28/02/2007

Prioridades

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Antídoto para os workahólicos!!! Incluindo eu!

Mesmo a propósito: slow down week e slowdownnow

É caso para pensar...

e talvez mudar de atitude e redefinir prioridades!

Afinal todos sabemos isto mas deixamos que o tempo faça de nós o que quer...

Devia ser ao contrário, não?!


Obrigada Carlos pelo mail e pela sugestão!
Espero que a ponhas em prática também... :-)


26/02/2007

Silêncio(s) 2

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cedo ao mutismo que me cala
e em surdina ouço silêncios

cerco-me por segredos mudos
e tranquila desvendo silêncios

cega de omissões que me afagam
e serena destapo silêncios


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25/02/2007

Woody Allen em cena

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Mais um título a constar na filmografia de Woody Allen, tão longe dos anos 70/80: «Nem Guerra, nem Paz», «Annie Hall», «Intimidade», «Manhatan», «Uma Comédia Sexual numa Noite de Verão» ou de «A Rosa Púrpura do Cairo», «Dias da Rádio» ou de tantos outros.

«Match Point», o filme anterior a «Scoop», agradou-me bastante, e até me surpreendeu pela vivacidade com que o septagenário Allen nos brindou.

Estava à espera de mais em «Scoop»... A veia humorística mantém-se eficaz, embora pouco criativa e que salva o argumento, o qual oscila entre o thriller desconcertante e a comédia romântica sem sal. Sid Waterman, o ilusionista americano interpretado pelo próprio Allen, revela-se uma personagem fundamental para colorir a história que gira à volta de Peter Lyman (Hugh Jackman) e Sondra Pransky (Scarlett Johanssen), mas tinha esquecido como é cansativo acompanhar o ritmo ininterrupto e apressado das locuções de Allen!

Um filme simpático para descontrair, num dia de Inverno...
Há mais aqui.

Dualidade(s) 3

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duplicidades triangulares
riscam vértices obtusos
na superfície lisa de pares

por tão pouco o regresso é adiado
pelas estradas dissolutas de vogais
entre parêntesis curvos de notas musicais

espelhos que se abrem em concavidades oprimidas de soluços
e incidem nas oscilações definidas por ventos
que nada importam que nada revelam
que tudo fraccionam em instantes de genuína inocência

23/02/2007

Silêncio(s) 1



silêncios

perfumados de filosofias orientais


silêncios

engastados de exotismos arcaicos


silêncios

turvados de signos incógnitos


21/02/2007

O lado menos (ou mais) sério da vida

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Ao vaguear por essa blogosfera, descobri há tempos o sítio «Vida de Casado» que consta a partir de hoje da minha lista de
links. E a propósito, surgiu-me a vontade de escrever sobre humor...

As relações humanas revestem-se de uma complexidade de dimensões incomensuráveis que obriga a análises cada vez mais profundas e contraditórias e, se focarmos a questão nas relações entre homem e mulher, então aí há «pano para mangas»!

O humor usado com inteligência é, frequentemente, a melhor «arma» para lidar com o grotesco das situações e relativizar a gravidade de gestos e atitudes. A ironia, por sua vez, é uma variante que acaba por se revelar extremamente útil, para combater a irracionalidade e ambivalência de atitudes com que, diariamente, somos confrontados...

Ambos os processos exigem um treino específico e sistemático, que permite, ao ser humano mais decente, atingir níveis de reacção elevados e apropriados a cada momento, com o mínimo de desgaste.

Perante a hipocrisia, a mentira, a falsidade, a estupidez, que nos exasperam e nos deixam à beira dum ataque de nervos, nada melhor do que mudar de atitude e, mantendo a calma, reagir com um discurso raiado de humor, temperado de requinte, de inequívoca incisão e de desconcertante frontalidade.

Desenvolver a capacidade de transformar situações dolorosas, embaraçosas, ou simplesmente irritantes, num desafio à resistência do «verniz» que «encera» alguns habitantes deste minúsculo planeta, pode significar uma excelente oportunidade de evitar «cabelos brancos», «envelhecimento precoce», e contribui decisivamente para uma natural melhoria da nossa qualidade de vida.

Reconheço que é tarefa difícil, pois nem sempre a disposição nos permite actuar dentro dos limites do bom senso e da racionalidade. Daí a indispensável preparação e exercício metódico, de modo a permitir-nos adquirir o imprescindível savoir-faire para olhar de frente e desarmar o nosso «alvo».

Tirar a terra debaixo dos pés de alguém com um sorriso, é sempre o caminho mais fácil de desmascarar um idiota!

Reflictam sobre o assunto e usem e abusem do humor... a vida assim fica mais leve!

Ah, e deixo o link dum texto delicioso de
Victor Hugo.

Foto: David Mendelsohn

20/02/2007

Dualidade(s) 2

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David Mendelsohn

uma interrogação em forma de dilema
contrai-se espasmodicamente
entre inspiração e expiração seráficas

que vejo se não sinto,
que sinto se não vejo?

uma esfera mundana arrepia-me
e sem arrebatamentos de última hora
esfolo o passado que se enovela
no meu calcanhar de Aquiles

e numa busca constante
distingo o acaso que me desviou de caminho algum
como se algum fosse um caminho
aleatoriamente acoplado a outros caminhos
de estreita passagem vedada

mas não! era livre e ainda sou

Impressões fortes

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O realizador de 21 Gramas, Alejandro González Iñarritu, apresenta-nos agora outro surpreendente filme: Babel.

Exímio contador de histórias de vidas humanas, revelando uma magnífica capacidade de nos aproximar das personagens que, subitamente, vêem o curso das suas vidas alterado devido a um incidente, Iñarritu demonstra como um simples gesto (neste caso, um turista japonês que oferece uma espingarda a um guia marroquino) pode desencadear uma sequência de acontecimentos diversificados em vários pontos do mundo e entrelaçar destinos de estranhos que falam diferentes línguas.

Num perspicaz aproveitamento da metáfora da Torre de Babel, este realizador anuncia aqui e ali diferentes incómodos do mundo contemporâneo, em que não faltam os contrastes civilizacionais que põem a nu preconceitos, paranóias, discriminações.
Iñarritu revela-se um profundo conhecedor da complexidade da mente humana quer na sua individualidade, quer despoletando a sua vivência social.

...ninguém leva a mal...



Ir ao cinema foi sempre e continua a ser, para mim, um acontecimento único. Não me convencem com home cinema, surround, plasmas, dvd, hdtv, e toda essa profusão de tecnologias que retiram o prazer de viver o maravilhoso mundo de sensações que um bom filme pode proporcionar, desde que não haja por perto «comedores de pipocas», nem «palradores indomáveis».

Nesta cidade de «província», como tanto gostam de nomear os nossos compatriotas citadinos, ir ao cinema é um acontecimento inolvidável. Nas palavras do meu descendente, sou detentora de um poder de atracção para «azares» que, por exemplo, faz mover livros de prateleiras rumo ao chão sem que ninguém esteja por perto... o certo é que, não recordo nenhuma vez que tenha ido ao cinema nesta «santa terrinha», que não venha de lá com alguma historieta caricata!
Uma dessas vezes levantei-me visivelmente indignada, visto que a projecção do filme teimava em apresentar meio filme e apresentei reclamação; de outra vez, um grupo de «catraios» decidiu ir ver um filme para «grandes» (os pais descansadinhos em casa porque os meninos estavam guardadinhos a incomodarem os outros e, como não percebiam patavina do filme, insistiram em publicitar em voz alta a sua ignorância, apesar dos protestos dos restantes espectadores); poderia enumerar mais algumas, mas fico por mais esta que aconteceu hoje.

Num dia de chuva, véspera do dia de tolerância de ponto, nada mais apropriado do que ver Babel, um filme fabuloso de um realizador surpreendente.
Ora, estando já sentada no meu lugar (detesto esta marcação por números e letras!), atenta às primeiras imagens do filme, apercebo-me de uns atrasados que reclamavam por terem ocupado os respectivos lugares, o que obrigou a uma mudança de última hora, passando os prevaricadores mesmo à minha frente, num grande alarde... Não gostei!!!
Como se isso não bastasse, logo de seguida, a espectadora do meu lado esquerdo, pergunta-me: «Que filme veio ver?!» Olhei-a, atónita!!! Então não se estava mesmo a ver o título no écran?! BABEL?! Respondi, serenamente: Babel... Entre uma exclamação e outra, ela e o acompanhante lá saíram, pois, afinal, tratava-se de um equívoco... não era bem aquele filme...
No intervalo (que existe apenas para manter o bar lá do sítio), encontrei um casal de amigos que já não via há algum tempo... Ela sempre muito aprumada, dando dois passos atrás para me olhar de alto a baixo, tendo fixado o olhar na bolsa a tiracolo (que não sendo Gucci, é simplesmente um assombro e que me tira pelo menos dez anos!) foi comentando que não estava a gostar do filme. Naturalmente, aludi ao facto de conhecer já o realizador e reconheci que não me sentia nada decepcionada, pois o filme vinha totalmente de encontro às minhas expectativas...
Mas quem me manda a mim ter estas tiradas?! Mais uma vez olhou fixamente a minha bolsa, numa descarada observação do meu estilo descontraído mas que, sem dúvida, a incomodava. Ri-me por dentro e continuei com ar condescendente... De repente, apareceu o marido que teceu alguns comentários sobre o filme e, pobre homem!, ouviu das que não quis... Tentei pôr água na fervura, convencendo-a de que a vida de casada implica algumas cedências de parte a parte... mas nem me ouviu de tão agitada que estava e manifestava a sua intenção em nunca mais vir ao cinema; ele contrapunha que sim, que haviam de vir mais vezes e que até queria ver o Diamante de Sangue, ela: nem pensar!

Refugiada de novo na bela fotografia de Rodrigo Prieto, esqueci todos estes contratempos, prometendo a mim mesma que, da próxima vez, faço novamente cem quilómetros para ver um filme descansada!

18/02/2007

Dualidade(s) 1

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http://www.olhares.com/a_cela/foto840099.html

desprendo-me desta farsa feita história
que artificial se desenrola numa arena
de dúvidas e hesitações
retiro o lenço que limpou suores
e solto a satisfação do sorriso matutino
que projecta no sol aprazimento e perspicácia
de loucuras adiadas

afinal sempre quis
que fosse ou não
sem sombras nem decadências
as figuras que se destacam no fundo de mim
que me impelem na hora de avançar
rumo ao mistério da leveza
insubsistente e frívola
aponho adereços de vidro
numa transparência irredutível de chamas
acesas e extintas
vertigens e suspiros soltam o derradeiro fôlego
e uma ferida dissipa-se para abrir caminhos
inéditos e selvagens


Obscenidade(s) 3

.http://www.1monde.net/index.php/C7/

num carrossel de segredos entre sussurros e medos
giram as mãos em desvarios momentâneos
pelos cabelos cruéis que afagados adormecem
sob um luar de verão ainda distante
não te olho

num ingénuo delírio inflamado
encosto-me sem reservas inúteis
a um calor irresistível de sonhos castos
sucumbo ao hipnótico momento intacta
e não te quero
assim assim


17/02/2007

Obscenidade(s) 2

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os meus dedos percorrem o contorno dos teus ombros

num deleite abandonado de sentidos

surda a palavras ocas que rodopiam nos intervalos

do espaço que o meu corpo ocupa, entre vírgulas,

me expando lasciva e nua de conceitos

numa síntese de intimidades minhas e tuas

.

Obscenidade(s) 1

.Agradeço a adesenhar ter respondido ao meu desafio com esta imagem.



de púrpura elegância me vesti

ondulando os passos de salto alto

pela insistência do teu olhar sôfrego

- formosa e insegura ? -


afoita!

tiritei sílabas de vermelho bâton e de rubra paixão


no meu peito um rubor latejava

fendia gelos e convencia magos

de escarlates intenções e silêncios abafados

ruboresceste numa palidez resignada do limbo

em que me sonhaste

16/02/2007

Delírio(s) 3

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à deriva no mapa oscilo entre norte e sul
e extraviada nas margens de mim
chego ao porto de mares esquecidos
de obstinadas memórias possantes

errante de destinos indesejados
prisioneira de absurdas linhas cruzadas
e de aromas perturbados

à deriva no mapa oscilo no vácuo
de aragens perfumadas de rosas
e ditam elas caminhos entre lírios e prosas

e me deito com o que sinto
sem sentir o que pinto!


14/02/2007

Um dia apropriado!!!

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Esta coincidência não pode ser casual!!!
Li neste blog, segui o rasto até aqui e, curiosa, descobri isto:

Disfunções Sexuais

«O dia europeu da Disfunção Sexual (14 de Fevereiro) relembra um problema que afecta cada vez mais portugueses. Felizmente, a cura é uma realidade para a maior parte das patologias do foro íntimo.»

in EGO, 20 a 26 de Fevereiro de 2004

E que não seja por falta de informação, há mais aqui


O que é Amar

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Ausente dele ou porque me excede, não, não falo de amor...
Deixo que outros falem por mim porque o fazem melhor do que eu...

Obrigada Éric pelo teu contributo!


Já não há filósofos nem poetas
Que me digam, hoje,
o que é amar.

O que é gostar de alguém como se gosta de um Deus,

O que é ouvir embevecido
a voz doce e penetrante
de quem se ama,

O que é ficar arrepiado
quando o frio da noite já passou,

O que é acalorar-se
quando a brisa da janela passa,

O que é sentir o coração bater descompassado
quando o nome do amado é soletrado,

O que é estar à espera
sentado no telefone
da palavra “semprevoucontigo”,

O que é ficar prostrado e moribundo
quando o dia do encontro é adiado,

o que é ser trespassado
pela força desse beijo quente
que se dá,

o que é cheirar inebriado o corpo nu
que se entrelaça em nós,

O que é ficar corado de vermelho vivo
quando o sangue corre lesto
pelo torso inteiro
anunciando em espasmos brancos
os cumes todos que trepamos
quando somos um,
em dois, em nós.


Não
não sei o que é Amar.
Sei apenas o que sinto que seja.

E digo-o aqui
como se ninguém antes
nada tivesse dito sobre isso
e eu fosse o primeiro a desvendá-lo.


Mas vejo agora
que o disse,
que tudo isto é mentira
e não existe:


eu nunca senti nada disto que vos disse
nem vou voltar a sentir.
25/04/2006

António Pinheiro


Delírio(s) 2

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não me entendem as palavras num estar de doer

ontem e amanhã sem hojes que não sinto mares magoados

alienados correm voluptuosos de rios sem margens

de lágrimas transpiradas suores e desejos corruptos e sumidos

mea culpa de mim possuída de ímpetos arrebatados impulsivos

em sombras de ontens e de clarões de amanhãs

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13/02/2007

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abundam-me as palavras subitamente
e afogam-me num sucumbir sóbrio de inevitabilidades
um mas impõe-se
falta o desenho, a mão que contorna as palavras que reinvento

aborrece-me pesquisar imagens no google
aborrece-me seleccionar fotografias
mas,
um mas impõe-se!
e falta-me o traço...

como nestas fases da lua...

um desafio para quem ama as palavras e sabe desenhá-las em sentidos
não há prémios... nem recompensas... nem sorteios
apenas o meu mail à disposição para receber
as vossas linhas e curvas e traços


12/02/2007

lua nova

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e um meteoro de chuvas e uma nuvem de céus

e satélites de dias e estrelas de noites

cosmos enobrecido e exaltado de angústias de opressões

constelações de medos e de centauri e de sirius

que medos te atreves?! que agitações inventas?!

que nebulosas calas?! que eclipses encobres?!




quarto minguante

.


exigente de saberes e nunca de teres a solidão das rochas inundadas
de ciúmes e invejas

em vinganças salta e morre e renasce até perder de vista
pecados inocentes

impoluto de certezas duvidosas do bem e do mal tangidas
de melodias férteis e opulentas

distante de neves e de sóis
quando?!


lua cheia





apetites vorazes de tesouros dourados de pratas e de ouros

dormem em canções de intervenção e de cio

latejando nas ondas curtas e longas de saudades de vidas

latidos e miares purgam fantasmas medievais de sentidos impensáveis

ama e só?




quarto crescente





bandeiras vermelhas de azul sem razões de aparências duvidosas

cataventos azuis de branco sem limites de ilusões inflexíveis

faróis de verdes mares tão violetas e recurvos de linhas e linhas

incontornáveis

sim?!



Trânsito(s) 3

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foto: http://www.ni-photos.jmcwd.com/moonlight-dusk-ireland.html

é de estar sem
que conto as horas em segundos
de meditar deles
sem chegar e com partir
de lá para cá
de cá para lá
solto ventos em dias
quem me denuncia?
se o sol não
a chuva também
e cai lentamente
ao luar

Trânsito(s) 2





cativa numa amena existência
presa em remotas viagens
vagueio por alucinantes muralhas
de areia construídas

num casulo fingido de valentia
refugio-me insignificante
de dores e pavores
numa firmeza de papel
arrasto mágoas e sentires
de ti em mim
e invento saídas
que nunca serão
querer

reinventar palavras e momentos e avançar num futuro
de perdições e amores
redesenhar planos e esboços e investir num há-de vir
de tresvarios e vontades
transitar pelas margens de seres sem nunca o ser e soltar nós
de ti e de mim

11/02/2007

Conspiração de domingo


Acordada pela intensidade da dor muscular que me atormentou o sono, decidi ficar entre os lençóis a ouvir a chuva lá fora e a ler «As voltas dadas ao mundo», de Salvador Nogueira.

Mais por hábito que por vontade de ser contactada, liguei o telemóvel. Apetecia-me ficar assim indolente e ociosa, alimentando o meu imaginário de palavras e de universos alheios.

Tocou inoportunamente! Do lado de lá: – Bom dia Maria Irene, olha preciso que me escrevas frases para ilustrar vinte e nove imagens… Atordoada pelo estranho pedido, questionei: – mas sobre o quê? assim de repente, não consigo! -, - consegues, pois, tu tens uma cabeça do caraças! -, - com que então sou cabeçuda? -, - ahahahahah, fazes-me isso? Preciso disso hoje sem falta! -, - mas as imagens têm a ver com o quê? (insisti), - olha, é para o dia dos namorados! - Ah! (exclamei indiferente) ok, vou tentar… (derrotada, aquiesci, pois não há nada que consiga negar a este meu sobrinho).

Esta interrupção do meu sossego obrigou-me a iniciar a rotina com o pequeno-almoço. Mas a máquina de café não gostou e recusou-se por três vezes em saciar a minha necessidade de estímulo!!!

Em seguida, duche: deixei correr a água para que esta ficasse bem quente… entrei e saí de imediato!!! A caldeira solidarizou-se com a máquina de café e teimou em manter-se inactiva! Dei voltas e voltas e vi que não tinha pressão. Tentei tudo! Liguei até para uma vizinha que me deu uns conselhos, em vão. Percorri o circuito dos radiadores, maldizendo esta subversão de papéis reclamada pelas mulheres só para terem aborrecimentos destes! Tudo inutilmente…

Decidi então aquecer água… mas o fogão impavidamente se aliou à conspiração dos electrodomésticos, recusando-se a dar chama! Ia começar a praguejar, mas respirei fundo (ultimamente este exercício tem resultado lindamente!).

no escritório, esquecida destes contratempos, decidi arquivar a papelada que durante algumas semanas se foi acumulando em cima da secretária. Separadas as facturas e outros papéis inutéis, que só existem para nos lembrar que vivemos numa sociedade moderna, deparei-me com as facturas do gás que, de repente, ganharam uma majestosa importância!!! Atentei de perto: e apercebi-me que, desde Dezembro, o meio de pagamento deixou de ser automático (sem que nada tivesse feito para isso ser alterado!) e constava o pagamento por Multibanco!!! Incrédula com a minha inépcia para estas vulgaridades que desvirtuam o sentido da vida, entendi então que me tinham cortado o gás!

10/02/2007

Um sorriso pintado de ironia




O som abestalhado invadiu-me o pensamento que, por mera precaução, se precaveu contra uma súbita invasão dos sonhos e adiantou-se, por isso, à hora do despertar.
Já preparada para o trilho traçado para este sábado que incluía, entre outras coisas, assistir a uma lição de estratégia de marketing, tomei consciência da dor que me atormentava o pescoço e me causava uma indisposição geral e que me obrigou mais tarde a recorrer a uma farmácia onde, além de um emplastro colocado estrategicamente, tomei um medicamento que me aliviou o incómodo.
Já relativamente refeita, aventurei-me pela rua de comércio mais ou menos movimentada e um impulso levou-me a entrar numa loja de artigos de cristal, pensando ver uma lembrança para uma amiga que já há meses ando para comprar.
A empregada dirigiu-se-me após alguns minutos indagando se pretendia ajuda e vendo a minha hesitação, muito solícita, perguntou-me se era para uma amiga, - é sim -, - estes aqui dão para pendurar num fio, aqueles... - interrompi-a, decidida - vou levar aquele! - olhou-me espantada, não sei se pela rapidez da minha escolha, se pelo objecto escolhido que, neste caso, era um coração multicolor muito bonito.
Sempre articulando palavras em catadupa que não faziam muito sentido para mim, em virtude do meu pescoço ainda se impor impiedosamente ao meu cérebro, esboçava sorrisos, trocava olhares com a colega, perguntava maliciosamente - é para oferecer, não é? -, - sim, é para oferecer - respondi, enquanto maquinalmente efectuava o pagamento.
À saída reparei na montra adornada com corações vermelhos invocando um santo que, a ser verdade, morreu por unir casais em segredo, quando decretada a sua proibição a fim de aumentar o exército e que terá pago essa ousadia com a própria vida.
Soltei um sorriso quase gargalhada e percebi finalmente...

08/02/2007

Cena(s) (sur)real(ais) 2

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Mais uma vez os pés teimaram em manter-se presos ao chão de um gabinete onde, por entre papéis, telefonemas, decisões, risos, desabafos, partilhas e lágrimas até, me mantive ancorada à realidade que se impõe, fatalmente, no quotidiano «do lado de fora da janela».


- Ontem um miúdo magoou-se durante a prova!
- Foi grave?!
- Foi, fez um golpe que deixou o osso à mostra... lá lhe prestei os primeiros socorros enquanto aguardávamos a ambulância que, claro, teve alguma dificuldade a chegar ao sítio onde estávamos no meio do monte...

Contou-me, visivelmente abatido, mas convicto de ter tomado a atitude certa em todos os momentos.
No centro de saúde não havia material para sutura interna: costumamos ter, mas hoje por acaso não temos.
Reencaminhado para o hospital juntamente com uma carta elucidativa do problema, aguardou nova triagem, um cartão de certa cor que o rotulava de mais ou menos urgente... e passadas quatro horas de se ter ferido(!!!), foi assistido.
Valeu-lhe a companhia reconfortante do professor e a valentia que se pode ter com 10 anos.

Trânsito(s) 1

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Foto: http://www.daveylouisjones.com/gallery/pages/Will%20You%20Hold%20Me.htm


cingida num efémero enleio
afastada do distante mundo
sugada pelo instante de afago

desbrava zonas inóspitas
verdes selvas amazónicas
mágicos desertos alaranjados
sóis tórridos e revelados
dóceis mares aquietados
renascida e remansada
numa preguiça perfeita
distende o olhar e medita
perfumada

06/02/2007

Questão de vírgulas?!

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Onde colocar a vírgula?!


"Se o homem soubesse o valor que tem a mulher andaria de rastos à sua procura."




Obrigada pelo mail Eric

05/02/2007

Cena(s) (sur)real(is) 1



Quem visita este espaço poderá pressupor que a autora não passa duma visionária letrada que, por mero entretenimento, se dedica a somar palavras pertencentes a diferentes categorias lexicais e a criar universos fictícios e por aí anda perdida...
Seria óptimo ter essa capacidade de flutuar sem nunca tocar com os pés no chão... é que, por vezes, há cenas da vida real que só deveriam acontecer no imaginário de cada um!

Hoje, na caixa de um hipermercado, aguardava a minha vez de ser atendida, quando a cliente seguinte começou a colocar os seus artigos no tapete, logo atrás dos meus.
A criança de cerca de 4-5 anos, em pé, no carrinho das compras, movimentava-se atarefada, ameaçando a qualquer minuto uma queda que lhe custaria no mínimo uns hematomas, e pedia repetidamente à mãe um chupa-chupa.
Esta recusava tal pretensão, argumentando pedagogicamente que lhe fazia mal à barriga, ao que acrescentei afavelmente: e aos dentes. O rapazinho olhou-me ferozmente, enquanto a mãe me retribuía um sorriso.
A insistência do pedido aumentou numa clara demonstração de que não iria ceder a tal táctica. E então, a mãe, após alguns segundos, propôs: queres um dvd ou o chupa-chupa? exibindo-o energicamente diante dos olhos da criança que, hesitante por breves instantes, aceitou a troca, ciente da vantagem do negócio.
Assisti muda e perplexa, imaginando um mundo de adultos escravizado por estes seres inocentes e maravilhosos...
Então, adivinhando os meus pensamentos e, não querendo deixar margem para dúvidas, este «micro-empresário» lançou: quero um chocolate!
A mãe, orgulhosa de ter dado à luz tal criatura com evidente capacidade de negociação, imaginando o futuro risonho de um potencial Belmiro de Azevedo (ressalvo as devidas distâncias), entra no jogo e responde mais uma vez negativamente, ameaçando com um possível desarranjo no organismo... Ele reitera o seu propósito, ela opõe-se... e, subitamente, eleva no ar não um, meus senhores, não dois, não três... mas o extraordinário número de cinco dvd's!!!
Desta vez, a criança não hesitou, esboçando imediatamente um sorriso triunfante, ao mesmo tempo que me dirigia um olhar digno de qualquer imperador vitorioso regressado de mais uma batalha!
Controlei a minha estupefacção, com receio de que tal aprendiz de mercador tivesse algum poder secreto, adquirido num dos filmes do Harry Potter e me transformasse repentinamente em abóbora!
Ainda pude observar a felicidade que a mãe irradiava, ostentando-a através de gestos de carinho, premiando o filho pela sua proeza!

03/02/2007

Pausa de sábado



Que tal, Pablo Milanés?

A pedido de «muitas famílias» retirei o Vangelis para evitar qualquer conotação política...

Rosas, só mesmo as que têm espinhos!
Às dúzias, de preferência!
Mas acima de tudo prefiro tulipas!

Uma perfeição feita de pétalas
Que invade olhares
e suaviza tristezas...


Um bom tema: flores!
As mulheres, os homens e... as flores! Oferecer, receber flores...

Ainda se oferecem flores?!
Já recebi, em tempos, rosas e tulipas também...
No tempo em que os gestos eram importantes...
Mais do que as palavras...


02/02/2007

Delírio(s) 1

.
febril
cedes à angústia de esboçar
triângulos e círculos
losangos e rectângulos
numa geometria da afeição
demente e alienada
colateral e simplificada

o silêncio suaviza a distância
entre ti e a tua ausência
imóvel e determinada

alísios ventos sopram
pelo equador da tua ideia
e inventam uma rosa dos ventos
com cardeais pontos reinventados
sonhados

desorientado
navegas pelas marés diletantes
de oceanos pacíficos
distantes delirantes dissecados
naufragado
contudo

Miopia(s) 3

.


.anseios adormecidos
por uma forte cefaleia repentina
criam cenários dantescos
de indizível magnitude
passos de invisuais insanos
crepitam no flutuante arco ogival
imponente inaudito infalível
sem costuras
por inteiro
somente

01/02/2007

Miopia(s) 2

.

.simples mulher simples
roubada a jardins dourados
a fantasias dissonantes
a devaneios complacentes

olhares cegos por girassóis
oblíquos sinuosos distorcidos
despenham-se nas curvas
prostradas falsas arqueadas

olhares hauridos por papoilas
cálidas quentes ardentes
alongam-se nos painéis
pendentes descaídos suspensos

perfeitas espirais preciosas
de um presente amado
e desprezado