31/12/2006

Flutuações 3

Desde há uns dias que cogito na minha lista de auto-propostas para 2007. É o segundo ano em que me predisponho a fazê-la, após ter descoberto, num curso da minha área profissional de formato americano, algumas vantagens. Quem me conhece melhor sabe que, para mim, a vida é sempre uma surpresa dia-a-dia e que planeamento é uma palavra válida a curto ou médio prazo.
A espontaneidade, o improviso, a surpresa, a mudança repentina de estratégia e de humor, a impulsividade naive são, para uns, motivo de desconcerto e, para outros, motivo de atracção fatal!
Então pensei: se até agora isto não correu tão bem como deveria, o melhor será autodisciplinar-me e evitar este factor cambaleante da minha natureza sôfrega, irreverente, inconformista e eternamente insatisfeita.
E lá comecei, convicta das minhas boas intenções, a redigir uma palafernália de «boas intenções», com muita dificuldade, confesso!
Quando ainda ia a meio, não resisti à tentação de dizer uma asneira que, fica sempre bem em bom português, mas que me abstenho de a escrever por motivos de decência neste meu canto de (des)ilusões e flutuações.
E os meus neurónios encetaram uma análise metafísica, filosófica ou, sei lá, outra palavra que fique bem aqui: então se mudar isto tudo, quem serei eu?!
A vida é uma eterna aprendizagem e devemos retirar dela as lições que nos merecem valor pela evolução que podem significar para cada indivíduo mas, santa paciência, mudar por mudar para quê?!
Cada ser humano encerra em si uma beleza indescritível porque é como é: um ser único no meio de biliões de pessoas no mundo!!!
Por isso, não vou mudar! Vou continuar:
- a querer abarcar o mundo com ambas as mãos!
- a sentir com uma intensidade inimaginável!
- a manifestar a minha irreverência eternamente!
- a apaixonar-me sem limites!
- a entregar-me, sem reservas, a causas, pessoas ou projectos!
- a acreditar na força do ser humano, que pode mover montanhas!
- a caminhar em frente e superar os obstáculos!
- a dedicar-me a causas perdidas!
- a compreender os outros e aceitar as diferenças de objectivos, de atitudes, de crenças!
- a rir, a chorar, a encorajar, a desanimar, a acarinhar, a ferir!
- a amar desmesuradamente a vida e as pessoas!
- a ser um vulcão adormecido, ou não!
- a flutuar entre o inconformismo e a resistência!
Tudo isto sou eu, para o mal e para o bem!
Desejo a todos os que perderam, ou ganharam, tempo a visitar este blog, um novo ano de energia renovada para realizar projectos e sonhos, e conceber novos sonhos e projectos!

Labirinto


As possibilidades são um labirinto pelo qual temos que caminhar até encontrar a saída.

«Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afecto, no exacto momento em que foi interrompido.»

Bigoo


«Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que deu o nome de no, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funciona no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, co outro número e outra vontade de acreditar que daqui para a frente... tudo vai ser diferente!»

Carlos Drummond de Andrade

30/12/2006

Flutuações 2



Desconheço o autor destas máximas e, apesar do formalismo da receita, que nos merece sempre desconfiança e até algum menosprezo devido à crença antecipada na sua inutilidade, decidi partilhá-las com quem perde alguns minutos a visitar este blog. Cada um que retire as suas ilações... se houver lugar a isso, claro! Por mim, confesso que retirei algumas!


«Aprendemos que...

... por pior que seja um problema ou situação, sempre existe uma saída.
... é asneira fugir das dificuldades. Mais cedo ou mais tarde, será preciso tirar as pedras do caminho para conseguir avançar.
... perdemos tempo a preocuparmo-nos com factos que, muitas vezes, só existem na nossa mente.
... é necessário um dia de chuva para darmos valor ao Sol; mas se ficarmos expostos muito tempo, o Sol queima.
... heróis não são aqueles que realizam obras notáveis, mas os que fizeram o que foi necessário e assumiram as consequências dos seus actos.
... não importa em quantos pedaços nosso coração está estilhaçado, o mundo não pára para que nós o consertemos.
... ao invés de ficar esperando alguém nos trazer flores, é melhor plantar um jardim.
... amar não significa transferir aos outros a responsabilidade de nos fazer felizes. Cabe a nós a tarefa de apostar nos nossos talentos e realizar os nossos sonhos.
... o que faz diferença não é o que temos na vida, mas QUEM nós temos. E que boa família são os amigos que escolhemos.
... as pessoas mais queridas podem às vezes ferir-nos. E talvez não nos amem tanto quanto nós gostaríamos, o que não significa que não amem muito, talvez seja o máximo que conseguem. Isso é o mais importante.
... toda mudança inicia um ciclo de construção, se você não esquecer de deixar a porta aberta.
... o tempo é precioso e não volta atrás. Por isso, não vale a pena resgatar o passado. O que vale a pena é construir o futuro. O nosso futuro ainda está por vir.
Então aprendemos que devemos descruzar os braços e vencer o medo de partir em busca dos nossos sonhos
Bye, bye 2006!

Myspace layouts



Flutuações 1



Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.


Camões exprimiu neste soneto a natureza impermanente, temporal e transitório da vida.
A aparente estabilidade que, por vezes, tentamos apreender, limita os horizontes e impede-nos de aceitar as vicissitudes que se nos deparam, dando-nos o necessário impulso para seguir em frente.
A sabedoria reside em não nos deixarmos levar pelas flutuações da existência e manter a firmeza de posições, sem ficar à mercê dos acontecimentos, observando as coisas que acontecem com um maior distanciamento, de modo que se possa tomar a decisão acertada ou, pelo menos, menos errada.
Esta lucidez, apesar de difícil, permite uma percepção mais nítida das oportunidades que surgem na nossa vida e contribui para evitar dor, mágoas e sofrimento, bem como para usufruirmos do lado positivo que as situações podem proporcionar à nossa existência.
Nesta viagem, em que todos somos passageiros, é imprescindível valorizar quem realmente é importante para nós, quem nos merece amizade, confiança e dedicação.
Por isso, na minha lista de decisões para 2007, escrevi: «as lágrimas serão pelos amigos e família em momentos de alegria, de partilha e de cumplicidade».

29/12/2006

Extemporâneo?! Talvez...


Ainda tive uma ligeira vontade de escrever sobre o Natal, mas perante uma ausência total de ideias que me animassem a fazê-lo, desisti (o que não é muito do meu feitio).

Os dias foram passando e sentia que devia ter escrito alguma coisita...

O divórcio entre emoções e palavras não permitiu que os meus dedos saltitassem pelo teclado desenhando palavras bonitas de se lerem...

Finalmente, acabei de descobrir um texto e percebi que, embora as palavras nunca pudessem ser minhas, corresponde a uma perspectiva, com que me identifico em parte, desta época festiva!

26/12/2006

Amor a quanto obrigas!



Hoje, em pleno decurso do almoço de Natal em família, contava o meu pai um episódio da juventude dele, com os pormenores que a memória de 80 anos ainda lhe permite recordar viva e claramente.
A meio da prelecção, mencionou o facto de percorrer, a pé, uma distância de 12 quilómetros, que hoje demora apenas dez minutos de carro, para namorar com a minha mãe, quer fosse Inverno, quer fosse Verão!
Não prestei atenção ao resto da história... e ainda comentei para os meus irmãos: é por isto que nunca, jamais, em tempo algum, podiam ter pensado sequer em separar-se!!!
Observei a minha mãe que, orgulhosa desse dedicado amor a que sempre soube corresponder, desviou o olhar para baixo, como se um rubor ainda a perturbasse como nesses tempos de ansiosa espera!
Cinquenta anos de vida em comum!!! Com tantos altos e baixos, com tantos momentos leves e alegres, quantos os pesados e tristes!
Uma lágrima engasgou-se-me na garganta! Não segui os passos deles... mas a comoção que me invadiu fez-me sentir um orgulho do tamanho do universo em ambos, que souberam desafiar e vencer o destino!!!

25/12/2006

Esperança a quanto obrigas!


Ora bem... um pequeno exercício mental para agilizar ideias e impedir o envelhecimento prematuro:
«Passo a passo», «gradualmente», «em 2006 as coisas começaram finalmente a melhorar»...
Isto significa exactamente o quê?!
Após meses, e anos até, a ouvir a palavra «crise», vem agora o nosso primeiro com uma mensagem transmitir que algo (ou tudo?) «melhorou»!!!
Fica bem, sem dúvida, nestas épocas, animar as pessoas. Principalmente os idosos com menos recursos, os mais desfavorecidos, os mais pobres, os doentes, os que estão sós... Não, isto não pode ser demagogia... seria cruel demais!!!
Por mim, fiquei muito mais descansada... finalmente, vamos poder encarar o futuro com esperança!!! O que faz o espírito natalício!!!

24/12/2006

Gasta por dentro e por fora


Sinto-me gasta
Gastei palavras e sentidos
Gastei segundos e dias
Gastei esperas e chegadas

Abri portas e janelas
deixei entrar o vento
esse vento feito aragem
que me despiu e condenou

Dei palavras e sentidos
Dei segundos e dias
Dei esperas e chegadas
Dei tudo e nada
de nada e de tudo

Nem um único rasto
Nem palavras nem sentidos
Nem segundos
Nem chegadas

Uma vela
de fogos extintos
arde numa despedida
da indiferença
desmedida

23/12/2006

Porque a vida é feita de contrastes e de imponderáveis


«As primeiras horas da Operação Natal foram dramáticas nas estradas portuguesas. Até às 17h00 horas deste sábado, a Brigada de Trânsito registou nove vítimas mortais e o número de feridos graves é precisamente o mesmo.» ???

« (...) dois feridos graves e 15 feridos ligeiros

Dois choques em cadeia na auto-estrada que liga Bordeús a Bayonne, em França, envolveram entre 200 e 300 veículos.

Segundo as autoridades locais, a primeira colisão ocorreu às 08:30, devido ao nevoeiro,(...), tendo o outro choque em cadeia ocorrido em sentido oposto na mesma altura.» ???


Porque a vida é interrompida quando menos esperamos.
Porque o tempo foge sem condescendência.
Porque a amizade é um bem supremo.
Porque não há subterfúgios
nem refúgios
nem sentido
nem fé
sorri

Há poesia no ar...


Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.
Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei
Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,
Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,
Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.

E só me não cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz.
 Fernando Pessoa

Tenho pena e não respondo.
Mas não tenho culpa enfim
De que em mim não correspondo
Ao outro que amaste em mim.

Cada um é muita gente.
Para mim sou quem me penso,
Para outros - cada um sente
O que julga, e é um erro imenso.

Ah, deixem-me sossegar.
Não me sonhem nem me outrem.
Se eu não me quero encontrar,
Quererei que outros me encontrem?
 Fernando Pessoa
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.


A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios.


Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.


Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.


Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
Ricardo Reis
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.
Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso fui o único poeta da Natureza.
Alberto Caeiro

21/12/2006

Clapton - Have you ever loved a woman


Clapton - Have you ever loved a woman
Vídeo enviado por howlong
Have you ever loved a woman (de Freddie King)
par Eric Clapton au Royal Albert Hall en 1991 (24 nights)

Il y a notamment Buddy Guy et Robert Cray derrière

Voir également la version live de Hyde Park en 96 : http://www.dailymotion.com/video/1382517

Absurdos intermitentes 3

- Queres café?

- Não, não quero.

- Porquê?

- Prefiro leite.

- O café dá-te energia…

- O leite acalma-me…

- E é branco.

- Que queres dizer?!

- Só isso: é branco.

- Ah!

- E o café é preto!

- Afinal, o que queres dizer?

- Nada. Isso mesmo: o leite é branco e o café é preto.

- É uma constatação?

- Sim.

Absurdos intermitentes 2

- Hoje vais sair?

- Não, vou ver se escrevo.

- Sobre o quê?

- Ainda não sei.

- E se escrevesses algo sobre os crocodilos?

- Sobre os crocodilos?! Como assim?

- Sobre o que lhes fazem!

- O que é que lhes fazem?

- Matam-nos.

- Quem?

- Alguns, por aí. Não sei quem.

- Ah!

- Se os matam, morrem, não é?

- Claro!

- Claro, claro, não é!

- Então é escuro?

- Sim, até é! A morte é escura, ou clara?

- Nem uma coisa nem outra.

- Então o que é?

- Nada. A morte é nada, apenas.

- Para os animais irracionais também?

- Porque não?

- Talvez seja diferente…

- Talvez…

- Bem, até logo. Vê se escreves…

- Sim, até logo.

Absurdos intermitentes 1

- Porque mentiste?

- Não te menti.

- Não?! Então o que foi?

- Ocultei a verdade.

- Isso não é mentir?

- Não. É não dizer a verdade.

- «Mentir» e «não dizer a verdade» não é a mesma coisa?

- Bem vês que não.

- Se existe uma verdade ocultada deliberadamente, passa a ser mentira.

- Não, não passa… depende da intenção…

- Com que intenção escondeste a verdade?

- Não queria magoar-te, provavelmente…

- A verdade magoa?!… E a mentira, não?!

- Não magoa tanto… há verdades que magoam mais do que algumas mentiras.

- Consegues quantificar? Em quê? Em quilos ou em litros?

- Lá estás tu com ironias…

- A ironia é dizer algo com a intenção de exprimir o contrário! Também é uma mentira!

Quero escrever e abandonar o barco em que navego no mar alto.

Dilacera-me a aragem que sopra violentamente e caio no vácuo,

num movimento ascendente e despedaço-me em mil partículas,

que se soltam das amarras da unidade física.

Quero escrever e abandonar o barco que sobe ao pico da vaga medonha e forte,

e desce às profundezas do oceano estranho e belo.

Quero escrever.

Preciso de abandonar o barco.

A tempestade arrasta-me para longe e deposita-me no marasmo negativista da existência cruel e ambígua.

Quero afogar-me na solidão e conformar-me com a realidade ilusória e mentirosa.

Quero escrever o diário de bordo, testemunha do ondular perpétuo no azul e verde da viagem.

E partir!

E chegar!

14/02/1995

Máscaras

belas, aliciantes

verdadeiras máscaras

de hipócrita realidade!

transparentes e venenosas

coincidem com a falsa ciência da vida

em que o essencial

moldado pela eternidade

fatídica e cínica

rompe os fios condutores

da lógica do pensamento

07/06/1983

19/12/2006

Transpiração súbita


TRANSPARÊNCIA
TRANSLINEAÇÃO
TRANSTORNO
TRANSMUTAÇÃO
TRANSVERBERAÇÃO

Clandestinidade da palavra



ausência de palavras que ornamenta uma página
branca de vazios e de indiferenças
murmúrios ocultos de fosforescências
e sussurros intrépidos que ecoam na epiderme

uma ignorância epidémica de intenções
jorra de consciências abafadas e moribundas

selados os lábios
cerrados os olhos
seiva tornada raios de sol

18/12/2006

jerome murat


jerome murat
Vídeo enviado por segalier
A imaginação do ser humano não tem limites...

17/12/2006

Vagueei pela 7ª arte...



Duas comédias românticas possíveis só no cinema. Leves, para aliviar algum peso que teima em cristalizar-se no subconsciente desprevenido; provocaram-me, tanto um sorriso nos lábios, como uma lágrima ao canto do olho. Ambas as histórias com um ou outro episódio comum à vivência amorosa de cada um.
Na realidade, por vezes, o tom é mais trágico... Mas desenvolver a capacidade de rir das próprias desventuras, é um exercício que ajuda a encarar a nossa existência como uma passagem que não impedirá a rotação da Terra!


«No Alto da Serra do Marão»

Nunca resisto a entrar numa livraria e raramente saio sem ter comprado um livro! Vício, hábito, necessidade, não sei o que é... mas desde criança que esta atracção pelos livros me persegue, a ponto de sonhar em dedicar-me ao negócio ou viver numas águas-furtadas forradas de capas de todas as cores e feitios...

Recordo um dia em que apareceu, à porta lá de casa, um vendedor que apregoava humildemente uma colecção de clássicos a conta-gotas, de acordo com o orçamento apertado da altura. A minha mãe cedeu perante o meu insistente pedido para comprar todos aqueles livros que, hoje, preenchem uma das estantes do meu escritório e, que em tempos idos, já fizeram a delícia da minha imaginação.

Quando, nos tempos da faculdade, em Lisboa, me sentia mais melancólica, entrava numa livraria na avenida de Roma que primava pelo espaço e recheio e deambulava por ali, tocando, folheando, lendo um outro parágrafo deste ou daquele rol de palavras, fruto do esforço e do talento de mentes aturdidas pelo universo da criação literária.

A feira do livro era local obrigatório, diariamente, enquanto durasse… parque Eduardo VII acima, parque Eduardo VII abaixo, sem pressa, sem pés reclamando de tal peregrinação e sempre na ânsia de ver o escritor que, entre sorrisos, dava autógrafos.

Incuti no meu filho, felizmente com sucesso, o gosto pela leitura desde a mais tenra idade, tanto que, quando descobriu que por magia da professora não precisava mais da mãe para ler as letras impressas, insistia em ler às escondidas, quer na cama até altas horas, à luz de uma lanterna, quer na escola, a ponto de lá ser chamada para tomar medidas.

Nas mil vezes em que fui confrontada com a pergunta: «Mãe, que gostavas que eu fosse quando fosse grande?» descontrolei-me na última: «Escritor» respondi. «Mas tu é que sabes o que queres» acrescentei. E soube… frequenta o curso de Tecnologias da Informação e Comunicação…

Ontem, enquanto procurava uns livros aconselhados por um amigo, fui abordada gentilmente numa livraria do Porto: «Por acaso reparei que folheou aquele livro e gostaria de lhe falar mais um pouco sobre ele.» E eu deixei-me levar por aquele empolgamento próprio de alguém que «deu à luz» um punhado de páginas escritas e que baptizou: «No Alto da Serra do Marão». E não resisti: comprei o livro, não sem antes ter pedido ao autor uma dedicatória: «Nunca percas a fé e a esperança. Segue os trilhos do teu coração e encontrarás a felicidade. Do amigo Paulo Monteiro

Frase feita?! Talvez… é irrelevante. Merece a minha consideração e respeito pelo simples (e tão complexo!!!) facto de ser escrita por alguém que ama as palavras.

15/12/2006

Lateralmente...




«O homem e a mulher são como os dois pés:

precisam um do outro para avançar.»
E quando um deles, ele ou ela, é coxo(a) ?!

14/12/2006

<<< >>>


absorvida pelo vácuo das palavras
enclavinho fantasias e evocações
envolta num branco implacável de nostalgias e de nevoeiros

13/12/2006

... para celebrar a amizade...



Há um mês atrás, mais com o intuito de conhecer a Casa da Música, do que pela curiosidade de assistir ao concerto, realizei uma incursão pela música de Steve Reich. Acompanhada por um amigo autóctone da cidade invicta, e após uma excelente conversa numa esplanada à beira-mar, transpus a escadaria apinhada de público nervoso, e encontrei-me perdida no interior de uma obra arquitectónica extremamente sedutora e geometricamente atraente.
A pontualidade (diria britânica) do espectáculo obrigou a um adiamento de uma visita mais pausada e atenta.
Enquanto o meu olhar absorvia o ambiente humano e perscrutava os contrastes entre os materiais usados no espaço, os minutos passaram e, de repente, os meus ouvidos concentraram-se em sons cristalinos que, pela repetição, nos prendem hipnoticamente.
Confesso que o choque de tal minimalismo sonoro me deixou perplexa, sem apreender de imediato as alterações quase imperceptíveis ao longo da interpretação da peça.
A «coreografia», que é proporcionada pela troca de instrumentos entre os executantes e a perícia dos vibrafones tocados a quatro mãos, é um dos atractivos que envolve o olhar atento do público rendido aos encantos acústicos.
Esta «memória» é dedicada ao Pedro Lencastre, da companhia ilimitada deste blog, que atravessa um momento menos fácil, mas que, em breve, restabelecido, voltará para prestar o seu contributo e, desta vez, visivelmente!

Mais informações aqui

12/12/2006

Memórias, para que vos quero?!





Por coincidência e, não por qualquer deliberação voluntária de associação à necessidade de conservar, na consciência, o passado, confrontei-me recentemente com três livros:
«Memórias das Minhas Putas Tristes» de G. G. Márquez;
«As Pequenas Memórias» de José Saramago;
«A Misteriosa Chama da Rainha Loana» de Umberto Eco.
O primeiro, acabei ontem de o ler... e sou suspeita para emitir opinião, pois aprecio a literatura deste escritor de tal modo, que nunca resisto a comprar um livro com a sua «marca»! O segundo, consta da lista dos próximos a ler... O terceiro, é o meu livro de cabeceira desde há três semanas...
O que há de comum entre eles? «Memórias»!!!
O que me fez pensar... que necessidade nos obriga a sustentar as memórias?! Haverá uma fase da vida em que passem a ser imprescindíveis?! O que seríamos nós sem esse arquivo de lembranças mais, ou menos, nítidas, alimentadas pela nossa imaginação?!
No livro de Eco, a questão é mesmo essa: a personagem principal, Yambo, perde a memória após um AVC! O seu regresso ao quotidiano fá-lo explorar o caminho da virgindade de experiências, visto que não reconhece nada, nem ninguém. Conserva a memória implícita e a memória explícita semântica... é capaz de recitar trechos de obras que lera anteriormente... mas perdeu a memória explícita autobiográfica... Fascinante!!!
Acordar para a vida e, de repente, não existir nada para trás... Nem nome, nem idade, nem laços, nem história... Trilhar o caminho como se tudo fosse novo para os sentidos!!! Ver o sol como se de uma estrela recém-descoberta se tratasse, dar o primeiro beijo, ler o primeiro livro, cheirar o primeiro perfume...
Abolir o prefixo re- e nascer para a vida para vivê-la!!!

11/12/2006

Sem título



Ouvi e li as notícias com indignação e uma certa revolta. Prometi a mim própria não falar aqui desta morte, na medida em que, falar dela, é lembrar uma injustiça definitiva e a impotência perante um facto consumado! «Pinochet: Morte sem castigo»
É nestes momentos que a minha descrença hesita.
É nestes momentos que concebo a existência de um inferno para os que, impunemente, se despedem desta vida terrena...
É nestes momentos que a distracção do Homem pode contribuir para o ressurgimento de outros ditadores por esse mundo fora.

António Ramos Rosa:

O poeta que festeja o aniversário no mesmo dia que o meu pai

Que jogo é este jogo se é ainda um jogo
fora de qualquer regra ou de um ardil ou de um remorso
- o desafio de uma inocência viva no claro obscuro
no jardim de uma única árvore de uma única estrela
límpida e negra como o olhar de uma mulher sem voz...
que jogo é este que não duplica nem ecoa
um silêncio que se mantém inalterável
no instante de um jardim no fluir do poema

Como poderia o poema calá-lo se resplandece sem fim
em cada sílaba fragmentando-se
e fluindo respirando o instante absoluto
de um jardim
quase perdido e sem se perder
constituindo-se no fluir evanescente do poema?
E será o fogo do instante de um jardim
que o poema preserva sem o traduzir
sem o trair?

Este poema é um inédito de A.R.R. de 22 Jan. 2005
publicado no JL 6-198 Dez.

10/12/2006

007 My name's Bond




Mais um 007...! Agrada-me este herói com um perfil destemido, enigmático e sempre vencedor... digam o que disserem... gosto!

Daniel Craig suscitou-me algumas dúvidas no papel mas seduziu-me...

RE(a)cordar 4



Foto: Sílvio Panosetti

A alma contorce-se.

Os espasmos assaltam a tranquilidade e só resta a turbulência.

Passeio nua pelos contornos da tinta que vão acrescentando traços e mais traços

até formar o manto com que me cubro.

Disfarço-me de mulher e acredito que o sou.

As fraquezas emergem e ao sol são expostas.

Tornam-se feridas, cicatrizes que permanecem.

A lua ilumina-as dando-lhes formas ambíguas e distorcidas.

Já não sei o que é verdade, não quero saber se é mentira.

As linhas paralelas desenham perpendiculares que se esbatem

numa amálgama indistinta de valores, de sentimentos, de desejos.

Continuo a sonhar e o desconhecido atrai-me para o abismo da indefinição.

Acordo e o pesadelo começa a subir pelas paredes da imaginação.

Não sei onde vou chegar e subo…

Quando vou parar esta escalada sinuosa de montanhas mutiladas e sombrias?

08/11/95

RE(a)cordar 3



Os minutos entrelaçam-se,

Formam um colar de horas.

A ansiedade da presença

Torna-se angústia velada.

Acompanho o movimento

Descendente do sol

E visto-me de noite.

Cedo, começa a vigília

mas sei que vens tarde.

Demais,

Para palavras maduras e claras.

A escuridão envolve

O espírito já rendido

À solidão.

O gesto emerge da saudade

do que nunca houve.

O desânimo aniquila-se

E o acto acontece.

A lágrima retida

aguarda o momento

de ficar só

e escapar, enfim,

à prisão maldita.

07/10/95

RE(a)cordar 2



O sol é a mentira

Da verdade do dia

Distorce os rostos

Informes

Projecta a alma

Detida.

A lua

Que finge luz

É mais verdade

Sombria.

Alumia os rostos

que assumem contornos

Alivia a alma

que dos medos se liberta

Acumulados à luz do dia.

22/10/95

RE(a)cordar 1



Cansei-me do tempo

da palavra interdita

Bloqueada

à entrada da caverna.

Saltei a muralha

E abandonei a cela

Maldita

Que me persegue

Cruel.

Escrevi a palavra

Dei-lhe forma e luz.

Caí no abismo tirano

Que me despedaça

Em franjas pendentes

De uma resposta que tarda

E que nunca vem.

25/10/1995



20h30 - Ligo à N. - não, não vou sair; Ligo à L. - vou a um concerto. Ah, também recebi o convite... vou levantar o bilhete.
Enfio-me no Auditório Pequeno (para se distinguir do Grande!!!) a ouvir algo que, aos poucos, me vai triturando interiormente! Aqueles sons diabólicos roubados a um vibrafone (isto é nome que se ponha a um instrumento musical?!) que balançam entre a música para embalar bébés e música oriental causam, gradualmente, uma ressonância no meu cérebro como se vazio estivesse (não admira depois do dia intenso que tive!!!).
O telemóvel vibra... mas não fone, claro! Uma sms de um amigo... hum, ok... assim que pude, avisei a L. que ia sair. Às escuras, mas provavelmente dando suficientemente nas vistas, saí logo no final da actuação, com receio que a insistente salva de palmas os fizesse regressar ao palco e o martírio não tivesse fim logo naquele instante!
Já cá fora, a respirar o frio e sem ar, vi a minha suspeita confirmada no écran do telemóvel: «Eles voltaram... arranja mesa no cc.» Não fui ao cc, mas recuperei depressa da asfixia mental que o concerto me provocara, divagando ao sabor de uma bebida e de uma conversa sobre tudo e sobre nadas.

09/12/2006

REalidade(s)

The innocent victims of Internet child abuse cannot speak for themselves. But you can. With your help, we can eradicate this evil trade. We do not need your money. We need you to light a candle of support http://www.lightamillioncandles.com.

Para erradicar a viabilidade comercial da pornografia infantil online!

Existem mais de 100 000 sites de pornografia infantil!

Nos últimos 10 anos este comércio aumentou 1,500%!

Mais de 20 000 crianças aparecem sem sites de pornografia!

Crianças de 3 anos são vítimas da pornografia infantil!

(IR)realidades 3

Ron Mueck



"Big Man" 1998 (1,83m de altura)

Tal hiperrealismo até parece irreal!!!

Segundo a crítica, este é, dentre as obras de Mueck, o mais perfeito retrato da solidão humana!

Ver mais aqui e aqui.

08/12/2006

(IR)realidades 2


Beverly Jean, Dancing in the Wind
A chuva intensa e ininterrupta que teimou em cair durante todo o dia, como se quisesse impor a sua presença até ao mais ínfimo recanto do corpo, eliminava a possibilidade de um fim-de-semana sem nuvens.
À noite, tentava demover-me de sair do aconchego do lar, mas a minha habitual teimosia venceu e lá fui jantar com as amigas. As conversas de sempre e sempre animadas… Não, não vou dizer os temas, seus/suas curiosos/as. Seguimos para o café-concerto, onde continuámos a nossa «cavaqueira» com mais umas amigas, saltando de tema em tema, ao sabor de uma descontracção própria de quem já tem uma semana de trabalho para trás.
De vez em quando, os meus olhos passeavam pelo exterior e, apesar do «barulho» dos sons emitidos por um pianista e um cantor convencidos do seu talento, ouvia a chuva lá fora. O vento embalava-a em movimentos firmes e oblíquos, numa dança contínua e sensual.
De regresso a casa, ainda sem sono, sentei-me em frente ao computador que, de há uns tempos para cá, ameaça não ceder à minha vontade e mantém-se por algum tempo impavidamente inerte… por fim, desiste da sua imobilidade, num gesto de condescendência, adiando a decisão definitiva para uma próxima vez. Verifico se há comentários no meu blog, abro os mails da longa lista que teimam em enviar-me.
De repente, um corte de luz! Mergulho numa escuridão silenciosa, apenas entrecortada pelos silvos da ventania enraivecida, como se um desgosto de amor a tivesse atingido como um raio e a dor fosse tão insuportável que, num impulso indomável, quisesse anunciar a quatro ventos o seu sofrimento.
Deitei-me e adormeci à luz das velas que espalhei pelo quarto, reflectindo sobre a dependência brutal que temos da energia e tentando imaginar a vida umas décadas atrás, em que essa necessidade não existia.
Acordei, passado algum tempo, pelo som de um silêncio surdo. Apaguei as velas. A natureza tinha vencido a sua agonia e dormia agora, cansada mas serena e confiante de que, no dia seguinte, a vida continuava.
Hoje o sol recompensou-a com o seu sorriso. Valeu a pena a tempestade.
«Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena».

05/12/2006

(IR)realidades 1

Recém-sentada à minha secretária, irrompe uma colega no gabinete e comunica-me que o J. estava na aula de Português mas afirmava que, na primeira oportunidade, ia fugir da escola, que se matava, que ninguém o podia obrigar a estar ali…

O peso da responsabilidade obriga-me desde há uns tempos a edificar uma imunidade à minha volta, sob pena de me estilhaçar em fragmentos, tais os dramas humanos que, por vezes, se me deparam, agravados pelo facto de envolverem jovens cheios de ambições quiméricas e oníricas, na flor da idade, com o direito à totalidade da vida!

Levantei-me da cadeira (que, insisto, me provoca dores nas costas!), ainda preguiçosa pelo acordar antecipado de que não recordo o motivo, dirigi-me à sala em passos firmes, mais pelo arrepio de frio e chuva, do que pela vontade de assumir a figura adequada às funções. Bati à porta e solicitei autorização à colega para que o J. viesse comigo.

De mãos nos bolsos, o olhar cabisbaixo, caminhou ao meu lado. Perguntas vagarosas soltaram-se após ter anunciado suavemente: Vamos conversar um bocadinho… De onde és?... Tens irmãos?... E os teus pais, que fazem?...

Chegada ao gabinete dispunha de uma porção de informações que não permitiam penetrar naquela mente tão inundada de angústias.

Senta-te aí. Tira as mãos dos bolsos. Carinhosa mas firmemente, sem descuidar a minha postura de educadora, sondei-o… Que queres fazer da tua vida? - Comecei.

Após uma breve troca de palavras, em que o J. se recatava em monossílabos e pouco mais, dando a conhecer a sua curta história (pai que trabalha no campo, mãe doméstica, 3 irmãos de 18, 20 e 21 anos sem terem completado estudos, sem trabalho, por desleixo ou teimosia), perguntei: Sentes-te revoltado?Sim.

As palavras fluíram então, sólidas mas carinhosas, entre conselhos e incentivos… As lágrimas soltaram-se daqueles olhos vazios ao fim de alguns minutos. Saiu, de mãos nos bolsos novamente, mais aliviado, comprometendo-se afirmativamente, sim, ia estudar, vinha para a escola, não ia faltar mais. O J. tem 13 anos e frequenta o 6º ano.

Há umas semanas atrás, sentada na cadeira de um auditório com cerca de 300 pessoas, ouvindo os responsáveis máximos pela educação, sonhei quando ouvi os números! Um paraíso, afinal!

O J. irá à escola durante uns tempos, principalmente porque o lembrei que dispõe de uma refeição em condições, do convívio dos colegas e dos professores, dos computadores, da biblioteca, do desporto…

Não pude alimentar-lhe mais o sonho, de que acorda diariamente quando entra em casa e vive o mundo real com problemas de que não tem culpa e que o impedem de ser menino!

Não vou cruzar os braços e farei o que for possível para que o J. seja mais uma criança a usufruir das mesmas oportunidades que tantas outras, arbitrariamente, foram recompensadas pelo destino.

Um sorriso pintado de incredulidade




Ora bem... para demonstrar que conservo o meu sentido de humor e que este blog não pretende ser, de modo nenhum depressivo, mas apenas um exercício de manutenção intelectual (gostaram da expressão?), deixo aqui um sítio para consultarem...
Um cadastro de homens/mulheres não recomendáveis?! Já viram se a moda pega em Portugal?! Não tarda nada aparece por aí um programa na TV!!!

04/12/2006

Geração «rasca» ou «à rasca»?




O texto «Ser jovem em Portugal» neste blog obriga a uma reflexão.

Lutas por ideais e conquistas alcançadas...

Nós, a geração dos actuais entas (40-50), que legado deixamos nós à geração seguinte?!



03/12/2006

Linguagem corporal...

REacender(es) 3


a noite desponta

a lua desenha-se

vibram as estrelas

esmorece a luz

e o sonho torna-se vida

os vultos agitam-se

os medos pulsam

pressente-se a solidão

acaricia-se a quimera

e o sonho solta-se lento

o fantasma aparece

a visão mortifica

estremecem as paredes

tremem as janelas

e o sonho voa

o sonho parte

o sonho morre

REacender(es) 2


universo forjado do meu peito

outrora sentimento fugaz

corrói lentamente

as células do meu ser

a forma universal do amor

vivifica o corpo inerte e ácido

e a dor da dúvida

alimenta pensamentos

ergue-se como obstáculo

aos sonhos da suprema felicidade

REacender(es) 1


Aroma inebriante
que incendeia o interior
e consome lentamente
os restos de paixão.
Das cinzas, o fogo é ateado
novamente
e cresce sem parar
destruindo tudo
por onde passa.
Não há lugar
para descansar
e permanecer.
Calcinado e fumegante
o corpo estarrece.
A alma padece
o espírito merece
o inferno
que lhe foi destinado.

02/12/2006

REpensar 3







Paradoxos invisíveis ao umbigo!

REgresso aos 60s

Ora aqui está uma excelente ideia... Devia ser instituído, pelo menos, um dia por semana!!!
Já imaginaram bem esta cena à dimensão planetária???

Bora lá dar o nosso contributo pela paz!!!


ORGASMO GLOBAL
22 DE DEZEMBRO

orgasmo global

01/12/2006

REpensar 2



O jogo da vida... a tacada final... o último buraco...

«Os dados do INE indicam que, em 2005, Portugal registou uma morte a cada cinco minutos!»

Fiquei a pensar... e lembrei-me do «Ensaio sobre a Cegueira» do Saramago...

Ocorreu-me:
Se cada um de nós soubesse que morria daqui a cinco minutos, o que faria?

Relatório do estado do mundo



Se a população da Terra fosse reduzida à dimensão de uma pequena cidade de 100 pessoas, poderia observar-se a seguinte distribuição: 57 Asiáticos, 21 Europeus, 14 Americanos (norte e sul) 8 Africanos, 52 mulheres, 48 homens, 70 pessoas de côr, 30 caucasianos, 89 heterossexuais 11 homossexuais.
6 pessoas seriam donas de 59% de toda a riqueza e todos eles seriam dos Estados Unidos da América; 80 pessoas viveriam em más condições; 70 não teriam recebido qualquer instrução escolar; 50 passariam fome; 1 morreria; 2 nasceriam; 1 teria um computador; 1 (apenas um) teria instrução escolar superior.
Quando olhas para o mundo nesta perspectiva, consegues perceber a real necessidade de solidariedade, compreensão e educação?
Pensa também no seguinte:
Esta manhã, se acordaste de saúde, então és mais feliz do que 1 milhão de pessoas que não vão sobreviver até ao final da próxima semana.
Se nunca sofreste os efeitos da guerra , a solidão de uma cela, a agonia da tortura, ou fome, então és mais feliz do que outras 500 milhões de pessoas do mundo.
Se podes entrar numa igreja (ou mesquita) sem medo de ser preso ou morto, és mais feliz do que outras 3 milhões de pessoas do mundo.
Se tens comida no frigorífico, tens sapatos e roupa, tens uma cama e tecto, és mais rico do que 75% das outras pessoas do mundo.
Se tens uma conta bancária, dinheiro na carteira e algumas moedas num mealheiro, pertences ao pequeno grupo de 8% de pessoas do mundo que estão bem na vida.
Se estás a ler esta mensagem, és triplamente abençoado, pois: 1. alguém acabou de lembrar-se de ti. 2 . não fazes parte do grupo de 200 milhões de pessoas que não sabe ler. 3 . e... tens um computador!
Tal como alguém uma vez disse:
- trabalha como se não precisasses do dinheiro;
- ama como se nunca tivesses sido magoado;
- dança como se ninguém estivesse a ver-te;
- canta como se ninguém te estivesse a ouvir;
- vive como se a terra fosse o Paraíso .
Recebido via e-mail
Autor desconhecido

Um sorriso pintado de humor



30/11/2006

REpensar 1



Perguntaram ao Dalai Lama:

«O que mais te surpreende na Humanidade?»

E ele respondeu:

«Os homens... porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde.

E, por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem-se do presente de tal forma, que acabam por não viver nem o presente nem o futuro.

E vivem como se fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido!»

29/11/2006

(IN) autenticidades 3



Hoje não há palavras... apetece-me um bloqueio de ideias e de sensações... livre para voar em espiral pela imaginação do vazio...

Um cansaço cretino desmaia pelo meu corpo que, indolente, vagueia por aí...

Uma inércia inexaurível invade o espírito e trauteio a canção:

«Vem no fim da noite sem avisar
Dança no silêncio no teu olhar a chamar por mim
A chamar por mim…
Chega com a brisa que vem do mar
Brinca no meu corpo a desinquietar, como um arlequim,
como arlequim…
Chega quando quer e não quer saber
Nem do mal que fez ou que vai fazer, é um tanto faz…
Querer ou não querer…
Chega assim cavaleiro andante,
Louco e triunfante
Como um salteador
Pra no fim nos deixar a contas
Com as palavras tontas
Que dissemos por amor…»

28/11/2006

(IN) autenticidades 2



Foto: Wilian Aguiar

Há dias assim… é a letra duma canção, não é? Ou alguma coisa similar… Não me recordo, nem quero esforçar-me em divagar por aí à procura de sentidos e de contextos.

Tudo é tão irreal e encenado!!!

Acordei esmagada pela expectativa de mais um dia repartido entre um gabinete e uma deslocação ao Porto para uma reunião de trabalho. Espartilhada num automatismo de movimentos e de reacções, agi em conformidade com as expectativas dos outros, decidindo, ordenando, advertindo, aconselhando… A ausência de sentido conduz-me por labirintos fantasmagóricos que me impulsionam sem relutância a abrir os olhos e a olhar o céu.

Uma inquietação toma conta de mim e perfura-me, pouco a pouco, sem respostas e sem estímulos. Abandono-me às palavras e danço com elas. Uma solidão que desponta aqui e ali por entre essa multidão de seres, que interagem indiferentemente e articulam sons incompreensíveis, atira-me para a berma da linha imaginária que delineia o meu caminho sinuoso e linear, num paradoxo gélido de sentires e de olhares…

27/11/2006

(IN) autenticidades 1



E o vento levantou o véu sem pretensões nem dilações. A meio caminho estanquei, impávida e impotente, com os olhos pregados no horizonte envolto numa névoa indistinta de cores e de formas.
O mar plagiava os uivos de uma dor distante e recusada perante a margem profana e ambígua de um fim suspenso, como se de um início se tratasse.
O ar recuou domado por um impulso de jejum libidinoso e mumificou-se num suspiro escultural de eterna beleza, inextinguível, captada por efémeros instantes.
O tempo susteve-se numa indiferença paraplégica e a linfa inverteu o movimento circulatório, elevando a esperança até ao infinito.
Espero, perseverante… como se da espera urgisse a esperança.

Um sorriso pintado de vermelho



Sorri ao verificar que 100 visitantes passaram por este blog de principiante que foi concebido num impulso de mudar rotinas e multiplicar olhares.
Não há uma finalidade pré-estabelecida em colocar este ou aquele texto, esta ou aquela imagem… A forma e conteúdo dependem única e exclusivamente do estado de espírito e da disposição com que o acordar me brinda, após uma noite bem ou mal dormida.
Apesar dos meus colaboradores terem acedido gentilmente ao meu convite, o certo é que qualquer um deles tem uma vida profissional muito absorvente e, apesar da boa vontade ou condescendência face às minhas aspirações, ainda não iniciaram a sua participação activa, excepção feita ao Carlos C. com o poema «Verdade» de Carlos Drummond de Andrade.
Mas o incentivo de alguns comentários e o apoio na rectaguarda dos colaboradores, contribuem para não abandonar para já este projecto, até porque, para quem me conhece bem, dificilmente desisto!
Neste momento, o balanço que faço desta experiência salda-se por uma descoberta estimulante, dado que tem permitido navegar por outros blogs já consolidados e fontes de conhecimento, de imaginação, de criatividade.
Agradeço aos 100 visitantes que espreitaram este esboço indefinido e espontâneo, que vai circundando as linhas e as margens de uma intimidade mais ou menos exposta.

26/11/2006

Re miniscências 3

Egon Schiele


Buscar o inatingível

Fugir ao inevitável

Negar a evidência

Do despontar suave

Da semente ignorada

Que chegou com o vento

E cresceu sem licença.

O tempo fez o resto:

A semente medrou

mas não desabrochou.

O ar estéril

queimou o botão

que já brotava.

Do caule sangrou a seiva

derramou-se no solo

inconsistente e imperceptível

Foi um só e único grito

de dor atroz e aguda

que penetrou na raiz

e dizimou a última réstia de vida.

RE miniscências 2

A negação emerge subitamente

A esperança esvai-se

O amor dissolve-se.

Revolta e rigidez permanecem.

Dizer não, escrever não.

Sentir… não!

A consolação da vingança

Dilui-se no alívio da libertação

Perseguir um futuro enevoado

Indistinto e indefinido.

É avançar contra o vento

Caminhar entre as gotas de chuva.

Evitar a mágoa

E interromper definitivamente o sonho.

RE miniscências 1

A chama derrete a vela

a cera queima os dedos

os nervos, até…

a dor não doer mais!

De novo a cera envolve um corpo inerte

o coração pára de bater

o pensamento dissipa-se

e nada fica, até…

a morte não matar mais!

O sublime declina

purifica a alma

que nada é.

O exorcismo mítico

do peso vagueia

pelos séculos

e faz ruir

e regressar às origens

Mais nada é, é pó

que se desprende

percorre o universo

brilha nas estrelas

cintilantes e artificiosas

que sobrevivem ao Tempo

e arrebatam as novas gerações.

25/11/2006

RE impressões 3


Frida Kahlo El venadito, 1946


tribos pré-históricas

lançam o fogo

no caos implacável

é um bramir de forças sobrenaturais e pálidas

emergem doces carícias

na triste aparência

reencontro os deuses

louvores dos cegos

calamidades

ritmo afastado do sol

amortece a sólida mármore

terrível visão de vultos

sensíveis e apáticos

executados na guilhotina

arrepiante e libertadora

detém o tráfico de almas

RE impressões 2

filosofia mórbida

caça o ser

nos cumes dos céus

expressa as faces

dilatadas e roídas

nos extremos

da continuidade

brilha o efémero

na solidão niilista

palpita o fígado sagrado

dos resíduos nucleares

sorve o líquido

da carne dilacerada

fruto espiritual

da função exacta

implícita na latitude

da hesitação constrangedora

e póstuma:

verdade ou ilusão?

realidade ou quimera?

RE impressões 1


Foto: http://www.allposters.com/

olhares subtis

que se tocam

num ritmo lento

apetecido

irresistível

comunhão táctil

descoberta irremediável

sentir a pele

sonhar reinos

conquistados

e perdidos

querer

acima de tudo

apesar de tudo

mais que tudo

a palavra

aterra o coração

domado

domina o espírito

revolto

dizer não posso

sentir não quero

mas a palavra

existe sem dizer

o amor

impõe-se sem sentir

o jogo acaba

num fumo sem dor

sem vencido

nem vencedor.