Quando a primavera desponta, os sonhos infiltram-se nas veias e correm no sangue. É-se atacado de febres extremas que nos impelem para um futuro desconhecido, que nos aguçam a curiosidade e nos lançam irreflectidamente numa ânsia de descobrir quem somos. É o desabrochar lento e ansioso de todas as flores, de todos os jardins da alma. O não e o sim fustigam-nos e a incerteza toma a cor da esperança.
O calor sereno vem espraiar-se, subitamente! O barulho do mar entontece-nos e o medo dissipa-se entre os fios brancos da luz. O sonho é verdade e a vida acontece no demérito casuístico.
Da janela vislumbramos a paisagem envolta no ar nevoento e nevoso. Será então assim?...
E uma folha perpessa os ramos num movimento oscilante e vagaroso, iniciando a queda irreversível, desenhando no tronco e no âmago cicatrizes pungentes, momentos translúcidos e gotas de sangue e de suor.
O esqueleto pálido contrasta no fundo negro, despe a silhueta e mostra a nudez do espírito. A calma sobrepõe-se ao desalento, a luta expia-se na efervescência sonhada.
Do alpendre avista-se o lago de águas imóveis, as árvores corcundas, as flores sem viço e uma extensão de sabedoria, de indiferença, de ironia, complementando o ser que deixou de ser.
24 /03 /98
1 comentário:
Olá Irene, primeiro que tudo quero agradecer o simpático comentário deixado no meu blog e desde já digo que foi com um enorme agrado que, finalmente tive tempo de cá passar no teu. Tens uma escrita fina e apurada, agradável, aliás muito agradável. Levaste-me a uma viagem por entre post´s bonitos, no seu conteudo e na sua descrição.
Belissimo. Se não te importares, adicionarei o teu link para futuras visitas. Peço desculpas se não o poderei fazer com muita frequência, mas a minha profissão exige muito tempo e algumas ausencias, embora passe quase 16 horas on-line. São coisas da vida.
Cmps e bom ano.
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