SEM LIMITES, SEM FRONTEIRAS, SEM TEMPO, SEM ESPAÇO, SEM COR, SEM NACIONALIDADE, SEM SEM SEM...
22/12/2011
20/12/2011
Nu(s)
Foto: Google
dispo-me da pele rasgada
e mergulho (s)em ti
nas águas intensas e frias
na imensidão do lago
que te quero dar
no universo sem limites
que me ofereces
e um impulso gerado na escuridão
foge para a margem da plenitude
que seria
e nu(s)
e livres
nós
Irene Ermida
sem nó(s)
e na vontade de percorrer caminhos estranhos
estranha a mim que não existo
nessa estrada que todos percorrem
e vou numa descoberta
incompreensível
incerta
e viajo sem correntes
há um nó(s) solto
não há amarras nem portos
há um navio num horizonte
e há um amor
sem alcance
sem prudência
e olho as conchas
e sinto-as minhas.
e olho as ondas
e sinto o mar.
Irene Ermida
16/12/2011
“Filho é um ser que nos foi emprestado para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isto mesmo ! Ser pai ou mãe é o maior acto de coragem que alguém pode ter, porque é expor-se a todo o tipo de dor, principalmente o da incerteza de estar a agir correctamente e do medo de perder algo tão amado. Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo”.
José Saramago
15/12/2011
GWTW - Vivien Leigh - '...tomorrow is another day...'
Podem magoar-me, que perdoo...
Podem derrubar-me, que me levanto...
Podem odiar-me, que amo ainda mais!
13/12/2011
Sem tempo
Imagem do Google
espremo o tempo contra o peito
como se dele quisesse mais alguns segundospara o ter na minha mão e deixá-lo fugir
o meu tempo é a estrada
sou partida
sou chegada
cansada
nasci sem tempo
sem asas
e não há pensamento
nem entendimento
para o que sinto
e nada
nada traz o vento
e não sei fugir
só sei planar invisível
num vácuo onde atraso os ponteiros da ausência
de mim e do mundo.
Irene Ermida
22/11/2011
Trilho(s) 3
e há um sol que queima por dentro
e consome o ar e a terra de uma partida
e há uma pena perpétua
que acaba no tempo que sonho
sem um trilho atrevido
que me engole no vácuo
há uma palavra que dita o silêncio
e não há distância que esquece
os passos medidos entre nós.
Irene Ermida
19/11/2011
Trilho(s) 2
sigo o trilho até ao fim de mim mesma
que me leva a memórias de areia e de mar
e há cheiros a sal feitos de água
que jorram de sonhos (des)feitos
ao sabor de lágrimas e de risos
tranquilos e escondidos
que correm atrás de horas
sempre de imagens sobrepostas
numa tela que não é minha.
Irene Ermida
12/11/2011
10/11/2011
09/11/2011
Trilho(s) 1
ditas, em silêncio, que ecoam cá dentro
não há mas nem sim nem não
há uns talvez que mantêm
a nuvem escura e padecem
na sombra escura de mim
nas entrelinhas de quem sou
nos intervalos de quem fui
não vês o que apagas de ti
na vereda que ladeia
o caminho que sou
e algo não esmorece
e permanece.
Irene Ermida
28/10/2011
09/10/2011
O Amargo Destino do Sonho
«Aí residia a sua força e a sua virtude, aí era invergável e incorruptível, aí o seu carácter era firme e rectilíneo. No entanto, esta virtude trazia estreitamente ligados a si também o seu sofrimento e o seu destino.
Acontecia-lhe o que a todos acontece: aquilo que por impulso da sua mais íntima natureza demandava e em que se empenhava com a maior pertinácia, era-lhe concedido, mas ultrapassando aquilo que ao homem é benéfico. O que começava por ser sonho e felicidade, redundava em amargo destino.»
Hermann Hesse, in "O Lobo das Estepes"
és a metade que me nega
que se recusa no tormento do esquecimento
és o sinal longínquo de um barco arrancado às tormentasamputada do meu corpo, exilada no teu deserto
os olhos já não são olhos
e as mãos abrem-se no limiar do sorriso
não há invenção de dias e de noites
há a tristeza e os tremores das lágrimas
que se escondem em poesia.
Irene Ermida
Fio de luz (3)
...e num mar de sonhos não resistia à forte corrente que a fustigava, que a estremecia numa estrela, que a rodeava de (in)sentidos, de meias-luas, de ventos solitários... deixava-se ir para o abismo pelos caminhos de um amor avassalador. E não via o horizonte que lhe mostrava as nuvens densas dentro de si. E não via a luz cortada de sombras, nem o azul de um mar entontecido pelas marés. Via a margem onde os seus pés teimavam na areia movediça de pantanosos círculos. E tudo era imenso como o mistério de um profundo (a)mar.
Irene Ermida
25/09/2011
Fio de luz (2)
Saltou da margem de si mesma e mergulhou nas águas do rio que se abria de par em par como se ele tivesse estado ali, sempre, à sua espera. Não nadou contra a corrente que a espreitava e lançou-se na transparência da escuridão e via... via tudo que sempre viu, numa vertigem que a fazia voar e sorrir. E o rio segredou-lhe o vento e mostrou-lhe o mar, tingido de tantas cores de oceanos onde o tempo não era tempo e a luz era luz.
Irene Ermida
28/08/2011
Fio de luz
Dominou-a um cansaço extremo como se o peso do mundo fosse apenas uma pena que cambaleando pelo ar lhe tivesse caído em cima dominasse todos os seus movimentos e numa paralisia total nem os olhos abria... eram as cenas repetidas de um filme clássico que se projectavam no seu íntimo e não se mexia... assistia... misturada numa plateia imóvel também, suspensa por um fio de luz sem tamanho nem cor... sabia que extinta a luz o filme repetir-se-ia vezes sem conta num contínuo fluir de imagens. Fechou os olhos e sorriu, alheada de si, e presa no feixe de luz que lhe fugia.
Irene Ermida
06/08/2011
há palavras...
Imagem: https://www.facebook.com/modernart21
há palavras que ficam presas no ar quando te respiro e te sinto em mim
numa espiral de sentidos tão sentidos e sem sentido
que só a loucura do amor entende o sonho que vagueia por jardins de emoções
e uma interrogação que acende gélidos vulcões
e explode em ondas que não são minhas mas são tuas
como se nada existisse entre os dedos colados das minhas mãos nas tuas
e o sorriso que descobre o momento que acontece sem tempo nem medida
que possa desvanecer a imagem de dois num só
e num mundo que gira no sentido que nós queremos
e toma a forma do que sentimos e renasce e cresce na absoluta certeza
entre uma lágrima que enternece e um sorriso que consome o destino infalível
e morro na tua boca que me inunda a alma
e o pensamento foge de mim para ti
numa pressa que só tu entendes
e amo o que há em ti,
amo o que há em nós.
Irene Ermida
11/06/2011
10/06/2011
02/06/2011
01/06/2011
25/05/2011
Dêem-me...
Dêem-me um espaço
pequeno que seja
que faço dele um mar de cores...
Dêem-me um espaço
pequeno que seja
que faço dele um oceano de sons...
Mas não me dêem as cores nem os sons!
pequeno que seja
que faço dele um mar de cores...
Dêem-me um espaço
pequeno que seja
que faço dele um oceano de sons...
Mas não me dêem as cores nem os sons!
03/05/2011
Golpe(s)
são golpes de nuvens
que resistem à luz
e não sabem onde cair
e não ferem as sombras
que se desviam entre os ramos vestidos de pedra
numa súbita evasão feita de fogo e de água
são golpes de vozes que estremecem a um cantoe desfiguram os rostos ocultos que perdem a cor
soltam-se as mãos amordaçadas de palavras
e inflamam-se os olhos inertes e opacos
são golpes que sorriem e choram
e se calam num silêncio que não dorme.
Irene Ermida
02/05/2011
Sem razões...
não as há no sol, no mar, na noite
razões... que se procuram
para enganar o tempo
e o espaço dentro de nós
razões... que se procuram
para enganar o tempo
e o espaço dentro de nós
um espaço metade medo metade fuga
e se mais metades houvesse
não haveria razões
apenas invenções
Irene Ermida
05/03/2011
A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Záfon
Não resisto a partilhar estes extractos deste maravilhoso livro:
«Cada livro, cada volume que vês, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro muda de mãos, cada vez que alguém desliza o seu olhar pelas suas páginas, o seu espírito cresce e torna-se forte.»
« - Aquela mulher é um vulcão à beira da erupção, com uma líbido de magma ígneo e um coração de santa - disse, derretendo-se todo. - Para estabelecer um paralelismo veraz, lembra-me a minha mulatinha lá em Havana, que era uma beata muito devota. Mas, como no fundo sou um cavalheiro dos de antigamente, não me aproveito, e com um casto beijo na face me conformei. Porque eu não tenho pressa, sabe? Há por aí pategos que acham que se puserem a mão no cu a uma mulher e ela não se queixar, já a têm no papo. Aprendizes. O coração da fêmea é um labirinto de subtilezas que desafia a mente grosseira do macho trapaceiro. Se quiser realmente possuir uma mulher, tem de pensar como ela, e a primeira coisa é conquistar-lhe a alma. O resto, o doce envoltório macio que nos faz perder o sentido e a virtude, vem por acréscimo.»
«- Alguém disse uma vez que no momento em que paramos a pensar se gostamos de alguém, já deixamos de gostar dessa pessoa para sempre»
«- Não sei o que me deu. Não te ofendas, mas às vezes uma pessoa sente-se mais à vontade para falar com um estranho do que com pessoas que conhece. Por que será? (...)
- Provavelmente porque um estranho nos vê como somos, e não como quer acreditar que somos.»
«(...) o destino costuma estar ao virar da esquina. Como se fosse um gatuno, uma rameira ou um vendedor de lotaria: as suas três encarnações mais batidas. Mas o que não faz é visitas ao domicílio. É preciso ir atrás dele.»
«O tempo ensinou-me a não perder as esperanças, mas a não confiar demasiado nelas. São cruéis, vaidosas, desprovidas de consciência.»
«Bea diz que que a arte de ler está a morrer muito lentamente, que é um ritual íntimo, que um livro é um espelho e que só podemos encontrar nele o que já temos dentro, que ao ler aplicamos a mente e a alma, e que estes são bens cada dia mais escassos.»
16/02/2011
A escrita leve de Sepúlveda flui no contexto histórico do Chile, entre o humor e a reflexão mais séria de alguns representantes de uma geração, que lutou por um ideal, conheceu o exílio e vive da memória traída. Recomendo.
«Nunca confies na memória porque está sempre do nosso lado: suaviza a atrocidade, dulcifica a amargura, põe luz onde só houve sombras. A memória tende sempre à ficção.»
A Sombra do que Fomos, de Luis Sepúlveda
13/02/2011
Estas coisas de astros...
A ciência é o suporte para a maioria do conhecimento e o meu cepticismo perante explicações rebuscadas de espiritualismos talvez até me impeça de conhecer outras explicações, mas quanto à astrologia tenho as minhas crenças! É que lendo isto, há passagens que são um autêntico espelho!
http://www.fototelas.com.pt/signo_de_caranguejo.htm
http://www.fototelas.com.pt/signo_de_caranguejo.htm
09/02/2011
Assombrada? Não!
Sou o fantasma de um rei
Que sem cessar percorre
As salas de um palácio abandonado...
Minha história não sei...
Longe em mim, fumo de eu pensá-la, morre
A ideia de que tive algum passado...
Eu não sei o que sou.
Não sei se sou o sonho
Que alguém do outro mundo esteja tendo...
Creio talvez que estou
Sendo um perfil casual de rei tristonho
Numa história que um deus está relendo...
Que sem cessar percorre
As salas de um palácio abandonado...
Minha história não sei...
Longe em mim, fumo de eu pensá-la, morre
A ideia de que tive algum passado...
Eu não sei o que sou.
Não sei se sou o sonho
Que alguém do outro mundo esteja tendo...
Creio talvez que estou
Sendo um perfil casual de rei tristonho
Numa história que um deus está relendo...
Fernando Pessoa
Ao meu filho, pela palavra que me deste!
Não vivo assombrada por fantasmas. Assombram-me os presentes, que se movem num pântano de emoções e sensações, toldadas de descrença, de pessimismo, de desesperança, de dúvidas, de hesitações; que se lamentam eternamente pelo que foram ou viveram e escolhem continuar a deslizar na mesmice da rotina, sem um rasgo de mudança, num hábito de si próprios sem saberem o que realmente são sem os outros. Como se a sua vida dependesse de um milagre suspenso que vai acontecer a qualquer momento adiado. Que escolhem ter algo, alguém ou alguma coisa para que tudo faça sentido, um álibi para o seu crime de desperdiçar tempo e justificar a sua (in)existência no presente.
Esquecem o valor do casual, do imprevisto, do espontâneo, do momento e encolhem-se na vastidão de uma marcha cadenciada de ritmos alucinantes para não pensarem e saborearem a vida. Acordam sem sorrir e fechados ao desconhecido e ao improvável, esperando apenas que chegue de novo a noite e possam dormir, com uma insónia pelo meio, para no dia seguinte repetirem o sagrado quotidiano que os automatiza.
Quando a vida, subitamente os confronta com uma verdadeira e real tragédia que os faz tremer de verdade, há os que lamentam a oportunidade perdida e não poderem voltar atrás para fazer o que evitaram, desanimam e não vêem motivos para lutar, já que foi sempre assim; e há os que olham para trás e pensam que, afinal, até tiveram uma boa vida cheia de bons e maus momentos, e que, por isso mesmo, vale a pena lutar sempre e agarram-se à vida num combate com a natureza por vezes desigual.
Há quem espere ser feliz e há quem seja feliz por não ter esperado e ter feito as coisas acontecerem. Há quem viva conformado com o inconformismo e há quem, sempre inconformista, se sinta sereno por saber que, essa dádiva que é a vida, é um bem precioso de valor incalculável.
Há quem alimente um ideal esperando… Há quem alimente um ideal e o concretize em cada pequeno gesto, numa simples palavra, num sorriso…
Não somos todos iguais, mas cada um de nós pode desenvolver um esforço, por menor que seja, para modificar o dia-a-dia dos outros (acredito eu, apesar de, paradoxalmente, ter os meus momentos de descrença).
Irene Ermida
08/02/2011
pois...
na teoria é fácil...
"Algumas pessoas desconfiam do carácter instintivo das emoções e reprimem-nas porque receiam sofrer ou mesmo perder o controlo das suas vidas, mas tentar viver à margem das nossas emoções é uma falácia: não só nos limita, como as emoções reprimidas passam ao inconsciente e são muito mais inconsoláveis nessa parte da nossa mente"
http://www.jn.pt/VivaMais/interior.aspx?content_id=1775906&page=-1
"Algumas pessoas desconfiam do carácter instintivo das emoções e reprimem-nas porque receiam sofrer ou mesmo perder o controlo das suas vidas, mas tentar viver à margem das nossas emoções é uma falácia: não só nos limita, como as emoções reprimidas passam ao inconsciente e são muito mais inconsoláveis nessa parte da nossa mente"
http://www.jn.pt/VivaMais/interior.aspx?content_id=1775906&page=-1
Paradoxo(s) 3
não escrevi uma letra de canção numa tarde que tardava ao fim do dia como se a noite saltasse e me afagasse numa névoa tão nítida que as estrelas suavizavam a escuridão que me prendia
não escrevi uma letra de canção que falava de amor nem de paixão mas só desse horizonte que me perpassa a cada segundo sem tempo contado nem retido na minha mão
não escrevi uma letra de canção mas podia tê-la escrito se a mão soltasse ao vento pétalas de mim e de ti sem escravidão de existir entre muros erigidos entre nós
não escrevi uma letra de canção que falava de amor nem de paixão mas só desse horizonte que me perpassa a cada segundo sem tempo contado nem retido na minha mão
não escrevi uma letra de canção mas podia tê-la escrito se a mão soltasse ao vento pétalas de mim e de ti sem escravidão de existir entre muros erigidos entre nós
Irene Ermida
Paradoxo(s) 2
fechei a porta que se abria sobre um mar deslizante e suave e voltei a fechá-la não a sete chaves mas a um número potenciado ao infinito para que dúvidas não restassem sobre a viagem no tempo
fechei a porta que se fechava e abria num vendaval de sombras dançando à volta da fogueira e mais não havia senão fantasmas criados e alimentados por um diabólico monstro incansável
fechei a porta mas ela abriu-se de um sopro matinal que acordava precocemente de um sono feito leito onde me aconchegava até ao limite de quem sou
fechei a porta que se fechava e abria num vendaval de sombras dançando à volta da fogueira e mais não havia senão fantasmas criados e alimentados por um diabólico monstro incansável
fechei a porta mas ela abriu-se de um sopro matinal que acordava precocemente de um sono feito leito onde me aconchegava até ao limite de quem sou
Irene Ermida
Paradoxo(s) 1
acontece por vezes as memórias deixarem de ser o que pensávamos terem sido porque ela própria nos atraiçoa e inventa o deserto e o oásis que se alternam nas mágoas e alegrias que supomos querer na vida
acontece por vezes ficarmos presos no limbo do que queríamos e não tivemos e do que tivemos e não queríamos afinal ter tido porque as lembranças do gosto, do cheiro e do toque alimenta a hora
acontece não ter acontecido e querer tanto que sonhamos um passado em vez do presente que pintamos as recordações de tons coloridos para não enfrentarmos o medo de sermos hoje
Irene Ermida
03/02/2011
Frontalidade amena
Convicta, em tempos que já lá vão, comentei com um amigo: «Tenho um defeito: sou frontal». Ao que ele me respondeu, de modo igualmente convicto: «Isso é defeito?!»
Nunca mais pensei nisso... até agora. A pergunta exclamativa e retórica do meu amigo ficou no ar, simplesmente, e continuei a ser o que me exige a natureza ser. Quis o tempo, e o que ele me tem ensinado, que essa frontalidade «frontal» fosse amenizando o radicalismo com que sempre assumi esse meu «defeito» incómodo para muita gente. Não que tenha deixado de o ser, mas porque a tolerância e a serenidade foram tomando em mim um lugar mais valorizado.
Ser razoável, mas ao mesmo tempo directa e sem subterfúgios, tem sido a balança onde tenho o meu centro de apoio.
Vem isto a propósito de, por vezes, mesmo sendo frontal e assumindo pensamentos, emoções, sentimentos e estados de alma, torna-se difícil passar uma mensagem. Ou seja, posso dizer «quero isto ou não quero aquilo» que a interpretação pode ser sempre deturpada e verem nas minhas palavras apenas uma mera necessidade de afirmação gratuita!
Ninguém está a entender nada, pois não? Eu explico:
Quando escrevo no meu blogue «palavras» e as associo numa determinada sequência ou atribuo-lhes um objecto, isso (e digo-o frontalmente!) não quer dizer absolutamente nada!!! A minha frontalidade não passa, nem passará nunca, pelo recurso a meios indirectos. Quando digo nos olhos de alguém o que penso ou sinto, é porque penso e sinto exactamente assim!
Quando brinco com palavras, num mero exercício técnico, faço-o pela necessidade de canalizar para o exterior «as palavras» e não os sentimentos! Sei que não é fácil ver esta equação de um prisma unilateral e quem lê, acredita que lê os meus estados de alma e não apenas palavras. Não posso obrigar ninguém a ver apenas o que está ali, à frente dos olhos: palavras! Mas também ninguém pode responsabilizar-me pelas interpretações que decidem atribuir aos meus textos.
O acto de criação está num patamar muito mais sublime do que a realidade do dia-a-dia. Ou seja, a realidade é real! A realidade das palavras é irreal. São as duas faces da mesma moeda! Pode uma pessoa não amar e escrever sobre o amor? Só respondo por mim: posso! Porque quando se ama, não se perde tempo a escrever palavras, vive-se intensamente o sentimento!
E se querem ler nas entrelinhas do que escrevo, é fácil: há fases de maior ou menor actividade de publicações! São livres de pensar o que quiserem; eu sou livre de amar, de escrever e de dizer. (E por fim até substituí as reticências pelo ponto final para não dar azo a livres pensamentos, cuja responsabilidade não é minha.)
Permaneça-se na vida com a frontalidade necessária ao confronto connosco próprios!
Irene Ermida
30/01/2011
Sabor(es)
Desenho de Amadeu Brigas
não há derrotas nem vitóriasnem sabores amargos nem doces
só há verdades
no corpo que se desnuda
e mata vontades
na boca que devora
suores e tremores
nas mãos que deslizam
pelos contornos de um olhar
que não vê
só há um navio à deriva
náufragos que gritam
e movem a água e a terra
e resistem ao luar
sem provas a dar
e abraçam o sol
que nasce na ponta
dos teus dedos.
Irene Ermida
29/01/2011
Am' o mar
Desenho de Amadeu Brigas
não sou o destino de ninguém
há um rio ao lado que sussurra
segredos de um passado
e eu amo o mar
na extensão do presente
que aquece o sangue
e enlouquece
não sou o teu sorriso
e não sou o deserto de ninguém
há um leito junto a mim
que abre portas e janelas
amo o sol
derramado num agora
que pode ser um sempre
pode ser um já
sem urgência de palavras
esgotadas.
Irene Ermida
Voar
Desenho de Amadeu Brigas
não, não é a tristeza que me chamanem a vela que queima os meus dedos
é só a vida que não se cala
num corpo que não existe
é a luta contra um nada
que geme e profana a natureza
num desejo absurdo e insano
de querer o horizontede pintar um céu
de soltar as amarras
e de voar.
Irene Ermida
Na palma da mão
Desenho de Amadeu Brigas
resisto ao inevitável até ao último minuto
como se do tempo dependesse a minha vontade
mas não é no olhar que estou
nem no sentido de tocar as nuvens
estou apenas
e sou sem ser quem devia
mas quem quero ser
alheia à distância de um palmo
das estrelas
e da mão que me segura.
Irene Ermida
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