31/01/2007

Miopia(s) 1

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um imperador turvo
impera num sem sentido
descoberto de sentidos
não dorme sonos indolentes

sem sonhos sem quimeras sem ilusões
míope de honras de louros de triunfos
apela grita e risca
avidamente

penedos e rochedos
abalados tremidos assustados
sedimenta diáfanos sóis
luzentes ardentes cegos

ditosos caminhos percorridos
de um futuro adiado
mas apetecido

30/01/2007

Lufadas de humor fresco!


Gato Fedorento - Assim Não

Curiosidades:

Portugal
tem uma superfície de 92 100 km2. O território continental (88500 km2) inscreve-se num rectângulo com 560 km de comprimento por 220 km de largura!!!

População: 10 569 900 habitantes

Língua oficial: hipocrisês, falada principalmente por mentes iluminadas à força de tanta literatura consumida avidamente, para ser «despejada» uma vez por semana perante as câmaras de televisão...

29/01/2007

Mundos à parte

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O Universo, na sua acepção cosmológica, exerceu, desde sempre, um desmedido fascínio no Homem que se dedicou a encontrar explicações para a sua origem, existência e até futuro.

"E se um dia ou uma noite um demónio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há-de retornar para ti, e tudo na mesma ordem e sequência."
Retirado daqui

Nietzsche concebeu a teoria do eterno retorno que assenta no pressuposto da existência de um movimento circular do tempo e das coisas, o que implicaria que tudo voltasse a acontecer uma infinidade de vezes. Por exemplo, amar a vida com o máximo de intensidade, significaria que isso se repetiria infinitamente. É linda esta metáfora, não é?!
Aliada ao amor fati poderia ser uma alavanca para nos apartar dos momentos desagradáveis com que o quotidiano nos vai pulverizando.
Lembro-me de A vida é bela, um filme que merece uma reflexão pela abordagem que faz do lado negro da vida digerido de forma positiva.

Este devaneio germinou a partir da visita ao sítio: the elegant universe uma aliciante sugestão do nosso já habitual comentador pirata vermelho.
Vale a pena!!!

As palavras

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São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

28/01/2007

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uma cordilheira de beijos paralisados
por espasmos soluços e prantos
gira numa roda de fogo e de gelo

anulam-se contínua e reflexivamente
sem deter entusiasmos ou cansaços
adormecem vontades
sem dramas, com tragédias
com dramas, sem tragédias
numa constante comédia circense
com actores que padecem
de imperfeições humanas
passadas presentes
e nos bastidores ocultos da solidão
resvalam para o apoteótico palco
de leve espuma durável

Claridade(s) 3

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a noite é um crepúsculo permanente de dúvidas sobre certezas tão definitivas como as estrelas que assinalam mais um firmamento perfeito alienado insensato de intuições infalíveis e evidentes que turvam a razão

a eloquência serena de prestidigitador inflige incisões no curso de água que corre solto pela face crestada pelo fogo de qualquer paixão indomável extensa perene nutrida de olhares oprimidos e candentes que suspendem o destino


25/01/2007

O último de Mel Gibson

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Programa de quarta-feira à noite numa cidade vigiada pelas montanhas sem neve do Marão:

Jantar de amigas em casa de M.M. seguido de uma ida ao cinema...
Após uma agradável conversa à volta da mesa recheada de boa comida (parabéns à cozinheira) regada com um bom vinho (não me perguntem qual, por favor...) lá fomos nós satisfazer a nossa curiosidade cinematográfica...
M.M. gosta de história e sabia tratar-se da civilização Maia; eu tinha visto a apresentação do filme e pareceu-me tratar-se de um épico a meu gosto; O.D. não queria ver pois tinha ouvido dizer que tinha duas ou três cenas violentas...

Prós: a fotografia do filme é notável; o desenrolar das cenas impede qualquer sonolência; tem uma alternância de planos interessante...

Inconvenientes: interdito a espectadores impressionáveis e susceptíveis a contracturas musculares, provocadas pela tensão contínua do início ao fim do filme! Quem vai à espera de aprender alguma coisa mais sobre a civilização Maia, esqueça! E ainda há que ter um grande fôlego para acompanhar a correria do Pata-Jaguar...

Apreciação global: contrariamente ao meu hábito, passei o filme a tecer comentários irónicos para aguentar a pressão; MM escondia o rosto nas cenas mais chocantes (tipo sangue a jorrar qual torneira aberta...); OD pagou o bilhete e não deve ter visto nem dois minutos seguidos, tal o horror que lhe provocava a tela! Ainda lhe emprestei os meus óculos de sol mas não resultou!

Decididamente, mal por mal, prefiro o inofensivo Mel Gibson quando lê e ouve o pensamento das mulheres!

24/01/2007

Claridade(s) 2


Fracciono-me num arco-íris enquanto a imagem espelha o espectro solar; a decomposição da luz através do prisma óptico afirma as leis da física. Tudo é como deve ser. Tudo está como deve estar.

O centro do sistema planetário ofusca a visão e determina os fantasmas que, de mão dada, porque não?! impingem a maior burla do século e, de pernas para o ar, movo-me respeitosamente por entre os vultos distorcidos e apaixonados... que extensão? que horizonte? que metas?

Avanço e recuo ao ritmo sincopado de palavras cavadas em imbecilidades caseiras - ora viva, como vai, como está essa saúde, está muito frio, o café é muito bom - brilho, porque ainda reservo a força na alma como se a tivesse.

Aliança, conexão, ponte: porque o outro lado existe.

23/01/2007

Claridade(s) 1

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Após uma semana de descanso regressei à minha rotina laboral (soa a linguagem sindical?!)...
Deparei-me com uma pilha considerável de papéis na minha secretária que provocou a imediata vontade de partir. Saliente-se que metade eram cópias do sinistro D.R. !!!
De arma em punho, rabisquei assinaturas, escrevinhei «autorizo», «deferido», «indeferido com base na alínea tal do ponto tal do despacho normativo tal...», «cumpra-se», recitei vagarosamente parágrafos ao meu cérebro que, incauto, lá ia absorvendo o que podia...
Aquele aparelho que serve para comunicar à distância sobressaltava-me, de vez em quando, com uma campainha que devia ser proibida em qualquer parte do mundo, de tão irritante soar!
O computador ligado, alheado e contemplativo, servia para passar os olhos, distraidamente, pelas primeiras dos jornais.
Não conformado a esta letargia, o meu orgulho profissional, ferido, demonstrava eficácia e determinação nas decisões.
Consciente do dever «comprido», regressei a casa ao fim do dia. Como quase sempre, a última a sair... o guarda-nocturno, com um encolher de ombros, saudou-me e repetiu, como quase sempre: tem que ser, não é?! Respondi energicamente, mais pelo arrepio de frio que me atravessou o corpo ao sentir a diferença de temperatura, do que por convicção: Pois tem!

21/01/2007

1,2... experiência



«Ver para crer» é um atributo que, por vezes, alguns usam para qualificar a minha incredulidade e cepticismo em relação a alguns assuntos mais, ou menos, sérios... se bem que, está clara a minha dissociação de qualquer santidade que possa suscitar esta classificação!
E, por isso mesmo, num ambiente de secretismo prudente, qual enredo dum policial tecido à volta do suspense, com o fim de manter o leitor apreensivo até ao último momento... deixo aqui uma única palavra:

sexo

Cenas do próximo episódio, só mesmo quando o meu «eu» estiver confrontado com resultados credíveis...

Intervalo para um filme



Este filme de Tony Scott, com Denzel Washington como protagonista, aborda o fenómeno do déjà vu, num ângulo de projecção do passado no presente, permitindo regredir no tempo, através de um aparelho que proporciona a viagem até ao momento anterior ao drama da explosão de um ferry de Nova Orleans, e modificar assim o rumo dos acontecimentos, salvando centenas de inocentes.
Não sendo o meu género de filme, dificilmente posso emitir opinião favorável. Uma corrida contra o tempo que nos provoca uma sensação de cansaço no final...

Esta expressão «déjà vu» que, pronunciada em bom francês, dá um toque de requinte a qualquer conversa, equivale a dizer «já visto». E esta sensação de um «flash» particular que nos dá a impressão da situação nos ser familiar, quando materialmente é impossível, tive-a há uns anos atrás...

Acompanhada de uma amiga, parti de férias sem rumo e, quando dei conta estava no Algarve, mais precisamente em Armação de Pera, onde nunca tinha estado anteriormente. Por nenhuma razão especial, decidimos montar a tenda (belos tempos esses de campismo!) por lá. Quando, ao entrar no parque, tive esse flash! Conduzindo até à recepção do parque de campismo, tive a nítida sensação que já ali tinha estado, repetindo os movimentos e até palavras! Mesmo as que proferi, quando comuniquei à minha amiga: «tive agora um déjà vu»!

A ideia da possibilidade de viajar até ao passado apresentada no filme, suscitou-me uma reflexão: se, de facto, tivéssemos a oportunidade de voltar atrás, o que mudaríamos nas nossas vidas?!
E não acredito que ninguém quisesse mudar rigorosamente nada!

«Se vão da lei da Morte libertando»



Sou renitente a comemorações dos nascimentos e dos centenários de escritores! O universo literário produzido e alimentado pelo criador impõe-se pela sua grandeza plurissiginificativa e singular, e realiza-se numa intemporalidade à prova de datas, de interesses e de protagonismos oportunistas que, subitamente, emergem de nenhures para celebrar a obra e vida de quem transpirou palavras e sonhos.
Também há quem, reconheço, se dedique à causa despretensiosamente... porque a cultura, para esses, é uma vocação, uma opção de vida, um modo de estar.
Seja como for, é nestas alturas que temos raras oportunidades de assistir a alguns eventos que evidenciam as facetas de Miguel Torga, por isso, aconselho a visitar: Centenário do Nascimento de Miguel Torga, no site da Delegação Regional da Cultura do Norte, onde se pode consultar a respectiva programação.


Perfil

Não. Não tenho limites.
Quero de tudo
Tudo.
O ramo que sacudo
Fica já varejado.
Já nascido em pecado,
Todos são naturais
À minha condição,
Que quando, por excepção,
Os não pratico
É que me mortifico.
Alma perdida
Antes de se perder,
Sou uma fonte incontida
De viver.
E o que redime a vida
É ela não caber
em nenhuma medida.
Miguel Torga

20/01/2007

RESPIRO-TE



Caminhei junto ao mar e porque te sinto, apesar de tudo!





respiro as ondas e sorvo as palavras
que te dançam num abraço
e te cantam num hino de ave

imenso excessivo intenso
beijo desfralda as velas
navega entre os dedos
e num passe de magia
enrola-se
no estrépido aplauso das ondas

voejas alheado das dunas
que escondem raros e preciosos
cursos de água doce
e repousas quieto
na ilusão de esperar

17/01/2007

Dizer-me de ti



Caminhei junto ao rio e porque te digo e te penso, apesar de tudo!


dizer-me de ti:
erro numa ausência prescrita
pelo teu olhar que me importuna
de noite de dia
de dia de noite

a tua ausência vem do mar
da lua do sol
da areia do rio
do campo da cidade
do perto do longe

não sucumbir
às tuas palavras
que de tão ocas
fazem sentido
no limiar do absurdo

tingir o teu cabelo
adulterar os teus olhos
mudar a tua voz
até que a ínfima minudência
detenha memórias
e enfim
dizer-me sem ti

16/01/2007

Um parêntesis na desorientação



Egon Shiele

Um parêntesis no tempo e na vida que cinge pensamentos soltos, como se numa cela existisse. Uma luz lúgubre denuncia a odiosa janela atravessada por execráveis barras de ferro.
Cinzentos, os tons de sombras despovoadas e de cores matizadas, exumam do esquecimento o alvoroço remoto, enquanto o vermelho abominável dos olhos tão doces e devassos serpenteia pelo trajecto sinuoso e arqueado.
Afastou-se, desferindo golpes de brilhos robustos e vigorosos:
- muito bem, passe à frente que é a sua vez!
Lajeou a extensão que se lhe deparava, subitamente, e ergueu um palácio de mármore.
A mágoa derreteu castelos e trevas e sumiu entre árvores enfermas e derrotadas.
Ergueu-se num suspiro que trepou pelas nuvens, agora extintas de branco, e dissipou ternuras dolentes de afecto e gritou:
- é a sua vez! retire-se!

14/01/2007

(DES)orientação sem parêntesis!!!



Recordo a expressão e reacção da minha avó, quando lhe anunciava provocatoriamente alguma novidade mais adiantada no tempo e ideias: - então... - dizia com um encolher de ombros simultâneo.
Não a entendia nessa altura, mas dava-me especial prazer a sua atitude de indiferença e resignação...
Já cheguei ao ponto em que compreendo esse olhar distante, como se o mundo a ignorasse e ela retribuísse da mesma forma, como se ambos vivessem numa irreconciliação sem retorno!
Mas, de quando em vez, concedo-me um parêntesis preenchido com alguma indignação ou, pelo menos, espanto!

Então o ministro da Saúde tem um sentido de humor tão refinado que se permite tecer «piadas» em público, sobre enforcamento ?!
Tempos houve em que momentos infelizes do género implicava a demissão!

(DES)orientação!


Quem está no terreno conhece bem as dificuldades decorrentes de mais uma experiência pedagógica! Esta, no âmbito da língua portuguesa, que tão mal tratada tem sido...

A TLEBS - Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário - gerou uma enorme confusão nas escolas, dado que a formação específica na área foi restrita e deixou de fora a maior parte dos docentes, que se viram confrontados com o facto de aplicar a nova terminologia nas aulas, sem tempo para a devida preparação.

Mas, como no reino do faz-de-conta vale tudo, leia esta notícia do DN.

Aqui, no DGIDC pode consultar mais informações sobre este tema.

E ainda a propósito...

E agora?! Se achar que deve, assine a Petição!

REcuos 1, 2 , 3


Jornada enebriante
Pôr do sol encandescente
Obscuridade estonteante

Rompo estrelas pelo universo dentro
Na esperança de encontrar o cometa
Maléfico e bemfazejo
De um luar mitológico e distante

Jaz no planeta monstro
Segue a tua viagem
Clareia o dia
E sufoca as margens
Da vida perene e fácil
De tão míope e viril.

29 / 09 /2004


A angústia devora os nervos do meu ser …
A saudade amordaça-me e impede o grito que se gera cá dentro…
A solidão é o monstro que me priva de alcançar a luz
que se infiltra através dos quadrados da minha cela…
A loucura é a evasão à irracionalidade e o encontro da doce alienação,
da qual emerge a felicidade!

15/09/1983


Esperança
Que vacila
E se perde.
Cansada e viva,
Extenuada.
A madrugada vem
E renasço.

O sol não se põe
e a luz ofusca a razão.
Cega-me a claridade
Da lua cheia, esmoreço.

A lágrima hesita
E une-se em fio
À minha desgraça.

E tu dormes
E não sonhas.
Não vês o buraco
Onde caio.
Acordas e vais,
tonto e apressado.
E não tropeças
Nas lágrimas
Que não viste.

06/10/95

O sabor do tempo


Quando a primavera desponta, os sonhos infiltram-se nas veias e correm no sangue. É-se atacado de febres extremas que nos impelem para um futuro desconhecido, que nos aguçam a curiosidade e nos lançam irreflectidamente numa ânsia de descobrir quem somos. É o desabrochar lento e ansioso de todas as flores, de todos os jardins da alma. O não e o sim fustigam-nos e a incerteza toma a cor da esperança.

O calor sereno vem espraiar-se, subitamente! O barulho do mar entontece-nos e o medo dissipa-se entre os fios brancos da luz. O sonho é verdade e a vida acontece no demérito casuístico.

Da janela vislumbramos a paisagem envolta no ar nevoento e nevoso. Será então assim?...

E uma folha perpessa os ramos num movimento oscilante e vagaroso, iniciando a queda irreversível, desenhando no tronco e no âmago cicatrizes pungentes, momentos translúcidos e gotas de sangue e de suor.

O esqueleto pálido contrasta no fundo negro, despe a silhueta e mostra a nudez do espírito. A calma sobrepõe-se ao desalento, a luta expia-se na efervescência sonhada.

Do alpendre avista-se o lago de águas imóveis, as árvores corcundas, as flores sem viço e uma extensão de sabedoria, de indiferença, de ironia, complementando o ser que deixou de ser.

24 /03 /98

13/01/2007

Nuvem cósmica num mar imenso




Um mar cheio de oceanos invadiu-me por dentro e por fora.
Permaneci uma ilha envolta num arquipélago de muralhas.
Soltei o olhar pelas constelações, galáxias, cometas...
Mergulhei no buraco negro,
certa de que o Universo e todos os acontecimentos que contém,
se repetem ou repetirão eternamente da mesma forma!

11/01/2007

Um outro olhar sobre Lisboa - Dakar





A competição desportiva Lisboa - Dakar é uma aventura que suscita uma diversidade de sensações únicas, quer para os participantes, quer para os que acompanham este evento, no qual, além da perícia técnica, é testada a resistência física dos pilotos.
É uma prova emocionante que envolve uma máquina humana gigantesca, aliada ao mundo fascinante da mecânica, em que tudo é observado ao pormenor, a fim de evitar o menor erro que pode pôr em causa o trabalho de anos.
O rally mais célebre do mundo deve o seu impacto à possibilidade de divulgação que os media proporcionam, hoje em dia, a qualquer acontecimento.
A fim de acompanhar o desenrolar da prova, coloquei o link Objectivo Dakar na barra lateral, que é um blog do JN.
Hoje, como o tempo se deu ao luxo de me deixar em paz, vasculhei com mais atenção o blog e deparo-me com o «fora de pista» de Alfredo Leite que nos dá conta de uma perspectiva bem diferente, mas sem dúvida muito interessante desta magnífica prova.
Gostei especialmente do «Tâmaras no palmeiral».
Numa linguagem atractiva e sugestiva, A.L. denota uma especial veia de escritor que, neste caso, se sobrepõe às suas qualidades de jornalista. A selecção das fotos é muito feliz, pois são de uma extrema expressividade e complementam o tom vivo que perpassa pelos textos.
É gratificante verificar que há exemplos assim nesse meio que, por vezes, anda pelas ruas da amargura com tantos jornalistas a usarem o «nome profissional» para se dedicarem aos deleites da escrita...E pergunto: porque não usam um pseudónimo?!
Entretanto, podem atestar o que acabei de dizer lendo o «fora de pista».

10/01/2007

Sem discussão



No sítio da Comissão Nacional de Eleições podemos ler:


«O Presidente da República marcou a data de realização do Referendo Nacional para o próximo dia 11 de Fevereiro de 2007.
Os cidadãos eleitores recenseados no território nacional irão pronunciar-se sobre a seguinte questão:
«Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?».

FINANCIAMENTO DA CAMPANHA DO REFERENDO - Deliberação da CNE de 9 de Janeiro

- Não é permitida a contribuição de partidos para a campanha de grupos de cidadãos eleitores (à excepção do caso em que o partido ou a coligação declara participar na campanha do referendo através de grupos de cidadãos eleitores);
- A publicação do nome do mandatário financeiro deve ocorrer até ao dia 9 de Fevereiro - último dia de campanha do referendo - já que por aplicação do prazo estipulado para as eleições, o prazo recairia no dia da realização do referendo e, nessa medida, a CNE considera que a publicação de tal anúncio não pode acontecer nem no dia de reflexão, nem no dia de votação.
Chama-se a atenção que o prazo para a entrega do orçamento de campanha à CNE termina no próximo dia 12 de Janeiro.»

Vagueando por diversos blogs, deparei-me com posições mais ou menos extremadas quer a favor, quer contra a despenalização da IVG.
A propósito. recordo uma frase que escrevi, há mais de vinte anos, no livro em branco, que me foi oferecido pela minha melhor amiga de sempre:

«No universo da hipocrisia quero apenas os grãos de areia
que voam com o vento!»


Estranho como uma decisão do foro íntimo da mulher pode ser debatida numa guerra sem tréguas de argumentos de todo o tipo, que desvirtualiza a questão central e alimenta tanta hipocrisia?!
Vão chover protestos, elogios e sei lá que mais... mas também esta questão é do meu foro íntimo e, como tal, reservo-me o direito de não responder a qualquer comentário que, eventualmente, possam vir a fazer.

NOTA: Seria interessante conhecer as fontes de financiamento de todos os movimentos... num país onde a palavra «crise» é fatal, decerto que há curiosidade em saber!


09/01/2007

Cativar 3


Chanson triste

Chanson juste pour toi,
Chanson un peu triste je crois,
Trois temps de mots froissées,
Quelques notes et tous mes regrets,
Tous mes regrets de nous deux,
Sont au bout de mes doigts,
Comme do, ré, mi, fa, sol, la, si, do.
C'est une chanson d'amour fané,
Comme celle que tu fredonnais,
Trois fois rien de nos vies,
Trois fois rien comme cette mélodie,
Ce qu'il reste de nous deux,
Est au creux de ma voix,
Comme do, ré, mi, fa, sol, la, si, do.
C'est une chanson en souvenir
Pour ne pas s'oublier sans rien dire
S'oublier sans rien dire


Cativar com uma canção triste de amor triste como são todas as tristes canções de amor...

Cativar 2


O hábito de ler nem sempre obedece a um ritual sistemático e impositivo, mas antes a uma necessidade imperiosa de rodopiar por letras impressas, que se modulam em páginas e têm o dom mágico de nos manter imersos num mundo subaquático fascinante.
A imagem da água pode ser substituída por outras, conforme a vontade de voar, de nadar, de respirar, de correr...
Após esta introdução nonsense remeto para uma postagem antiga (17 de Dezembro de 2006) intitulada «No alto da Serra do Marão».
Ontem, quando os olhos teimavam em subsistir abertos por mais alguns minutos, iniciei a leitura deste conto, se assim se pode nomear.
Tal foi a pressa em acabá-lo que, no fim, o relógio digital marcava 03:15!!!
A cada página que lia esperava que o estilo mudasse de tom, a narrativa se enriquecesse morfológica e semanticamente, a personagem tomasse um rumo próprio e impusesse à acção uma dinâmica inesperada.
Na última página, apercebi-me de que as minhas expectativas saíram goradas. Não é uma sensação agradável quando a leitura de um livro deixa um amargo de boca difícil de adocicar.
Além de um ou outro erro ortográfico, de passagens eróticas completamente insípidas e repetitivas, e de uma construção linear de acontecimentos que gera monotonia e algum fastio até, o criador não soube catapultar a história para um verdadeiro drama humano vivido pela personagem principal, quer na vida real, quer na ficção.
Notei, agora mesmo, ao olhar de relance a capa, que já vai na terceira edição... Ando com problemas de visão e de audição!
Ou foi alucinação ouvir os títulos mais vendidos em Portugal em 2006?!
Cativar implica bom gosto! A literatura não é excepção!

06/01/2007

Cativar 1

«-Viens jouer avec moi, lui proposa le petit prince. Je suis tellement triste…
-Je ne puis pas jouer avec toi, dit le renard. Je ne suis pas apprivoisé.
-Ah! Pardon, fit le petit prince.
Mais après réflexion, il ajouta :
-Qu'est-ce que signifie "apprivoiser"?
(...)
-C'est une chose trop oubliée, dit le renard. Ça signifie "Créer des liens…"
-Créer des liens?
-Bien sûr, dit le renard. Tu n'es encore pour moi qu'un petit garçon tout semblable à cent mille petits garçons. Et je n'ai pas besoin de toi. Et tu n'a pas besoin de moi non plus. Je ne suis pour toi qu'un renard semblable à cent mille renards. Mais, si tu m'apprivoises, nous aurons besoin l'un de l'autre. Tu seras pour moi unique au monde. Je serai pour toi unique au monde…
(...)
Le renard se tut et regarda longtemps le petit prince :
-S'il te plaît… apprivoise-moi! dit-il.
-Je veux bien, répondit le petit prince, mais je n'ai pas beaucoup de temps. J'ai des amis à découvrir et beaucoup de choses à connaître.
-On ne connaît que les choses que l'on apprivoise, dit le renard. Les hommes n'ont plus le temps de rien connaître. Il achètent des choses toutes faites chez les marchands. Mais comme il n'existe point de marchands d'amis, les hommes n'ont plus d'amis. Si tu veux un ami, apprivoise-moi!
-Que faut-il faire? dit le petit prince.
-Il faut être très patient, répondit le renard. Tu t'assoiras d'abord un peu loin de moi, comme ça, dans l'herbe. Je te regarderai du coin de l'oeil et tu ne diras rien. Le langage est source de malentendus. Mais, chaque jour, tu pourras t'asseoir un peu plus près…
Le lendemain revint le petit prince. »

Para recordar a bela obra de Saint Exupéry clique aqui!

A propósito de «amizade»...
Aceitei o convite porque vinha de um endereço de um amigo.
Preenchi o perfil... coloquei foto...
Aventurei-me então pelos links que iam aparecendo e descobri: o meu filho tem setenta amigos(as), o meu sobrinho tem quatrocentos e cinquenta amigos(as), outro amigo meu tem mil e sessenta e três amigas...
Além de perplexa com a grandeza dos números, fiquei confusa!
Ainda mais quando comecei a descobrir que há amigos que só têm amigas... loiras, morenas, ruivas, mas todas lindas e com pouca roupa e, ainda fazem questão de comprovar o facto, através da galeria de fotos de belas raparigas de todas as idades!!! A minha perplexidade e confusão aumentou quando verifiquei que se passava rigorosamente o inverso: amigas com uma lista de amigos lindos de morrer!
Atónita fiquei com os comentários telegráficos às fotografias porque qualquer apresentação traduzida por palavras mais ou menos sensatas, são ignoradas.
Ora pensando bem, isto até pode ser uma «coisa» a estudar! Esta rede de amigos de amigas de amigos de amigas de amigos de amigas... é um laboratório para alguns domínios científicos!
Dão-se alvíssaras para quem indicar estudos já realizados nesta área da globalização da amizade!
Cativar, seduzir, fascinar, encantar... são termos que ainda constam do dicionário?!

04/01/2007

Predador ou sedutor? Eis a questão!


Por razões que me decido a omitir neste momento, porque a mão me obriga e porque a mente ferve sobre o assunto, surgiu-me a questão:
Hoje em dia que arte é utilizada para exercer a atracção entre macho e fêmea?!
«Vou na auto-estrada de moto, ultrapasso um descapotável conduzido por uma mulher e, quando posso, páro. Ela também. Trocamos números de telefone. O relacionamento durou dois anos!»
Acreditem ou não, isto é verídico!
«Um contacto da net. Pensamento imediato ao vê-lo pela primeira vez: «É este!» como se de longa data o esperasse. Três encontros e três dias tórridos no Algarve. Depois, afastamento e aproximação através de sms, de aparições repentinas, mas sem intimidade! Durante 20 meses! Ponto final!»
Dois casos que chegaram até mim pelos próprios intervenientes...
Existe, ou não, ainda a arte de sedução?!
Que abordagem preferem os homens e as mulheres dos nossos dias?
Vale a pena investir nas relações amorosas?
Tema a discutir durante os próximos 100 anos!!!

03/01/2007

Novidade



Qualquer novo projecto merece o benefício da dúvida,

por isso, abstenho-me de comentários e de opiniões, por enquanto...

Ora vejam esta novidade: vilareal.tv!!!

02/01/2007

METRO DE MOSCOVO!

Flutuações 2 (versão II)


APRENDER

Depois de algum tempo, aprendes a diferença, a subtil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma.
E aprendes que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança.
E começas a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. (...)
E não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai ferir-te de vez em quando e precisas perdoá-la por isso.
Aprendes que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobres que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que podes fazer coisas num instante, das quais te arrependerás pelo resto da vida.
Aprendes que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias.
E o que importa não é o que tu tens na vida, mas quem tens na vida. (...)
Descobres que as pessoas com quem mais te importas na vida, são tiradas de ti muito depressa; por isso, sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas; pode ser a última vez que as vemos. (...)
Aprendes que quando estás com raiva tens o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de seres cruel.
Aprendes que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém.
Algumas vezes tens que aprender a perdoar-te a ti mesmo.
Aprendes que com a mesma severidade com que julgas tu serás em algum momento, condenado.
Aprendes que não importa em quantos pedaços teu coração foi partido, o mundo não pára para que o consertes.
E, finalmente...
Aprendes que o tempo, não é algo que possa voltar para trás.
Portanto, planta o teu jardim e decora a tua alma, ao invés de esperar que alguém te traga flores.
E percebes que realmente podes suportar... que realmente és forte, e que podes ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.
E que realmente a vida tem valor, e que tu tens valor diante da vida! (...)
E só nos faz perder o bem que poderíamos conquistar, o medo de tentar!

Shakespeare
Obrigada, meu querido Carlos, por esta versão! E já agora ainda há mais aqui.