20/02/2007

...ninguém leva a mal...



Ir ao cinema foi sempre e continua a ser, para mim, um acontecimento único. Não me convencem com home cinema, surround, plasmas, dvd, hdtv, e toda essa profusão de tecnologias que retiram o prazer de viver o maravilhoso mundo de sensações que um bom filme pode proporcionar, desde que não haja por perto «comedores de pipocas», nem «palradores indomáveis».

Nesta cidade de «província», como tanto gostam de nomear os nossos compatriotas citadinos, ir ao cinema é um acontecimento inolvidável. Nas palavras do meu descendente, sou detentora de um poder de atracção para «azares» que, por exemplo, faz mover livros de prateleiras rumo ao chão sem que ninguém esteja por perto... o certo é que, não recordo nenhuma vez que tenha ido ao cinema nesta «santa terrinha», que não venha de lá com alguma historieta caricata!
Uma dessas vezes levantei-me visivelmente indignada, visto que a projecção do filme teimava em apresentar meio filme e apresentei reclamação; de outra vez, um grupo de «catraios» decidiu ir ver um filme para «grandes» (os pais descansadinhos em casa porque os meninos estavam guardadinhos a incomodarem os outros e, como não percebiam patavina do filme, insistiram em publicitar em voz alta a sua ignorância, apesar dos protestos dos restantes espectadores); poderia enumerar mais algumas, mas fico por mais esta que aconteceu hoje.

Num dia de chuva, véspera do dia de tolerância de ponto, nada mais apropriado do que ver Babel, um filme fabuloso de um realizador surpreendente.
Ora, estando já sentada no meu lugar (detesto esta marcação por números e letras!), atenta às primeiras imagens do filme, apercebo-me de uns atrasados que reclamavam por terem ocupado os respectivos lugares, o que obrigou a uma mudança de última hora, passando os prevaricadores mesmo à minha frente, num grande alarde... Não gostei!!!
Como se isso não bastasse, logo de seguida, a espectadora do meu lado esquerdo, pergunta-me: «Que filme veio ver?!» Olhei-a, atónita!!! Então não se estava mesmo a ver o título no écran?! BABEL?! Respondi, serenamente: Babel... Entre uma exclamação e outra, ela e o acompanhante lá saíram, pois, afinal, tratava-se de um equívoco... não era bem aquele filme...
No intervalo (que existe apenas para manter o bar lá do sítio), encontrei um casal de amigos que já não via há algum tempo... Ela sempre muito aprumada, dando dois passos atrás para me olhar de alto a baixo, tendo fixado o olhar na bolsa a tiracolo (que não sendo Gucci, é simplesmente um assombro e que me tira pelo menos dez anos!) foi comentando que não estava a gostar do filme. Naturalmente, aludi ao facto de conhecer já o realizador e reconheci que não me sentia nada decepcionada, pois o filme vinha totalmente de encontro às minhas expectativas...
Mas quem me manda a mim ter estas tiradas?! Mais uma vez olhou fixamente a minha bolsa, numa descarada observação do meu estilo descontraído mas que, sem dúvida, a incomodava. Ri-me por dentro e continuei com ar condescendente... De repente, apareceu o marido que teceu alguns comentários sobre o filme e, pobre homem!, ouviu das que não quis... Tentei pôr água na fervura, convencendo-a de que a vida de casada implica algumas cedências de parte a parte... mas nem me ouviu de tão agitada que estava e manifestava a sua intenção em nunca mais vir ao cinema; ele contrapunha que sim, que haviam de vir mais vezes e que até queria ver o Diamante de Sangue, ela: nem pensar!

Refugiada de novo na bela fotografia de Rodrigo Prieto, esqueci todos estes contratempos, prometendo a mim mesma que, da próxima vez, faço novamente cem quilómetros para ver um filme descansada!

4 comentários:

Anónimo disse...

Magnífico filme... ainda tenho aquela banda sonora dentro de mim.
Curiosamente, ao intervalo, sim que por cá, tb temos intervalo (há que manter vivas as pipocas) muita gente se dizia decepcionada com o filme. Acho que está na moda deita-lo abaixo.Por mim valeu a pena cada segundo de projecção.
Beijos

Anónimo disse...

E eu que gostei tanto! Mas, claro há gostos para tudo! É que não é só a história do filme mas tb a viagem que vamos fazendo por diferentes países, com paisagens únicas, com usos e costumes tão diferentes. Ao ver o filme, estamos a ter uma magnífica aula de geografia, de história, de política social. Agora ver o filme, para mim, o Arrábida é o meu cinema de eleição. Bem podia ter desconto pela publicidade que deixo! Beijo

Irene Ermida disse...

a salta pocinhas
obrigada por teres vindo mais uma vez saltar por aqui. :-)
O filme não é de fácil «digestão» para algumas mentes, convenhamos... salvaguardando os gostos de cada um, evidentemente. Provavelmente estariam à espera do Brad Pitt no seu melhor como sex-symbol, mas afinal ele também sabe representar e muito bem neste filme!

a lua-prateada
é o meu cinema também... e concordo com tudo o que disseste sobre o filme: aliás agradou-me a fotografia que contribui para a densidade das histórias e da tensão.

aDesenhar disse...

lol

não é só a ti!
pipocas e atrasados é o prato forte por aquelas bandas.

p.s.
a não perder Diamante de Sangue e leva a tua amiga.
:-)