31/07/2009

Luz(es) 3

tingida de espanto
olho de soslaio a raiz
que sabe a fruto

absorvente anátema
desenho flores
de vermelho e de azul

mas sou pássaro distante,
livre

e o meu canto
não é traço nem ponto
é solo árido de deserto
onde passeiam nómadas
à chuva

Irene Ermida

Luz(es) 2


e saio de mim pelo rio
que nasceu floresta no mar
sem extensão, sem espaço


imagem que me afasta e me aproxima
do centro, tímido e húmido, informe
sem perdão,

caminho entre as vozes
de silêncios

quem murmura palavras
atrás da cortina secreta
sonha-me inteira
e não sou eu que mudo o som
que não se ouve

Irene Ermida

Luz(es) 1


não há vento que me abale
nem dia, nem noite
que me atordoe

nasci árvore num continente
que podia ser africano ou asiático
ou nenhum deles, ou todos num só

é uma terra sem luz, sem rio
sem vazio

surda, ouço a cor do som
que me pinta num quadro
onde o verde é azul
e a água cega o olhar de quem não vê.
Irene Ermida



23/07/2009

Mágoas

e a propósito de nada
a meio do calor da tarde
lanças o perfume reles
de uma natureza rude e incisiva
que esquece a dor do parto



e o cordão umbilical
que fez de ti mãe
dissolve-se na amargura
e na mágoa das palavras
contundentes e injustas



Irene Ermida



02/07/2009

da autoria de Chinita

despertar 3

saio do sono montada
numa estrela cadente
já não é noite nem dia
és tu, sou eu

sem limites de horas
nem de fronteiras
não há cercas nem grades

há uma vontade de te querer.
Irene Ermida

despertar 2

um beijo que me arrasta
pelos lençóis da ternura

acorda a minha existência
em labaredas galopantes
que me consomem

até deixar o rasto de um sorriso
travesso e penetrante

bom dia, meu amor.
Irene Ermida

01/07/2009

despertar 1

um despertar lento de volúpia
beijos que se entrelaçam
no calor dos corpos e dos lábios
quero-te
livre, como uma águia

que bebe o ar quente
e a água fresca


quero ser a tua nascente.
Irene Ermida