05/04/2010

(In)expressividades 3

pálida cor de ti
estende-se na minha janela
e não mostra o mundo

esconde-se na névoa
de estar aqui
e de não ser eu
nem tu

só matéria, só sonho
sem pontos
sem dedos...

Irene Ermida

(In)expressividades 2

Imperceptível,
reconheço o som dessa voz
que me trai o pensamento

desligo a existência
embrulhada em fina folha de papel
decorada, já desbotada

de não saber nada
da alma inútil
e de frio vestida
Irene Ermida

(In)expressividades 1



sem expressão, imóvel
fixo-me na miragem de um mar
pleno de vazio sentido

serei quem fui?

sem palavra que me baste

não fui quem serei

num estranho lema
sem noite
Irene Ermida

After Dark - Os passageiros da noite

«Uma vez tomada a decisão, a coisa não é assim tão difícil quanto isso. Basta que nos separemos da realidade concreta e deixemos para trás o nosso corpo, a fim de nos transformarmos num ponto de vista conceptual, desprovido de matéria. Esse estado permite-nos atravessar toda e qualquer barreira, passar por cima do abismo mais profundo. E transformamo-nos de facto num mero ponto,atravessamos o ecrã de televisão que separa os dois mundos. Partimos deste lado e somos transportados para o outro lado. Quando passamos através da parede e transpomos o abismo, o mundo conhece uma enorme transformação, abre falhas, desmorona-se e desaparece por momentos.Tudo adquire a consistência de uma poeira fina, imperceptível, que se espalha em todas as direcções. É então que o mundo torna a reconstruir-se. Cerca-nos uma nova materialidade. E isto acontece num abrir e fechar de olhos.»

Murakami no seu After Dark, faz de nós observadores e participantes numa narrativa cativante e absorvente. As quatro horas que a leitura me ocupou, provocou-me a sensação do cinema, com a vantagem de participar, embora passivamente, no cenário! Mas sou suspeita, pois este é um dos meus escritores favoritos!