SEM LIMITES, SEM FRONTEIRAS, SEM TEMPO, SEM ESPAÇO, SEM COR, SEM NACIONALIDADE, SEM SEM SEM...
27/12/2007
Rotação 3
Rodopiam albatrozes no ar...
circulam nas ondas rasgadas de espuma
e viajam por longas distâncias:
atrás, deixam o sabor agridoce do passado
povoado de ténues memórias
da respiração arfante de crianças
presas à voz grave que se solta em gargalhadas
envolvem-se no mistério de uma porta que se abre
e dela surge, repentina, a figura amada
e há tanto desvanecida dos olhares fixos no mar
20/12/2007
Rotação 2
giro à volta do eixo imaginário
de presenças vazias de sentido
que movem raízes de si
sem saberem
e partem...
delas reconheço esboços de uns
e de outros sem tacto
que se baralham nas luzes da cidade
e não são quem eram
mas eram trindades unívocas
antes de tomarem novas rotações
patéticas e embaladas em alvoroço
- denunciam ausências arriscadas
de quereres perdidos para sempre
16/12/2007
Rotação 1
colhida pela intempérie de luzes
esvoaço pelas solidões alheias
enclavinhada em vectores inscientes
que rejeitam formas incisivas
de boatos e rumores anacrónicos
e presa à rotação insolúvel das imagens
prescindo da força centrífuga
que irradia a cor ténue da palavra
e extrai fantasias desenhadas a carvão
de jazigos encerrados pelo tempo
de livres associações
combino sentidos e figuras
que se fundem numa alquimia
de afectos intensos e vorazes
04/12/2007
Paris
Paris com chuva, frio e vento...
Paris, com o sol tímido a romper por entre as nuvens e a teimar mostrar a sua exuberância, o seu encanto, a sua luz, o seu mistério, o seu romantismo...
Paris, trespassada por cores e por música... por pessoas oriundas de todos os cantos do mundo... por cheiros e por vozes...
Uma viagem a Paris devia fazer parte do currículo escolar! Em tenra idade, mas já suficiente para compreender o mosaico multi-facetado em que vivemos.
Aprender a sentir, a ver, a ouvir, a cheirar, a rir, a compreender, a aceitar, a amar!
E, de quando em vez, revisitá-la para não esquecermos...
Relembrei e descobri Paris diferente.
.
27/11/2007
Recessão (3)
de invernos distantes
retidas no lastro da lareira
consumida pelo tempo
recuo por trilhos de serenos olhares
que me afagam os cabelos
eivados de ternuras avoengas
e pinto mãos enrugadas e calosas
nas paredes de casas fantasmas
percebo sorrisos remotos
que embalam sonhos e premonições
20/11/2007
Recessão (2)
com palavras perdidas
da infância extraviada
no tempo devorado
por idades remotas
sem rugas sem gelhas
que atenuam a cor
e a dor aparente
dos anos implacáveis
desperto em nevoeiros
e elevo-me na atmosfera
condensada de raízes
sem sementes nem embriões
suprimida por impotência
da natureza e da matéria
11/11/2007
Recessão (1)
que me transportam tímida
por décadas, séculos, milénios
sem causalidade aparente
viajo à velocidade da luz
e mergulho em tempos remotos
de fantasias medievais
ou de festins romanos
recuo a épocas de grutas
e descubro o fogo hipnótico
que me devora numa combustão
interminável
e desfaleço em labaredas
e converto-me em cinzas
04/11/2007
Tempo de pintura...
Cheguei tarde e aguentei o frio que caiu após um dia de sol que se recolheu sem avisar.
Enquanto esperava na fila, pude observar o movimento das pessoas que se deslocavam lentamente e aos soluços, percorrendo o perímetro do átrio dessa bela casa, um exemplar magnífico da arquitectura solarenga portuense, que remonta ao século XVIII, em estilo barroco, da autoria de Nicolau Nasoni. Tentei, para me distrair e divertir, mudar o rumo da fila que seguia atrás de mim, dando uns passos mais à direita. Pouco consegui, mas confesso que não me esforcei muito.
Já lá dentro, pude apreciar o calor que aquelas paredes ofereciam aos visitantes, além dos interiores ricamente revestidos.
Não me seduziram as sequências de litografias ("Bíblia Sagrada", "Gargantua e Pantagruel" e "Fausto"), exceptuando uma ou outra. O mesmo não posso dizer das esculturas que, até ao momento, nunca tinha tido oportunidade de ver. Fixei em especial "Mulher Nua Subindo a Escada" que me atraiu pela simplicidade de formas e pelo movimento de ascensão que expressa.
Registei a inabilidade dos visitantes que observavam as obras expostas a vinte centímetros de distância, como se as fossem devorar a qualquer instante e impediam a visão sequencial e global da obra. Enfim...opções (?!)
Foto: http://jpn.icicom.up.pt/
Tempo de cinema...
Elizabeth The Golden Age
30/10/2007
Andei em mudanças
de distracção
de reflexão
de tédio
de euforia
de falta de tempo
de excesso de trabalho
de desmotivação
de insatisfação
de compensação
de alegria
de amor
por tudo isso, ou por, mais ou menos do que isso,
tenho andado distraída com este blogue
havia toques de rotina, de «sempre igual»
lia os comentários interessantes
mas uma inércia impedia-me de responder
peço desculpa
até que
decidi mudar a aparência
o que me deu algum trabalho sem dúvida
mas gosto
agora gosto do que vejo
assim um cinzento que ofusca
e que projecta as palavras cintilantes
a fotografia...é a calçada da estação do caminho-de-ferro do Pinhão
onde fui passear com o meu mais-que-tudo
num lindo dia de sol...
e sobre tudo e ou nada se escreve
assim sem regras nem sintaxe...
28/10/2007
Intervalo(s) 3
invisíveis a desejos de carrascos
que esbatem sombras de aves
loucas de voos agrestes e desabridos
apago-me em teorias de probabilidades
que arrastam hipóteses alienadas
de conceitos e de funções
por cima das ondas que entoam melopeias
que me aconchegam o olhar
Intervalo(s) 2
porque de mim não quero ser
apenas pintura figurativa
cometo delitos puros de intenções
e desenho identidades triangulares
limitadas por circunferências presumíveis
que arredondam formas sequazes
de corpos esbeltos
23/10/2007
Intervalo(s) 1
flutua uma nuvem que abraça o mar
e mergulha na profundidade de transparências
indomáveis e revolvidas
habito território bravio
e altero pigmentos na superfície espessa
de textura insurgente e suave
irradio brilhos e contrastes
em projectos de matizes oníricas
que me acordam tranquila
22/10/2007
«Crianças Invisíveis»
"Crianças Invisíveis" (2005)é uma colectânea de sete curta-metragens realizadas por cineastas de diferentes nacionalidades, que narram histórias sobre as condições de
vida das crianças que habitam na região de onde são originários, expondo uma realidade cruel e desumana que faz delas uns heróis.
Impressionou-me a força de viver, a capacidade de sobrevivência e a coragem de enfrentar os obstáculos. Fez-me pensar nas preocupações ridículas que atormentam as nossas tão vulgares existências. Perto destas crianças somos meros transeuntes da vida!
Mehdi Charef, conta a história de Tanza, um rapaz de 12 anos que se alista num exército de lutadores pela liberdade.
Emir Kusturica, escolhe para título do seu segmento Blue Gypsy, que conta a comovente história de um jovem cigano.
Spike Lee apresenta Jesus Children of America, que retrata a luta de uma adolescente de Brooklyn que descobre ser a filha seropositiva de um casal de toxicodependentes.
Katia Lund, em Bilu e João, retrata um dia na vida de duas crianças que não se resignam às adversidades, nas ruas de São Paulo.
Jordan e Ridley Scott co-realizam Jonathan, que descreve a vida de um repórter fotográfico, que regressa à infância para escapar ao sofrimento pessoal.
Stefano Veneruso em Ciro leva-nos aos bairros pobres de Nápoles para assistirmos à história de um jovem a viver entre o crime e as brincadeiras próprias da sua idade.
Com John Woo viajamos até à China com Song Song e Little Cat, e descobrimos a vida de duas crianças - uma órfã pobre e uma jovem rica, mas perturbada.
14/10/2007
«A Terra antes do Céu»
Um Torga cheio de música, de olhares diversos, de palavras, de silêncios, de forças ocultas da terra e de imagens filtradas pelos sentidos individuais...
Um filme de autor que penetrou no universo torguiano de forma singular mas poderosa.
Muito mais haveria a dizer sobre o que vi mas, perante obra de arte de tal dimensão, recolho-me a um silêncio feito de admiração.
Advertência: incompatível com ambientes "pipoqueiros", como, aliás, o próprio realizador referiu.
Distância(s) 3
percorro a carta topográfica de sorrisos
envoltos em acidentes geográficos
que determinam o perímetro da inconsciência
e revelam audazes distâncias e ângulos
de um sentir saudade sem tamanho
sem fio de prumo credível
sustento olhares indiscretos de razões verticais
sem nível estável
espalho-me numa horizontalidade de solvências
e recordo infâncias alheias como se de mim
fossem outros a quebrar silêncios
.
08/10/2007
Distância(s) 2
parto sem quadrantes, nem astrolábios, nem balestilhas
sem coordenadas geográficas irrompo
por entre jardins de tulipas roxas
e esquivo-me para refúgios gerados em ventres férteis e frondosos
reduzidos a escalas celestes e universais
descanso na rosa-dos-ventos que aponta a direcção
para infinitos afluentes de qualquer lugar
sem patamares e sem razões
.
Distância(s) 1
.
entre penumbras e luzes que se aconchegam
no rosto de versatilidades dormentes
em segmentos de metáforas sincopadas
traço longitudes melancólicas entre pontos imaginários
estabeleço um meridiano perpendicular a pólos
sem norte sem sul
esboço um equador de intersecções abstractas
e de hemisférios inseparáveis
onde a realidade é aquilo que quero.
03/10/2007
O Lobo Antunes de sempre
Hoje fui visitar alguns blogues que fazem parte da minha lista de preferências. Não tenho tido tempo para me dedicar à leitura, à divagação, à observação, à escrita.
A entrevista, valorizada pelo conteúdo das respostas em detrimento da qualidade das perguntas que só alguém como A.L.A. consegue com uma habilidade intelectual e riqueza interior, surpreendeu-me linha a linha.
«Há zonas em mim que desconheço, portas que nunca abri e que, no entanto, aparecem nos livros e provocam-me uma certa perplexidade ao querer saber de onde é que isto vem, de que profundidades nossas, que todos temos.»
Na
30/09/2007
Um saxofone com vida
Apesar do cansaço provocado por uma longa e árdua semana de trabalho, não resistindo a fechar os olhos uma vez por outra, apreciei os sons retirados do saxofone com alma e coração. Sim, porque a alma existe só e apenas na música. É a conclusão a que cheguei no final do concerto.
23/09/2007
«Um Poderoso Coração»
Um Coração Poderoso, realizado por Michael Winterbottom, poderia ser um bom filme, mas, a meu ver, reduz-se a uma perspectiva monocular da verdadeira história que, por si só tão dramática quanto real, poderia servir para explorar outras sendas políticas e revolver consciências.
22/09/2007
IMPOSTOS p'ra que vos quero!!!
- irá para pagar as pensões dos idosos que, com pouco mais de 50 anos, se levantam às 7 da manhã, fazem exercício físico, passeiam pelos jardins, tomam café com os amigos/as, viajam por esse mundo fora, sustentam os filhos e os netos (porque o dinheiro não lhes chega, pois, por sua vez, pagam impostos, o LCD, o veículo topo de gama, o infantário, o Instituto de Inglês, a natação, as aulas de música, os vídeojogos, o telemóvel deles e dos filhos) ...
- ou para as pensões dos idosos indigentes e doentes que recebem uma ninharia?
Penso também: a que grupo pertencerei daqui a 20 anos?! Por este andar certamente ao segundo. É que nessa altura não haverá nenhum otário a pagar a minha reforma!
IRC - era o que faltava... não pago! não sou pessoa colectiva... por enquanto... sei lá...
IVA - indirectamente em tudo... no papel higiénico, no leite, no cinema... (há que poupar na higiene, na alimentação, na cultura!)
IMI - em 2 anos 900,10€ directamente para o município... (quem me mandou a mim confiar no representante da imobiliária que me garantiu ter pedido a isenção?!)
IMT - Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (conheciam este?! se venderem ou comprarem um imóvel vão descobri-lo!)
IMV - 50,29€ pago em 31 de Julho... acrescido ao imposto que, sem sequer darmos conta, pagamos na gasolina...
Habitualmente ando distraída com as contas... mas há tempos reparei por mero acaso que desde Abril de 2005 a prestação do meu apartamento aumentou 265€... (pouco menos do dobro que pagava no início!). A este ritmo, não tarda a que a placa "VENDE-SE" esteja colada na minha varanda e seja mais uma a enfeitar o prédio de 9 andares em que moro! O problema será arranjar um comprador que ganhe mais do que eu e que pague menos impostos!
Isto tudo reduz-me à grandeza dos números e à insignificância do esforço com que diariamente exerço a minha profissão, luto por ideias e acredito ainda ... ... ... (em quê?!) Agora, juro, fiquei sem palavras!
Mas não há crise nenhuma! Não fiquem com uma ideia errada! Isto é só um problema pessoal, ou nem isso, pois não havendo solução à vista, deixa de ser problema! A comunicação social dá-nos conta diariamente dos avanços que o país tem realizado.
Um àparte: o marido de uma funcionária lá do sítio onde trabalho, com 52 anos, recebeu um computador portátil como prémio por ter concluído o 6º ano em pouco mais de dois meses (pobre do filho que não tem a mesma oportunidade e se mata a estudar!)!!! Não sabe é trabalhar com ele... pois o emprego que tem ainda não está ajustado a essa necessidade... mas certamente será para breve que baste teclar «rede de saneamento» no seu portátil e todo o concelho fique servido eficazmente!
Sugestão
Espreitei o adesenhar e descobri isto.
Sigam as pistas e aproveitem o fim-de-semana
para mudar a rotina
e ganhar novas energias para a semana.
Visite também
Fuego (3)
de sombras e de labaredas
de mãos e de olhares
divago e perco-me
em ti
por fora por dentro
arrasto-te
corres nas minhas veias
em permanente combustão
Fuego (2)
ardo na tua boca
e no insenso que nos amanhece
sem pudores de inverno
tirito de calor
numa onda que invade os sentidos
insensatos e alienados
visto-me para ti
de cores vermelhas
e de excepção coberta
Fuego (1)
entre o branco dos lençóis de linho
bordados
de sonhos e de desejos interditos
sem temores
as dermes rubras
cruzam-se
num contínuo fluir
d'estremecimentos
Abreviatura(s) 3
é um acento grave
que me adormece
e me acorda
em rotineiros costumes
(de rotinas perdidas)
impassível
parágrafo da vida
que me agrilhoa
no tempo e no espaço
pontilha as horas
e os adjectivos
entre um e outro ditongo
e resvalo para o rio
sem translineação
nem ancoradouro.
.
13/09/2007
Novos Talentos
Update: Apresentação Lisboa
Houve alteração da hora e local da apresentação, em virtude do agendamento do jogo Benfica- Sporting para aquela hora.
Assim:
Apresentação pública de Versos Nus, em Lisboa, no dia 29 de Setembro:
16 horas
Magnolia Caffe - Praça de Londres
Metro mais próximo: Campo Pequeno - (linha amarela)
Não me recordo como foi... vagueei pela blogosfera e encontrei-
Na entrevista ao autor podemos descobrir mais...
O lançamento do livro de Tiago Nené será em Lisboa, no
Uma capa expressiva que sugere um «miolo saboroso» .
Votos de muito sucesso!
02/09/2007
Abreviatura(s) 2
palavras nutritivas
dão alimento à fome de viver
enquanto
silêncios abstractos
tonificam sonhos musculados
versos por rimar
(porque em rimas não respiro)
toldam razões e tensões
conquanto
o trilho mais perceptível
recebe passos abertos
incondicionais
sem peso nem medida
.
01/09/2007
Abreviatura(s) 1
escrevo uma abreviatura
navego pelo alfabeto
que me mantém
permanentemente
em combustão
no cais de intemporal chegada
30/08/2007
29/08/2007
28/08/2007
... da água
regresso ao recôndito e ao esquecido
adormecido
evoluo... (as têmporas latejando)
e me atira raios de sol
parida pela água salgada
que me ofereces
e alada voo
nas ondas do teu sonho
acordado em mim
26/08/2007
uma troca de olhares felinos...
e castanhas ameladas (... leais!)
fundiram-se por instantes
numa desconfiança mútua
suavizada pela imobilidade que,
recíproca, nos surpreendeu.
14/08/2007
Sem peias...
Porque há textos que valem a pena serem lidos e divulgados!
09/08/2007
Parque Natural de Aiguestortes y Estany de Sant Maurici.
Mais perto do céu, a noite é mais escura e as inúmeras estrelas brilham com mais intensidade...
A água gelada e cristalina segue o seu curso selvagem ao sabor de desejos inconfessáveis das pedras que a acariciam...
Verde é a paisagem que, a perder de vista, entre vales e montanhas, nos faz sentir tão insignificantes...
Sensações acentuadas por risos, música, aventura, espírito de colaboração e de comunhão com a natureza que, num gesto de humildade, se nos oferece com toda a sua imponência, apesar de tão frequentmente maltratada pelo ser humano...
05/08/2007
Bordertown não é só um filme...
Um filme recomendado pela
acrobacia(s) 3
extática...
abro portas e sorrisos
de moradas esculpidas por magia
numa vertigem entreabro os olhos
e por acasos atravesso mundos
indefinidos e enigmáticos
que se estendem rubros e dóceis
adiante e algures de tempos
riscados em céus por estrelas
e borboletas de vidro
sem ventos que me levem
entrego-me sem parêntesis
nem todavia mesmo assim
a partilhas de tudo e nada
sem razão nem algo
que me acorrente a reticências
ou a palavras tolas e vãs
vibro num ocaso que nasce
e aquece após e antes
até insondáveis sem fins
que invento em ti
04/08/2007
Para pensar e não esquecer
Em descanso mas não distraída... É importante que façam pausa na música de fundo do blogue.
25/07/2007
acrobacia(s) 2
atrevida...
lanço o olhar
para horizontes esquecidos
numa vertigem abro os olhos
com brilhos nítidos e explícitos
dou corpo à voz
que, em vogais abertas
define o timbre
e em tónicas a intensidade
articulo preposições
contraídas com artigos
que rasgam histórias vividas
e renovam interjeições
há tanto refreadas
de emoção natural
a frase exclama prazer
adornado de sorrisos
como flores viçosas
que entoam baladas
e me acordam em ti
17/07/2007
Partir e ficar
Saio daqui a cinco horas e lá vou rumo a
Escolha ou destino?
13/07/2007
acrobacia(s) 1
mantenho o equilíbrio
a alturas distantes da ordem
numa vertigem fecho os olhos
à esquerda e à direita
num fio da navalha
de dentro de fora
de perto de longe
de tempos a tempos
de muito de pouco
de tudo e de nada
num desafio a limites e a regras
medievais ou barrocas
às claras e às escuras
a torto e a direito`
de manhã e à noite
em contramão e veloz
transfiro-me
desconjunto-me
desarticulo-me
desmancho-me
em acentos e em sílabas
porque não dói cair
o que dói é
manter o prumo
12/07/2007
11/07/2007
Página 161
«No entanto, não extraía dessa conclusão teórica forças suficientes para fazer o que ardentemente lhe exigiam reaparecidos instintos: passar a ponta dos dedos pela acetinada pele, poisar os seus lábios matrimoniais sobre aquelas colinas e ribanceiras que antevia tépidas, odorosas e de um sabor no qual o doce e o salgado coexistiam sem se misturarem. Porém não lograva fazer nada, petrificado pela felicidade, excepto olhar e olhar. Depois de ir e vir repetidamente da cabeça aos pés daquele milagre, de percorrê-la uma e outra vez, os seus olhos imobilizaram-se, como o requintado provador que não precisa de continuar a degustar pois identificou o non plus ultra da adega, no espectáculo que só por si constituía o esférico traseiro.»
08/07/2007
Blues do outro lado do Atlântico
Densidade(s) 3
04/07/2007
Densidade(s) 2
Densidade(s) 1
27/06/2007
Cinco livros entre os demais
Recebi um convite para falar de livros. Não sei falar deles. Sinto-os. Tenho uma relação especial com eles. Não os devoro. Pego-lhes. Folheio-os de trás para a frente. Amo-os pelo cheiro, pela visão e pelo tacto. Saboreio-os. Ouço-os. Contam-me histórias. Faço amigos. Lentamente, disseco palavras, linhas, entrelinhas. Avanço, recuo. Um prazer sereno e empolgante que me vai acordando pela noite dentro.
Leio sempre, mesmo quando o livro de cabeceira - neste momento, Tango, da argentina Elsa Osório - se mantém fechado durante dias e dias. Gosto de o ter ali, à mão.
Por vezes, leio dois, três livros no mesmo período de tempo, um de cada vez, alternando entre eles. Gosto assim.
A Religiosa de Diderot marcou-me aos doze anos. Um contributo para a minha tempestade de ideias sobre a religião durante a adolescência.
Victor Hugo fascina-me com Os Miseráveis pelos volumes, pelo enredo, pela força da escrita.
O génio de Camões patente na epopeia d'Os Lusíadas intriga-me pela forma: dez cantos, 1102 estrofes que são oitavas decassilábicas, sujeitas ao esquema rímico fixo AB AB AB CC e atrai-me pelo concílio dos deuses, pelos amores de Pedro e Inês, pelo Adamastor.
Timbuktu fez-me descobrir Paul Auster, um escritor norte-americano que contraria tendências rotineiras de literaturas para consumo e já me fez companhia com O Livro das Ilusões, A Noite do Oráculo, Música ao Acaso, A trilogia de Nova Iorque.
Cem Anos de Solidão despoletou o gosto pela literatura hispânica e guiou-me pelo universo mágico de Gabriel Garcia Márquez!
Tantos outros nomes de escritores que ficam de fora, mas não menos importantes nas minha preferências literárias: Torga, Sophia, Eça de Queirós, Lobo Antunes, Saramago... poderia enumerar dezenas, centenas, portugueses e estrangeiros, que ficariam sempre alguns por referir.
Para dar sequência a esta cadeia, dirijo o meu convite aos seguintes blogues vizinhos:
Devaneios (3)
A música é, de facto, um dos catalisadores mais poderosos para unir as diferenças, para diminuir o fosso entre gerações, para alimentar esperanças.
Os 64 anos de Mick Jagger, que fazem inveja aos «barrigudos» que se foram deixando intimidar pelo peso da idade, demonstram que é possível manter-se jovem, mais por dentro do que por fora.
No final do concerto, após ter saltado tudo quanto podia, sorri quando, mesmo atrás de mim, ouvi uma voz feminina comentar: «Ai as minha costas!», ao que a colega acrescentou: «Nem me fales!». Olhei de soslaio, adivinhando duas sexagenárias. Fui obrigada a olhar de novo, desta vez sem a discrição inicial, e confirmar que seriam da minha idade, mais ano, menos ano!
Sorri novamente. As minhas nem sinal davam! Satisfeita com a revelação, fiz a viagem de regresso.
Descobri, entretanto, que o meu corpo reage lentamente e que não resiste a uma viagem de comboio de quatro horas durante a madrugada! Escusado será dizer que a recuperação prolongou-se durante a semana! Mas valeu a pena, se valeu!!!
Devaneios (2)
Devaneios (1)
A opção pelo comboio surgiu à última da hora, quando, na véspera, me lembrei de consultar a página web da CP. A última viagem de comboio tinha sido em Julho de 2002 de Vichy para Bordéus que me permitiu usufruir da paisagem, da leitura, do sono descontraído e ainda me proporcionou algumas vivências caricatas.
Sempre achei peculiar o uso de metáforas associadas às viagens de comboio que, geralmente, traduzem simbologias da vida. Estações, apeadeiros, paragens, linhas, são termos associados a modos de estar, de ser, de decidir, de pensar.
Quando dei por mim mecanicamente sentada no lugar marcado, tive a sensação estranha de viajar contra o tempo. Via a paisagem deslizar a uma velocidade rápida e irrecuperável e, por momentos, sentia-me resistir. Uma resistência inexplicável mas imprescindível.
Apercebi-me, de súbito, que essa sensação provinha do facto de viajar de costas voltadas à direcção em que seguia o comboio.
Interroguei-me: andarei eu de costas voltadas?!
Ocean's 13
Valha-nos o pretexto nobre que exalta o valor da amizade, da cumplicidade e da união para não dar como perdido o dinheiro do bilhete.
26/06/2007
um s. joão festejado como um s. antónio
Pela primeira vez e, por coincidência, acabei por passar o S. João, no Porto. Paradoxalmente, enquanto vagueava por ali, guiada por um amigo que ia recordando os velhos tempos de outros S. Joões, alheada das marteladas e dos transeuntes, a minha memória viajava até Lisboa, recuando no tempo vinte e poucos anos: imagens e cheiros transportaram-me até noitadas que acordavam nas manhãs junto ao Tejo, após a subida até ao Castelo e a descida pausada pelas paragens nos pátios para um bailarico, uma sardinha, uma imperial, num ambiente de alegria e descontracção própria da idade e adequado à festa.
Nessa altura, quem me tivesse alertado para a inexorabilidade do tempo, teria recebido como resposta risos e esperanças...
20/06/2007
Roll...roll...roll...
A minha preferida!!!
Vou lá estar, em Alvalade, dia 25... com o meu filho!
Duas gerações unidas pela música e muito mais!
Inevitável (3)
e sigo com os olhos com as mãos com a boca
a distância que nos afasta e nos une
em espontâneas convulsões de verdade
que surgem perigosas por trilhos virgens
que conciliam o claro e o escuro de nós
Inevitável (2)
é inevitável permanecer sôfrego de sentir
é inevitável conservar o impulso de respirar
impregnada de aromas de lua cheia
descanso de partidas de mim sem chegada
que se adivinham e nunca são
18/06/2007
Inevitável (1)
inevitável é olhar para o horizonte e ver os sonhos
inevitável é saborear a fantasia e degustar o êxtase
sem barreiras que impedem a visão clara do futuro
sem cortinas que embaciam a imagem do destino
a passos largos e determinados define-se
de braços abertos e sinceros constrói-se
hemisférios que oscilam num só ponto
assentes em convictos propósitos
alheados de dúvidas perenes
inevitável... até doer?!
17/06/2007
Uma pérola verde
A chuva, que caiu intensamente durante quase todo o dia, não impediu os convivas de usufruir da beleza da paisagem, da tranquilidade do espaço, do silêncio que abafava vozes prazenteiras, que traduziam o grau de satisfação com o repasto confeccionado com esmero - um óptimo bacalhau com broa e um delicioso cabrito assado -, acompanhado de um excelente vinho.
Este empreendimento é a prova de que a vontade do homem pode superar condicionalismos de relevo geográfico e pode desenhar uma harmonia natural. De salientar o bom senso que imperou quando a intenção de construir a barragem não se concretizou!
14/06/2007
Desafogo-me nas palavras, ora essa!
Após textos que falam de amor e coisa e tal, apetece-me ter um desabafo daqueles que guilhotinam emoções e criam perplexidades de manter a boca aberta durante horas!
É que, na verdade, tenho uma dificuldade enorme em manter a calma, a boa disposição, a descontracção perante atitudes que revelam, além de insensatez e ingenuidade, uma grande, mas do tamanho das pirâmides do Egipto (agora não me lembro de algo mais alto!!!), dizia eu, uma imensa e paradoxal estupidez!
Não! não lido bem com esta castração do pensamento que, não lhe bastando corroer a mente de quem a detém, atinge com imponência graus de pura insanidade, que provocam calafrios de indignação a quem tem que assistir aparvalhadamente a atitudes de quem a ostenta!
Com tantos fármacos e tanta investigação científica, ainda ninguém terá pensado em criar um antídoto para este mal humilhante da condição humana ?!
Poupo os pormenores da história e perdoem-me o exagero da linguagem que raia a altivez arrogante de quem se acha muito esperta! Mas também tenho os meus dias... haja paciência.
Agora que desabafei já me sinto bem melhor! Por isso repito amem muito, sempre!
13/06/2007
O Cupido, nem mais!
Ai, ai, ai... fui atingida em cheio!!! Uma flecha vinda do
Estou a amar-te como o frio
corta os lábios.
A arrancar a raiz
ao mais diminuto dos rios.
A inundar-te de facas,
de saliva esperma lume.
Estou a rodear de agulhas
a boca mais vulnerável.
A marcar sobre os teus flancos
itinerários da espuma.
Assim é o amor: mortal e navegável.
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um todo único metade mim, metade tu penso-te, sinto-te, adivinho-te com intensidades serenas deardor tranquilas
creio-te, suponho-te, afago-te
com veemênciasde certezas prendo-te,solto-te, medito-te
com firmezas e com amor!
É suposto nomear dez blogues e cá vai:
Charlas
O importante é que nunca se esqueçam de amar, sempre!
Un petit rien...
As palavras e as lágrimas descobriram um sentimento novo: a amizade.
11/06/2007
«memes»
Respondendo ao desafio de
amor / esperança / sonho
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Canto porque és real.
Canto o teu olhar maduro,
O teu sorriso puro,
A tua graça animal.
Canto porque sou homem.
Se não cantasse seria
somente um bicho sadio
embriagado na alegria
da tua vinha sem vinha.
Canto porque o amor apetece.
Porque o feno amadurece
nos teus braços deslumbrados.
Porque o meu corpo estremece
Por vê-los nus e suados.
O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.
Carlos Drummond de Andrade
Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?
Se tudo o que há é mentira,
É mentira tudo o que há.
De nada nada se tira
A nada nada se dá.
Se tanto faz que eu suponha
Uma coisa ou não com fé,
Suponho-a se ela é risonha,
Se não é suponho que é.
Que o grande jeito da vida
É por vida com jeito.
Fana a rosa não colhida
Como a rosa posta ao peito.
Mais vale é o mais valer,
Que o resto ortigas o cobrem
E só se cumpra o dever
Para as palavras sobrem.
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Serão Palavras
Diremos prado bosque
primavera,
e tudo o que dissermos
é só para dizermos
que fomos jovens
Diremos mãe amor
um barco,
e só diremos
que nada há
para levar ao coração
Diremos terra mar
ou madressilva,
mas sem música no sangue
serão palavras só,
e só palavras, o que diremos.
Eugénio de Andrade in “Mar de Setembro” (1961)
De amores e de esperanças navego por mares
inundados de lua e de sol
De palavras e de sonhos alimento dias e noites
Para a divulgação de outros «memes» escolho:
10/06/2007
Despedidas...
.Ontem, pela primeira vez na vida, fui a uma despedida de solteira. Apesar de não compreender a expressão no seu sentido mais amplo, fiquei a saber que se trata de um alegre e saudável convívio entre amigas (sem artefactos indecorosos, nem manifestações indecentes, nem espectáculos de cariz sexual), que fazem questão de lembrar à noiva que a partir do dia «fatal» vão acabar as «borgas» e começar as responsabilidades de esposa e de mãe, de acordo com as expectativas da sociedade... (?)
09/06/2007
Transparência(s) 3
determinado, o direito avança enquanto o esquerdo vacila
esboço olhares que atravessam opacidades frágeis e intactas
transfiguram-se em imagens translúcidas
que sem cor, sem alma, sem dor, emergem possantes
reúno aliterações e metáforas e dou-lhes a cor de madrugada
pinto-as de calor e de sorrisos que encantam inesperados duendes
esboço singulares gestos que sugerem afagos e afectos
07/06/2007
Transparência(s) 2
e deixo-a ali estática e entaipada
descalça de fantasmas piso a relva húmida de orvalhos matutinos
que em gotas se entrelaçam nas folhas decalcadas de verde
nua de hipocrisias dormentes
e esgrimo ditongos que penetram palavras ausentes de sílabas
de intenções torpes crivo o olhar alheado de visões reticentes
assombrada de invisíveis intuitos metamórficos
diluo cortinas de flores estampadas e inspiro pedaços do tempo
que um dia foi mas volta sempre
que ali esperava estática e entaipada