17/02/2010

PROTÁGORAS E O DISCÍPULO

Conta-se que Protágoras, sofista notável, admitiu na sua escola o jovem Enatlus. E como este fosse pobre, firmou com o mestre um contrato: pagaria as lições quando ganhasse a primeira causa.
Terminado o curso, Enatlus não se dedicou à advocacia e preferiu trabalhar no comércio, carreira que lhe pareceu mais lucrativa.
De quando em vez, Protágoras interpelava o seu ex-discípulo sobre o pagamento das aulas e ouvia como resposta invariável a mesma desculpa:
— Logo que ganhar a primeira causa, mestre! É do nosso contrato!
Não se conformou Protágoras com o adiamento indefinido do pagamento e levou a questão aos tribunais. Queria que o jovem Enatlus fosse obrigado, pela justiça, a efectuar o pagamento da dívida.
Ao ser iniciado o processo perante o tribunal, Protágoras pediu a palavra e assim falou:
— Senhores Juízes! Ou eu ganho ou perco esta questão! Se eu ganhar, o meu ex-discípulo é obrigado a pagar-me, pois a sentença foi a meu favor; se eu perder, o meu ex-discípulo também é obrigado a pagar-me em virtude do nosso contrato, pois ganhou a primeira causa.
— Muito bem! Muito bem! — exclamaram os ouvintes. — De qualquer modo, Protágoras ganha a questão!
Enatlus que era muito talentoso, ao perceber que o seu antigo mestre, queria vencê-lo por um hábil sofisma, pediu também a palavra e disse aos membros do tribunal:
— Senhores juízes! Ou eu perco ou ganho esta questão! Se perder, não sou obrigado a pagar coisa alguma, pois não ganhei a primeira causa; se ganhar também, não sou obrigado a pagar coisa alguma, pois a sentença foi a meu favor!
E dizem que os magistrados ficaram atrapalhados e não souberam lavrar a sentença sobre o caso.
O sofisma de Protágoras consistia no seguinte: quando convinha aos seus interesses, ele fazia valer o contrato, e quando este podia de qualquer forma prejudicá-lo, ele pretendia valer-se da sentença. Do mesmo sofisma, o jovem Enatlus lançou mão com grande habilidade.

(Não sei de onde tirei isto...)

16/02/2010

Nas nuvens


Tantos objectivos que se vão desmontando, substituídos por imprevistos que nos ensinam a viver. Um argumento que podia ser o de qualquer um de nós, com variáveis de espaço e de tempo. 

09/02/2010

Sabedoria popular

Quando enfrentamos situações de extrema pressão, socorremo-nos de todo o tipo de raciocínio lógico que, quando esgotado, nos impele a apelar a forças misteriosas capazes de nos desvendar as estranhas motivações e meandros do pensamento. Precisamos de entender o que existe no subterrâneo do comportamento porque, no fundo, é uma maneira de nos entendermos a nós próprios, enquanto seres em interacção social, e tentarmos aceitar o outro.

Apesar deste esforço, é comum não encontrarmos explicação alguma para certos acontecimentos que nos abalam como tremores de terra inesperados, com réplicas sucessivas, das quais emergem ideias que, associadas gradualmente, acabam por colocar as peças nos sítios certos do labiríntico puzzle por onde vagueia a nossa mente.

A vida ensina-nos a crescer com estes abalos emocionais e a ganhar imunidade suficiente para recuperarmos e nos fortalecermos.

E o que é certo, é que a sabedoria popular, com a sua pragmática perspectiva, acaba por simplificar e dar-nos o consolo necessário para prosseguir e enfrentarmos de novo outros sismos que, aos poucos, passamos a relativizar e a aceitar mais naturalmente, deixando de constituir a grandeza do nosso pensamento e reduzir-se à sua ínfima essência.

É caso, pois, para dizer: cá se fazem, cá se pagam; ou, quando pensamos ter encontrado todas as respostas, a vida encarrrega-se de mudar todas as perguntas; ou ainda, não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe!

Irene Ermida

07/02/2010

Inocuidade



Há momentos em que descobrimos, sem razão aparente e só porque o nosso cérebro tem mesmo de se ocupar com algum pensamento, que há pessoas inócuas… De tão inofensivas que são, transformam-se em indiferentes, como qualquer marco de correio ao lado do qual passamos todos os dias, mas em que já ninguém repara. Não nos fazem mal, mas também não nos fazem bem.
Damos conta que, apesar de serem presença assídua na nossa vida durante anos, podiam ser substituídas por outras, igualmente inócuas. E não faria diferença nenhuma. Ou seja, estão ali por estarem, porque falam, mexem e riem. Tão transparentes que até magoa; tão ocas que até dói; tão fúteis que até ofende… E vamos deixando-as estar, pois, não está na nossa natureza criativa e sumarenta, sacudir o pó de tal ausência de conteúdo.
Felizmente, há o contrário, bem mais raro, é certo, mas que compensa!  Instantes fulgurantes bastam, por vezes, para que um rosto, um olhar, um sorriso, uma palavra, irrompam pelo nosso discernimento adentro e nos provoquem emoções perpétuas e inesquecíveis. Sem esses encontros seríamos nós, igualmente, vazios de sentido.
Seres que irradiam uma energia invisível poderosa, que nos arrancam da mesquinhez e da banalidade e nos catapultam para um horizonte tão extenso e fértil, que nos fazem sentir verdadeiramente substantivos e significantes. E esse universo de sensações intensas perdura e multiplica-se, na consciência plena de que também marcamos a diferença, o que pode, evidentemente, transformar-nos no alvo de sentimentos menos nobres e no centro de situações embaraçosas.
Cabe-nos activar a lucidez e a distância em relação às tentativas de atrofia e asfixiamento do nosso estar, do nosso sentir e do nosso ser, e explorar serenamente os trilhos que nos vão surgindo. E, se no início, é tarefa penosa, acaba por ser, gradualmente, um objectivo tentador e delicioso, que compensa o esforço!

Irene Ermida

06/02/2010

«Começar a acabar»


Um belíssimo texto de Beckett numa interpretação excepcional de João Lagarto.

Como é que ficamos presos pelas palavras? Pela maneira como são escritas, mas sobretudo pela maneira como são ditas! O sentido que lhes conferimos ao interpretá-las subjectivamente e ao dar-lhes corpo e alma! A existir, a alma só existe na forma como se dizem as palavras! Não basta pensá-las e senti-las, é preciso corporizá-las em sons e só assim ganham vida!

A alternância entre o discurso demente e ilógico e o discurso lúcido e verosímil, transporta-nos à dimensão real e fantástica da dimensão do ser humano. E o amor subjacente a tudo, apesar de tudo, numa profundidade plena de sentidos!

Excelente espectáculo!

03/02/2010

Duas interpretações...








L is for the way you look at me

O is for the only one I see

V is very, very extraordinary

E is even more than anyone that you adore and



Love is all that I can give to you

Love is more than just a game for two

Two in love can make it

Take my heart and please don't break it

Love was made for me and you