à mesma...
O importante é que nunca se esqueçam de amar, sempre!


Un petit rien...

.

Foto: http://www.allposters.com/


Fui renomeada pelo sonho a sul para os memes e adoro desafios. Nunca lhes resisto! Mas desta vez não bloqueei!!! Lembrei-me, subitamente, de alguns textos que foram escritos há anos e que fazem parte de uma colectânea intitulada, por enquanto : Memórias Afectivas. Trata-se de uma tentativa de perpetuar algumas emoções relacionadas com histórias vividas durante a infância e adolescência.

O meme que vos deixo baseia-se num dos textos e conta como foi o meu primeiro dia na escola «por dentro de mim»... e não, não vou renomear mais um blogue! Antes, lanço um repto a todos os que entenderem responder: lembrem-se e contem como foi o vosso primeiro dia na escola «por dentro» de vós mesmos.

Primeiro dia

A mão materna aperta com ternura, força e segurança os pequenos dedos, durante a subida, degrau a degrau, até ao patamar. O primeiro dia! A ansiedade tolda a visão agravada pelo estrabismo e alguma miopia. Uma névoa envolve os passos até à porta da sala, a entrada, os vultos. Vislumbra-se lá no fundo, ao pé da janela e ao lado secretária da senhora professora uma mesa grande, baixa, de tampo verde, rodeada de cadeiras como as que se vêem na feira para as crianças: de madeira e pequenas. Pouco a pouco, os contornos vão tomando forma: um quadro negro, uma secretária, carteiras de madeira, um mapa na parede, um globo. Vestidos de branco, os vultos reanimam-se e tomam vida. Falam, olham, riem… Na mesa grande e baixa, de tampo verde, aparece o caderno e o lápis. Os olhos esbugalhados percorrem o cenário. À volta da mesa: batas brancas, rostos apreensivos, cadeiras vazias… Os olhos fixos na porta e na figura de uma menina, também de bata branca, com os cabelos encaracolados e uns olhos de brotam lágrimas a fio. Aproxima-se e senta-se. As lágrimas saltam e circulam ondeando as faces rosadas. «Não chores» arrisco eu aflitivamente, esquecendo o quadro, o giz, o mapa, os cadernos, os lápis… e assisto, incrédula, àquela cena incompreensível. Chorar, porquê? Um nó na garganta apertava e obrigava-me a repetir: Não chores!
As palavras e as lágrimas descobriram um sentimento novo: a amizade.

11/06/2007

«memes»

.
Respondendo ao desafio de charlas e de adesenhar e, após um incontornável «bloqueio» , aqui estão os meus memes :


http://www.allposters.com/

amor / esperança / sonho


Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões


Não canto porque sonho.
Canto porque és real.
Canto o teu olhar maduro,
O teu sorriso puro,
A tua graça animal.
Canto porque sou homem.
Se não cantasse seria
somente um bicho sadio
embriagado na alegria
da tua vinha sem vinha.
Canto porque o amor apetece.
Porque o feno amadurece
nos teus braços deslumbrados.
Porque o meu corpo estremece
Por vê-los nus e suados.

Eugénio de Andrade

mar / lua / sol /mar / dia / noite / mar




O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.


Carlos Drummond de Andrade



http://www.ni-photos.jmcwd.com/moonlight-ireland3.jpg


Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?

Fernando Pessoa


http://www.1000imagens.com/

verdade / mentira

Se tudo o que há é mentira,
É mentira tudo o que há.
De nada nada se tira
A nada nada se dá.

Se tanto faz que eu suponha
Uma coisa ou não com fé,
Suponho-a se ela é risonha,
Se não é suponho que é.

Que o grande jeito da vida
É por vida com jeito.
Fana a rosa não colhida
Como a rosa posta ao peito.

Mais vale é o mais valer,
Que o resto ortigas o cobrem
E só se cumpra o dever
Para as palavras sobrem.

Fernando Pessoa


Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia Mello Breyner Andresen


palavras / palavras / palavras / palavras / palavras


Serão Palavras


Diremos prado bosque
primavera,
e tudo o que dissermos
é só para dizermos
que fomos jovens

Diremos mãe amor
um barco,
e só diremos
que nada há
para levar ao coração

Diremos terra mar
ou madressilva,
mas sem música no sangue
serão palavras só,
e só palavras, o que diremos.

Eugénio de Andrade in “Mar de Setembro” (1961)



De amores e de esperanças navego por mares
inundados de lua e de sol

De palavras e de sonhos alimento dias e noites



Para a divulgação de outros «memes» escolho: Abstracto Concreto

10/06/2007

Despedidas...


.Ontem, pela primeira vez na vida, fui a uma despedida de solteira. Apesar de não compreender a expressão no seu sentido mais amplo, fiquei a saber que se trata de um alegre e saudável convívio entre amigas (sem artefactos indecorosos, nem manifestações indecentes, nem espectáculos de cariz sexual), que fazem questão de lembrar à noiva que a partir do dia «fatal» vão acabar as «borgas» e começar as responsabilidades de esposa e de mãe, de acordo com as expectativas da sociedade... (?)

09/06/2007

Transparência(s) 3

.
http://www.1000imagens.com/


determinado, o direito avança
enquanto o esquerdo vacila

recolhida na voragem dos monossílabos hesitantes

esboço olhares que atravessam opacidades frágeis e intactas


transfiguram-se em imagens translúcidas

que sem cor, sem alma, sem dor, emergem possantes

de universos criados para alimentar saudades e fraquezas


reúno aliterações e metáforas e dou-lhes a cor de madrugada

pinto-as de calor e de sorrisos que encantam inesperados duendes

recolhida na força da água transparente que subjuga rios agitados

esboço singulares gestos que sugerem afagos e afectos

decididos, direito e esquerdo reconciliam-se e impetuosamente avançam


07/06/2007

Transparência(s) 2

.

http://olhares.aeiou.pt/

deslizo o olhar pela minha sombra

e deixo-a ali estática e entaipada


descalça de fantasmas piso a relva húmida de orvalhos matutinos

que em gotas se entrelaçam nas folhas decalcadas de verde

nua de hipocrisias dormentes

que rastejam pela margem

do rio de águas exaltadas pela luz de graciosos profetas

que de sorriso em sorriso pintam vales e montes e sóis e nuvens

dispo-me de espartilhos morais que ornam o pórtico da razão

e esgrimo ditongos que penetram palavras ausentes de sílabas


de intenções torpes crivo o olhar alheado de visões reticentes

assombrada de invisíveis intuitos metamórficos

diluo cortinas de flores estampadas e inspiro pedaços do tempo

que um dia foi mas volta sempre

regresso e retomo a sombra

que ali esperava estática e entaipada